Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Kirchner, a década roubada

Apresentador do programa Periodismo para todos (“Jornalismo para todos”), o jornalista argentino Jorge Lanata lançou, em seu país, o livro 10K: A década roubada há duas semanas. Promovido como “o livro que todos esperavam”, a obra reúne denúncias contra Néstor e Cristina Kirchner. Segundo ele, a primeira edição, de 70 mil exemplares, esgotou-se em três dias.

Por que a década K é a década roubada e a década desaproveitada, conforme o senhor escreve no seu livro?

Jorge Lanata – De concreto, é uma década roubada não somente pela corrupção, mas também pela forma como não foi aproveitada. Nunca antes entrou tanto dinheiro para o Estado argentino e nunca se gastou tão mal.

No livro, o senhor diz que a prioridade do governo é fazer dinheiro…

J.L. – Essa foi uma delas. A outra era o poder pelo poder. Mas para fazê-lo houve um tipo de corrupção totalmente distinta da que vivemos na época do Menem ou em outras épocas. Antes era comum que se pedissem propinas, de 30% ou 40%. Agora, com os Kirchner, o que se faz é participar das empresas. Se quero uma autorização para ter uma estrada, o governo me dá o OK, mas logo me diz que 10% da empresa vai ser do governo. E depois todo dia 5 mandam alguém cobrar esse percentual em dinheiro vivo.

Como qualifica a liberdade de expressão na Argentina? Em seu livro o senhor é muito crítico…

J.L. – Aqui aconteceu algo que não acontecia desde os anos 50. Chamo de “a fenda”. É uma divisão que vai além do político, que se transformou em cultural. Isso faz com que haja famílias brigadas, amigos que não se falem, colegas que se odeiam. Isso foi estimulado pelo poder. Néstor e Cristina seguiam um intelectual que morreu há pouco tempo em Londres que se chamava Ernesto Laclau, uma espécie de neomarxista que planteava que é preciso criar um inimigo externo para consolidar a frente interna. Esse inimigo, na década K, foi basicamente a imprensa. Hoje uns 80% dos meios têm algum vínculo com o governo.

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Matías Bakit R., do El Mercurio