O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar as grandes empresas de comunicação e a defender a regulamentação do setor que, para ele, não reflete com fidelidade a diversidade e as transformações pelas quais o país estaria passando. Em discurso na abertura do II Congresso dos Diários do Interior do Brasil, no final da noite de terça-feira [13/5], Lula criticou também a imprensa britânica que estaria alardeando pessimismo contra a economia brasileira. Num contraponto, o ex-presidente enalteceu as mudanças de critérios de divisão da verba publicitária do governo federal e o crescimento da imprensa regional.
“No Brasil de hoje é preciso garantir a complementariedade de emissoras privadas, públicas e estatais. Promover a competição e evitar a contaminação do espectro por interesses políticos. Estimular a produção independente e respeitar a diversidade regional do país. Uma regulação democrática vai incentivar os meios de comunicação de caráter comunitário e social, fortalecer a imprensa regional, ampliar o acesso à internet de banda larga”, disse Lula.
O ex-presidente abriu o discurso com um quadro comparativo entre o noticiário dos grandes jornais e a imprensa regional. Para ele, os grandes jornais dão destaque exagerado a pequenos problemas e deixam de lado importantes avanços. O ex-presidente reclamou da abordagem sobre programas como Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos e Prouni, entre outros. Em contrapartida a visão das grandes empresas, a imprensa regional seria mais realista quando trata dos mesmo assuntos.
“Os grandes jornais nunca deram valor ao Luz Pra Todos, mas quando o programa superou todas as expectativas e alcançou 15 milhões de brasileiros, um desse jornais deu na primeira página: ‘1 milhão de brasileiros ainda vivem sem luz’. Está publicado, não é invenção”, citou Lula como exemplo de suposta distorção da realidade.
O ex-presidente criticou até parte da imprensa inglesa, que nos últimos meses tem apontado problemas na economia brasileira. Segundo ele, esses jornais e revistas estariam se preocupando demais com o Brasil quando deveriam prestar mais atenção à realidade interna. Ele disse ainda que as análises negativas da imprensa inglesa estariam sendo reproduzidas de forma acrítica no Brasil. “O país deles tem uma dívida de mais de 90% do PIB, com índice recorde de desemprego, mas eles escrevem que o Brasil, com uma dívida líquida de 33%, é uma economia frágil. Não conheço economia frágil com reservas de US$ 377 bilhões, inflação controlada, investimento crescente e vivendo no pleno emprego” disse Lula.
Relação tensa
O ex-presidente voltou a defender também a mudança de critérios na divisão da verba publicitária do governo federal. Ele conta que, em 2002, quando venceu as eleições presidenciais, a verba publicitária do governo era distribuída para 240 empresas de comunicação. Em 2009, o bolo publicitário era repartido entre 4.692 empresas.
“Uma das mudanças mais importantes que fizemos nestes 11 anos foi democratizar o critério de programação da publicidade oficial. Quero recordar que esta medida encontrou muito mais resistências do que poderíamos imaginar, embora ela tenha sido muito importante para aumentar a eficiência da comunicação de governo”, afirmou.
O ex-presidente teve relação quase marcada pela tensão com a imprensa durante seus dois mandatos. Num determinado momento, auxiliares do ex-presidente chegaram a propor um projeto de regulamentação dos meios de comunicação. Mas a proposta foi considerada uma tentativa de controle indevido dos jornais e acabou sendo deixada de lado. Nos últimos meses, o assunto voltou a ganhar força em alguns setores do PT, partido do ex-presidente.
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Jailton de Carvalho, do Globo