Por que querem que o jornalismo morra? A quem interessa a morte do jornalismo? Quem sairia lucrando com um suposto fim do jornalismo? Essas são inquietações que nascem nas recentes – e não tão recentes – comemorações acerca do fim de uma das profissões mais essenciais para a humanidade. Não interessa se o jornalismo é um dos pilares básicos de uma sociedade moderna, pois o que interessa é que ele vai morrer. Ou melhor: já está morto.
Essas percepções são realizadas quase diariamente por gurus, especialistas, críticos de mídia ou palpiteiros de internet. O foco, coincidentemente ou não, quase sempre está nos grandes meios de comunicação, nos grandes órgãos da imprensa. Basta um único erro de gramática, um simples erro de concordância ou uma leve troca na posição das letras para que, agora sim, seja jogada a pá com cal.
O modo precoce e simplório como algumas análises são realizadas nos leva a redirecionar nossos questionamentos e olhares para outros cenários. Talvez esse público ávido por uma morte não esteja esperando, nem mesmo projetando, a morte do jornalismo. Talvez essa tenha sido a forma encontrada para expor uma insatisfação com o atual momento no qual estamos inseridos, momentos de incertezas econômicas, uma política unilateral e, principalmente, a suposta concorrência das redes sociais com a imprensa.
Cenários hipotéticos
Esse último, no entanto, tem contribuído de uma forma fundamental para o balançar de pernas do jornalismo, não por ser em sua totalidade eficiente e prestativo, mas por imputar o medo nas redações. “Se uma rede social está falando sobre isso, a imprensa deve falar sobre isso.” “Se as redes sociais querem mais celebridades e menos reflexão, a imprensa deve noticiar celebridades e excluir a reflexão.” Nesse ponto, sim, poderíamos inserir a ideia de uma morte no meio jornalístico. Na verdade, morte não; suicídio.
Então, voltemos com uma das perguntas do início: quem sairia lucrando com um suposto fim do jornalismo? Ninguém. Ninguém ganha com o fato do jornalismo dito como tradicional entrar em desespero e querer se equiparar, de maneira estupefata, à velocidade das redes sociais. Ninguém ganha com o fato do jornalismo deixar de lado seu cunho social, onde contribuía para com a formação de um olhar crítico por parte da sociedade, para voltar suas atenções a um cotidiano apenas de entretenimento.
O jornalismo não está morrendo, mas em alguns setores ele está se matando. Não há fórmula mágica, mas recriar modelos com base no “oba-oba” não é sustentável. Ainda há divisão entre impresso e online até mesmo no New York Times, que em recente relatório deixou evidente que está “perdendo a guerra” contra o digital. Motivos? Um deles é o bom e velho ego. Jornalistas ainda querem seus nomes na capa da edição impressa. Isso dá status, é glamour. E enquanto isso um público ávido por sangue aplaude cada novo passo da imprensa rumo a um ambiente cada vez mais incerto.
Empresas jornalísticas estão visando lucro com base na audiência, mesmo que isso resulte em sacrifícios na qualidade editorial. Anunciantes estão migrando seus investimentos para cenários hipotéticos, pois algum guru disse que é isso que tem que ser feito. Jornalistas ainda estão perdidos entre impresso e digital, entre ego e revolução. E, por fim, o público, que no lugar de indicar pontos mais substanciais, se preocupa com erros de gramática. O jornalismo jamais irá morrer, mas sua qualidade pode vir a definhar ainda mais. E todos nós seremos cúmplices. Ação e reação. Ninguém vai poder exigir créditos de vítima no final.
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Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!