Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Refuto todo tipo de erro’

Os erros apontados pelo jornal britânico “Financial Times” não existem. Quem garante é o próprio Thomas Piketty, autor do livro “O capital no século XXI”, em entrevista ao GLOBO. Indagado sobre os questionamentos do “FT” à sua obra, o economista disse que “refuta todo tipo de erro” e que as críticas não mudam a tendência refletida nos números.

– Como disse e escrevi no site do “FT”, refuto todo erro. Aliás, as microcorreções feitas pelo “FT” às minhas séries (e que eu refuto) não mudam em nada as evoluções do conjunto e as análises do livro. Os resultados anunciados desde a publicação do meu livro mostram, ao contrário, que a concentração do patrimônio progrediu ainda mais do que se pensava até aqui, em particular nos Estados Unidos – afirmou Piketty, por e-mail.

As críticas do jornal britânico ao trabalho do economista francês renderam repercussões globais, e Piketty encontrou espaço para se defender. Procurado pela revista semanal americana “Newsweek”, ele afirmou – também em entrevista por e-mail – que o “FT” não lhe deu tempo suficiente para responder às críticas tecidas pelo editor de economia Chris Giles em relação ao livro.

“Ele não me deu tempo adequado para responder (menos de 24 horas), e o e-mail que ele me enviou não incluía boa parte do material que ia ser publicado. Volto a afirmar que não há erro ou falhas na minha série”, frisou.

A revista americana também procurou Giles, que atendeu por telefone. O jornalista explicou que o “FT” entrou em contato com o economista e com sua editora, a Harvard Press, na noite de quinta-feira, com algumas das principais questões, para serem respondidas até as 15h do dia seguinte. Porém, a réplica chegou antes do fim do horário limite, às 11h.

“Ele respondeu muito antes do prazo”, afirmou o jornalista, acrescentando que o francês não respondeu a boa parte do material e, mesmo que tivesse apresentado todas as suas questões sobre os dados do livro, “houve uma parte do material sobre a qual Piketty não respondeu”.

Editor teve aval do jurídico

Giles confirmou não ter pedido entrevista formal a Piketty e disse que a forma de tratar o assunto recebeu o aval do departamento jurídico do “FT”.

O sociólogo Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor da UnB, estuda os ricos no Brasil e acompanha o trabalho de Piketty desde 2003. Ele diz que o livro é fruto de estudos que vêm sendo desenvolvidos por mais de 20 pesquisadores de várias partes do mundo, que já tinham passado pelo crivo de revistas econômicas internacionais.

– É difícil imaginar que 20 pesquisadores estejam todos caminhando para direção errada. Pode ter havido algum erro, mas nada que desmascare Piketty.

A professora da PUC Monica de Bolle, que está traduzindo o livro para o português, diz que, em séculos de análise e números, é possível encontrar uma inconsistência. Mas nada que desmonte a tese do economista.

– Está comprovado que a desigualdade vem aumentando nos Estados Unidos. Foi muito feio o “FT” ter dito que Piketty inventou dados.

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Clarice Spitz, do Globo