Recentemente explodiu mais um conflito entre palestinos e israelenses e todos pudemos assistir, estupefatos – pela imprensa e pela televisão –, ao massacre de crianças e civis habitantes da Faixa de Gaza que caíram sob o poderio bélico de Israel. O governo brasileiro, numa decisão acertada, convocou nosso embaixador em Tel Aviv para prestar esclarecimentos acerca do conflito e dos excessos praticados pelos israelenses na guerra, sobretudo as atrocidades praticadas em face dos civis.
O ato brasileiro, normal e corriqueiro no mundo diplomático e que representa uma desaprovação à conduta da nação onde trabalha o embaixador, não foi recebido muito bem por Israel que, representado por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, demonstrou sua fúria e indignação alcunhando nossa nação de “anão diplomático”.
A expressão utilizada, absolutamente imprópria e desrespeitosa no tratamento que uma nação soberana há de despender a outra, traduziu a insatisfação de Israel e o episódio, ao mesmo tempo, revelou uma característica positiva de nossas ações perante o conflito, qual seja, a independência. Enquanto diversas nações, por subserviência econômica ou política aos EUA, simplesmente “fecham os olhos” diante da trágica situação e evitam recriminar os reiterados excessos israelenses contra os palestinos, nosso país, numa postura altiva, demonstra não se intimidar perante a influência que Israel, e seu grande e histórico aliado, os EUA, têm na comunidade internacional.
As opressivas e violentas ações israelenses no conflito, sempre desproporcionais e destruidoras, contam com uma repugnante conivência da comunidade internacional, que pouco ou nada faz para coibi-las, de modo que ações “inesperadas” como a do Brasil causam incômodo, pois evidenciam que nem todos os povos são “cegos” e indiferentes aos massacres que as forças de Israel impingem aos palestinos.
Muitas outras nações são anãs
O Brasil, embora desrespeitado, sai, do ponto de vista diplomático, fortalecido do episódio. Indiscutível é que não se pode adotar uma postura hipócrita e omissa perante um conflito em que escolas com centenas de crianças são bombardeadas enquanto elas dormem. Ao chamar o embaixador para pedir esclarecimentos, nosso governo demonstrou que o legítimo direito israelense de se defender não há de se converter num direito de exterminar inocentes, que foi o que aconteceu no mais recente conflito.
Em verdade, no conflito Israel-Palestina há um autêntico anão diplomático que, embora econômica e politicamente poderoso, esquiva-se de assumir sua responsabilidade em recriminar e coibir massacres de inocentes. São os EUA, cuja forte ligação com Israel lhes retira qualquer isenção cabendo-lhes ainda a sórdida obrigação de defender, perante a comunidade internacional, as abusivas e cruéis ações dos israelenses no conflito.
Se o mundo da diplomacia não fosse polarizado e dominado pelos EUA, ao nosso país restaria lugar de destaque enquanto um contrapeso às ações e opressões daquela poderosa nação e de seus aliados. Mas por enquanto nos satisfaz saber que nosso país não se alinha ao discurso hipócrita de muitas nações favoráveis aos abusos israelenses e não fecha os olhos à dor dos palestinos.
O Brasil pode ser um anão na relevância diplomática, porém muitas outras nações são anãs no respeito ao ser humano.
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Hugo Amaral é advogado