Culpar a imprensa pelos grandes males causados à sociedade nada mais é do que um equívoco. Generalizar a crítica, como se o jornalismo não prestasse mais, como se empresas jornalísticas todas estivessem a serviço de interesses conspiratórios, demonstra a preguiça e o fatalismo de quem não respeita ou sequer conhece a história desta profissão. Atualmente, o que se vê é um bombardeio não apenas aos veículos, mas a profissionais de imprensa por cometerem um crime considerado imperdoável: trabalhar.
A profissão do jornalista passou a ser questionada por muitos setores da sociedade. Isso é ótimo. Mas tem sofrido tentativas de banalização pela questão de o diploma não ser mais necessário. A justificativa mais descabida é que jornalismo se aprende na prática – e não na teoria. Acontece que uma coisa não exclui a outra. Num mundo onde a leitura e a escrita passaram a ser quase um sacrifício – e não uma necessidade – o compromisso acadêmico deveria ser obrigatório, e não facultativo.
O que acontece agora é que até mesmo a prática vem sendo escorraçada de onde deveria ser seu livre território: a rua. Por ironia, a justificativa para agredir jornalistas é que eles são representantes de veículos que, segundo seus agressores, policiais ou manifestantes, adotam linha editorial que desagrada, ao mostrar a violência que acontece na rua durante os protestos. Acreditam que registrar é distorcer a realidade. Para manifestantes, o repórter que cobre protestos deveria se transformar em assessor de imprensa do “ativismo”, cargo que, como se sabe, foi adotado por quem confunde sindicato com partido político.
Bombardeio velado
Com as manifestações, as câmeras de midiativistas passaram a ter um alcance maior pelo território da internet. O furo a bloqueios editoriais de grandes veículos permitiu que a brecha se estabelecesse. Mas há falhas. O grande erro é adotar o tom raivoso e monotemático de que a “imprensa corporativa” conspira, como se o repórter não fosse mais gente, e sim máquina. Um ser inanimado.
Por que não permanecer na prática de informar o que não está sendo tão noticiado em vez de adotar um discurso – e prática – de perseguir jornalistas? O midiativismo e o jornalismo são diferentes, mas não opostos, e devem ser praticados num território democrático onde está o povo. Chega a ser constrangedor jornalista ter que pedir para não apanhar durante o expediente. Ainda mais observado por quem se diz seu colega na teoria, mas inimigo na prática.
Infelizmente, alguns jornalistas contribuem para esse bombardeio velado contra seus próprios colegas. Por crenças ideológicas, cometem erros de paralelismo histórico, criando a fantasia de que vivemos numa ditadura, que existe um complô midiático. São estes, tanto os que já trabalharam em redações quanto os que nunca pisaram numa, que golpeiam invisivelmente seus próprios colegas, relativizando a morte de outro em prol do acolhimento de bandeira política.
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Bruno Quintella é jornalista