O artigo“A mídia e o declínio da confiança na política” (Sociologias, Porto Alegre, ano 10, nº 19, jan./jun. 2008, p. 250-273), do professor Luiz Felipe Miguel, traz uma análise interessante a respeito dos motivos pelos quais a população brasileira desconfia da classe política. Luiz Felipe credita boa parte dessa desconfiança à mídia – e a uma cobertura cada vez mais “agressiva” – que alimenta continuamente essa prevenção. Para o autor, a desconfiança não existe somente em relação aos políticos, mas acontece em relação a qualquer discurso de poder. Esse é um ponto positivo do texto, confirmado por pesquisa anual do Ibope que mede o nível de confiança dos cidadãos nas instituições. Em 2013, as principais instituições perderam boa parte da confiança dos brasileiros após os protestos de junho, inclusive a própria mídia.
No texto, são ressaltados aspectos e motivos da desconfiança do principal em relação ao agente em três vertentes: a desconfiança se deve ao cinismo dos cidadãos atuais; à ampliação de sua percepção crítica; ou a uma queda efetiva na qualidade da classe política.
Nas hipóteses formuladas para explicar o porquê da elite política ser tão mal avaliada no Brasil, Luiz Felipe Miguel aventa a possibilidade de que a mídia influencia diretamente a percepção do público alimentando um círculo vicioso do quanto pior, melhor. Para o autor, “a cobertura da política pela imprensa tende a ser cínica”, o que alimenta a desconfiança excessiva do público atual. Quando uma questão política pode ser positiva para a população, a mídia tende a deturpar seu significado mostrando o “ganho” político que os parlamentares ou o governo podem obter com determinado assunto. Além disso, a desconfiança excessiva poderia ser resultado de uma percepção “cínica” dos cidadãos em relação ao mundo social. Se todos desconfiam, você também tem de desconfiar.
Falta de perspectiva de mudança
Acertadamente, o autor conclui que nossos políticos e o Congresso Nacional são considerados menos confiáveis porque a representação política formal os torna incapazes de cumprir – da maneira que o cidadão acredita ser o correto – os compromissos assumidos com o principal.
O texto mostra-se bastante atual e válido, pois traz à tona um assunto corriqueiro de maneira objetiva e bem analisada. A partir dos textos estudados em aula, arrisco-me a dizer que a volta da confiança nos políticos passaria por uma Política de Publicidade verdadeira, com valorização da accountability (tanto horizontal quanto vertical) e aprofundamento de um debate político onde o agente daria o retorno esperado ao cidadão que acreditou em suas propostas e o elegeu.
O texto nos leva a refletir sobre o descrédito que existe pela política e pelos políticos no Brasil. Ainda existe o agravante de que essa desconfiança generalizada é alimentada continuamente pelos meios de comunicação de massa que atuam diretamente dentro do ambiente cultural e político de nosso país. Infelizmente, esse comportamento – tão comum na população brasileira – enfraquece a democracia e esvazia o debate, alimentando a sensação de falta de perspectiva de mudança da nossa realidade.
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Maria Neblina Orrico Rocha é jornalista, servidora pública e mestre em Ciências Sociais