O debate com canditatos à Presidência da República realizado pela Band no dia 26 de agosto mostrou, sem dúvidas, que o eleitorado brasileiro não conta com opções diferentes: seja porque candidaturas apresentadas como modelos de governos distintos do atual são nada menos do que réplicas repaginadas do ponto de vista discursivo; seja porque as que poderiam ser encaradas como alternativas distintas usam discursos cujos conteúdos são decifráveis por poucos. Diante dessa constatação, vale mesmo é esperar pelo poder de convencimento [que, diga-se de passagem, passa pelo poder de produzir e disseminar discursos mais convincentes], do que pela compreensão e aposta em projetos para o país durante os próximos quatro anos.
Na chamada “corrida presidencial”, candidat@s tiveram a primeira oportunidade para, em rede nacional, debater com seus pares e apresentar à sociedade brasileira, especialmente ao eleitorado, as proposta de governo para o país no próximo quatriênio, através da Rede Bandeirante. No entanto, para a cidadania e/ou o eleitorado com mais “ferramentas” para decifrar discursos, foi possível perceber quão dificultoso será, para a maioria, “tomar partido” em relação a uma candidatura ou outra, considerando os programas de governo apresentados.
Nesse cenário, logo de saída foi perceptível a similitude entre as três candidaturas que despontam nos três primeiros lugares: a atual presidenta e candidata à reeleição Dilma Rousseff, encabeçada pelo PT e coligação; a ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula e também candidata nas eleições passadas à Presidência Marina Silva, encabeçada pelo PSB e coligação; e o senador e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, encabeçada pelo PSDB e coligação. Estas, de modo geral, apresentam programas de governo bem próximos, os quais coadunam com os anseios e objetivos dos grandes grupos econômicos e financeiros – leia-se sistema bancário, sistema industrial, incluído aí o agronegócio. As diferenças entre as referidas candidaturas dizem respeito, tão somente, às maneiras como apresentam suas proposições, com maior ou menor ênfase a programas assistencialistas que, infelizmente, não dão conta de solucionar as principais mazelas presentes na sociedade brasileira.
Um novo modelo de sistema educacional
Em contrapartida, outras candidaturas apresentaram discursos cujo cerne foi o rompimento desse pacto com os grupos privilegiados da sociedade brasileira – sistema bancário e industrial – como são os casos do PSOL, representada pela ex-deputada Luciana Genro – e o PV, representada pelo médico e ex-deputado Eduardo Jorge. Estes, decididamente, não falam a “língua” da maioria. Seus discursos, majoritariamente rebuscados, só comunicam para uma parcela da sociedade e/ou eleitorado já convencida de que os modelos mencionados anteriormente não são os melhores para o país. Como esperar que a maioria compreenda o significado de sistema financeiro? Ou, do mesmo modo, de “economia verde”? Essas candidaturas atuam da mesma maneira como o fazem os jornais e telejornais da mídia hegemônica, sobretudo nas páginas e editorias de política e de economia, dirigidas a setores segmentados [leia-se privilegiados no que se refere à condição de interpretar as referidas mensagens].
Esse cenário é deveras preocupante, visto que, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 141.699.132 eleitores, 5% não são alfabetizados, 30% não completaram o ensino fundamental e 19% não completaram o ensino médio. Portanto, considerando o nível de instrução que infelizmente impera no sistema educacional formal brasileiro, há que se admitir a dificuldade de uma grande parte dessas pessoas para decifrar certos discursos, seja para perceber que traduzem interesses de setores privilegiados, ou para identificar uma possível alternativa.
Sendo assim, a decisão nas urnas ficará muito mais por conta do grau de convencimento dos discursos do que do grau de discernimento do eleitorado, o que se configura como um grande prejuízo para a sociedade brasileira. E, nesse cenário, fica, mais uma vez, expressa a necessidade premente que tem o Brasil de construir um novo modelo de sistema educacional. No entanto, a pergunta mais coerente a se fazer é: como?
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Verbena Córdula Almeida é doutora em História e Comunicação no Mundo Contemporâneo pela Universidad Complutense de Madrid e professora adjunta do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, Ilhéus-Bahia, Brasil