Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Selfies’, conspirações e o fim dos tempos

No final de julho, algumas matérias da Folha de S.Paulo foram citadas em duas listas de discussão de que participo, onde geraram comentários e uma troca de mensagens que me permitiu experimentar, na prática, como certas ações de ciberguerra se desdobram nos fronts midiático e psicológico. Este artigo descreve aquela experiência, cuidando pela privacidade dos demais participantes. 

Numa das listas, onde se discute segurança digital, uma mensagem foi postada com o link “Selfies de soldado russo sugerem operação militar de Moscou na Ucrânia“. Quase ao mesmo tempo na outra, esta sobre direito e informática, o mesmo link veio acompanhado de um texto perguntando se os leitores tinham visto a notícia do “soldado russo que tirou selfies em operações militares na Ucrânia”, arrematado com uma tirada filosófica, no sentido de que nosso mundo estaria ficando “muito transparente!”

Depois de ter lido essa matéria da Folha, ocorreu-me a primeira observação: o espaço em branco entre um link e um comentário, este à guisa de contexto, foi suficiente para transformar uma mera sugestão de identificação, localização, nacionalidade e função de um loiro fardado aparecendo num selfie que caiu na web, em comprovação transparente de operação militar de uma potência nuclear em solo estrangeiro ameaçando outra.

Depois de duas semanas de contínua enxurrada de matérias demonizando Putin e a Rússia na mídia corporativa do ocidente, com mais uma matéria apócrifa a Folha de S.Paulo seguia nessa mesma toada. Mesmo com todas, desde o primeiro vídeo que circulou horas depois do acidente, eventualmente desmascaradas como forjadas, com persistência goebbeliana essa blitz desinformativa vai ganhando propagação de credulidade. Com o mesmo padrão repetido, de fontes em redes sociais ou sites americanos e montagem com ferramentas controladas por agências de três letras, agora o Buzzfeed e o Instagram. Ao saltar um espaço em branco, aquela sugestão apócrifa na Folha vira operação militar transparente numa lista sobre Direito. Só por que a desova é pelo maior jornal impresso do Brasil? 

Hoje a maioria das pessoas parece ter esquecido como as guerras modernas começam. Já faz tempo que as grandes guerras começam com ataques de bandeira falsa. Nessa blitz desinformativa, as fontes confiáveis que restam estão no jornalismo independente e alternativo que ainda existe na internet. Inclusive com testemunhos, neste caso até diretos. Reagi então postando em ambas listas dizendo isto, com base em outro link, este para um artigo de Joachim Hagopian no portal da Global Research explicando o que são ataques de bandeira falsa e como têm sido cada vez mais úteis para deflagrar grandes guerras, por serem eficazes no front psicológico para atiçar mentes inertes, entorpecidas ou preguiçosas e mobilizar recursos preparatórios. 

“Contradição performativa”

Por ser tão maleável aos sentimentos, a mente humana abriga essa tendência de, sempre que pode, negar ou menosprezar as más notícias inescapáveis, bem como de se agarrar a fantasias com tinturas de esperança para sustentar seus mais agudos desejos. E assim deixar-se levar, para permanecer em sua zona de conforto. Inclusive aqui, na negação do fato de que repetidamente nos deixamos assim ser enganados, por vezes movidos de sentimentos que acabam por nos lançar coletivamente em aventuras trágicas ou destrutivas. 

Na segunda lista o assunto “selfies na Ucrânia” morreu, enquanto na primeira, um quase debate emergiu a partir de certa manifestação de desconfiança. O artigo de Hagopian explicando a origem do termo “ataques de bandeira falsa”, e como estes ocorreram na história recente, atribuía a um dos principais adeptos do seu uso, Hermann Göring, uma frase que se tornou famosa a respeito:

“As pessoas sempre podem ser levadas a fazer a vontade dos líderes. Isto é fácil. Basta dizer-lhes que estão sendo atacados, denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e expor o país ao perigo. Isso funciona em qualquer país”.

Isso levou um participante a ater-se a detalhes e replicar na lista insinuando que tal artigo poderia ser tão (des)confiável quanto a sugestão apócrifa sobre o selfie na Folha, já que Göring foi ministro do Reich como comandante da força aérea, a Luftwaffe, enquanto o comandante da Gestapo era Heinrich Himmler. Uma picuinha sofista, pois os registros históricos dão conta que, antes de ir para a Luftwaffe, Göring havia fundado a Gestapo antes de Himmler vir a comandá-la. 

Ponderei então que esse tipo de diversionismo refletia justamente a atitude de distanciamento que mais teria contribuído, no sombrio cenário de crise da Alemanha pós-Versalhes, para a meteórica ascensão política do nazismo original, e o sucesso psicológico dos seus ataques de bandeira falsa. E que os que quiserem ignorar o fato de que o mesmo script está se repetindo, que o nazismo está ressurgindo para consolidar um governo supranacional tirânico e global, o faz por sua própria conta e risco. Completei explicando que meu alerta era porque, por uma dessas ironias da História, com suficiente massa crítica essa conta e risco se tornam coletivos. 

O sofisma então se aprofundou para o lado negro de um humor duvidoso. Aquele comentarista concordava que Hagopian havia de fato pesquisado bastante sobre o assunto, mas deixara de fora que o Elvis continua vivo. Deboche que não me parece pegar bem num executivo de empresa de segurança. Entra em cena então um segundo participante, que em tom moderador sugere esperarmos a “difusão dos fatos concretos”, antes de arriscarmos apressadas opiniões que podem vir a ser contraditadas. Nesse ponto um investigador competente se nortearia pela invariável questão de fundo, cui bono?, mas naquela lista parecia que o velho e surrado meme acusativo da paranoia teorizante se insinuava para disfarçar mais uma conspiração mal ajambrada.

Para benefício da dúvida, cabia indagar: O que é fato concreto? Se é percepção crível como real, então o que seria “fato concreto difundível”? Se for relato de percepção alheia crível para quem lê ou ouve, então, do que depende para ser tido como fato concreto? A “difusão de fatos concretos” depende da aceitação de narrativas como verídicas pelo receptor, o que por seu lado depende de opinião sobre consistência, credibilidade etc., tema do front psicológico da ciberguerra (informação vs. contrainformação etc). Sobre o Elvis, por exemplo, os relatos que melhor classifico como fatos concretos estão registrados em cartório civil e no cemitério de Memphis. Sobre o voo MH17, não encontro mais completos e consistentes do que os narrados no relatório especial publicado pelo portal 21st. Century Wire, em 25 de julho. Pela natureza daquela lista, as mensagens dela passam pelo front psicológico da ciberguerra. Se fôssemos esperar pela difusão objetiva de fatos concretos referentes ao voo MH17, teríamos que esperar pelo fim da ciberguerra: quem ganhá-la declara os fatos e os impõe como objetivos. 

Mas o segundo comentarista insistia. “Fato concreto” não é nem percepção. É algo ontológico, independente de percepções e crenças. Percepções críveis como reais, mas que não são fatos, existem em miragens e em paranoicos. Em algum ponto do futuro saberemos se foram os americanos ou os russos que cometeram esse terrível engano contra o avião da Malaysia Airlines na Ucrânia. Portanto, ali mesmo ele confessava: ele crê que foi engano de uma dessas partes. Eis então que o tal meme acusativo se fez explícito, enquanto a definição ontológica se desfazia: quem acha que fato concreto é percepção crível, pode ser paranoico. Enquanto quem creu numa definição ontológica de fato concreto, aplicável ao voo MH17, crê também que fatos a concretizar sobre o caso serão explicáveis como decorrentes de um engano. Uma contradição que o filósofo Jürgen Habermas classifica de performativa, contra o inescapável problema da “justificação” na epistemologia. Haja crença. 

Teoria alternativa

Um terceiro participante tenta então outra linha de moderação. Lembra que a primeira vítima de conflitos entre Estados é a verdade, sugere também que se dê tempo ao tempo para que os esclarecimentos venham, e elege o trabalho de historiadores como o mais adequado para esta vinda. Mesmo que a guerra não espere pelo trabalho dos historiadores (donde, concluo acompanhando Göring, o potencial de eficácia dos ataques de bandeira falsa). Com esperanças nesse esclarecimento, fiquei à espreita de outras fontes, e dois dias depois eis que encontro a primeira análise de um historiador investigativo sobre o caso do voo MH17, recém publicada no portal Washingtonblog.com. Pouco depois de postar um link para essa análise de Eric Zuesse, observo o primeiro comentário a respeito na lista, vindo de um outro participante: um monte de besteiras sobre fatos desconhecidos. Esse gastou menos de um minuto em cada página para julgar assim o trabalho de um historiador com vasta produção, postura que não pega bem num cientista de ponta. Apontada esta, observo: haja crença, e cegueira ideológica! 

Em seguida, o segundo comentarista volta à carga. Para ele, a caixa-preta do Boeing no voo MH17 deverá aclarar mais as evidências em pouco tempo. Quanto ao link para a análise de Eric Zuesse, este seria “também partidário”. Melhor esperar pela caixa-preta, caso os russos não a “hackeiem”, em cujo caso terá sido porque o outro lado menosprezou a segurança. Como esse comentário veio intercalado com emoticons de risadas, fiquei confuso, pois tampouco pegaria bem esse episódio ser tratado no deboche por quem deve levar a sério a defesa cibernética brasileira. Para tentar aclarar as posições naquele quase debate, pus-me então a pensar em voz alta naquela lista. 

A guerra não espera pela investigação de fatos concretos. E se ela vai ser global, e está para começar, é bom que cada um saiba onde e por que se posicionar. Para uma avaliação neutra, pediram naquela lista de segurança um historiador, e a análise que eu encontrei e linkei é de um historiador. A conclusão de Eric Zuesse, primeiro historiador a revelar seu trabalho sobre o caso, bate com o principal indício de qualquer investigação criminal competente: cui bono? Quem está fabricando justificativas para provocar uma guerra contra a Rússia, as quais vinham sendo sucessivamente frustradas pela diplomacia russa, no Irã e na Síria por exemplo? Mas como a conclusão de Zuesse atacou uma inamovível crença dos demais comentaristas naquela lista, de que a hipótese de ataque de bandeira falsa está fora de cogitação porque a queda do Boeing deve ter sido causada por algum engano, então o historiador tem que ser partidário. Mas partidário do quê?

A caixa preta do voo MH17 está em posse dos ingleses, entregue pelas autoridades malaias que a receberam dos separatistas no local da queda. Os dados das gravações e dos radares da torre de controle que ordenou o piloto a desviar a trajetória normal do voo, obrigando-o a sobrevoar a região de combate em Dombass, conforme denunciam as autoridades malaias, foram confiscados pelos militares de Kiev. Estes e os peritos ingleses, que estão nas mãos das agências de três letras americanas, algum repórter já entrevistou? Os partidários da “teoria do engano” parecem também desinteressados em saber por que as gravações da caixa preta nunca foram divulgadas, onde ou com quem estão os dados surrupiados da torre de controle de Kiev, quão essenciais são esses dados para a investigação, ou se as justificativas para essa sonegação e confisco são importantes para a lógica da conclusão. 

Quanto ao pedaço da fuselagem perfurada ao lado do poltrona do piloto por impactos iguais aos de rajadas de canhão 30mm que equipam caças, como os dois Sukhoi SU-25 ucranianos que seguiam de perto o Boeing até três minutos antes de ele sumir dos radares enquanto sobrevoava Dombass, conforme relato de um controlador de voo civil da torre de Kiev que tuitou ao vivo sobre a “série de erros” que culminou na queda, esses são fatos desconhecidos na teoria do engano porque não foram divulgados nem pela Folha nem pelo Estadão nem pela Veja nem pela Globo. Certamente porque carecem de confirmação do State Department, e, portanto, devem ser um monte de besteiras. O mesmo para o fato daquele controlador de voo ter tido sua conta no Twitter apagada logo após ter sido expulso da torre quando os dados do voo MH17 foram confiscados, e passado a sofrer ameaças contra si e sua família, e fugido às pressas para a Espanha onde tenta proteger-se sob anonimato para denunciar o que testemunhou. E para o fato de os peritos que investigam as causas da queda nunca terem se aproximado daquele pedaço da fuselagem e adjacências, onde pode ainda haver balas alojadas, a pretexto da região permanecer sob constantes ataques, que a mesma teoria atribui ao separatismo, que pelo visto estaria atacando uma região que já controla.

Essa teoria do engano parece guiar-se pelo critério do State Department no papel de árbitro final para a relevância de evidências, a serem havidas como fatos concretos na análise de casos como o do voo MH17, conforme se observa nessa acolhida à sugestão apócrifa da Folha para o “selfie da Ucrânia”. Como se pode saber se esse selfie é mesmo de um soldado da ativa no exército russo, tirado no controle de um lançador de mísseis BUK, em terreno controlado por separatistas ucranianos? Apenas pela análise de agências americanas de três letras, com blogs e ferramentas digitais que elas controlam. Doutro lado, certamente que Eric Zuesse também é partidário, conforme mostra o seu trabalho. Ele é partidário de uma teoria alternativa sobre a relevância de evidências enquanto candidatas a fatos concretos na análise de casos históricos, como este. A de que tal relevância não depende de confirmação do State Department ou de qualquer outro órgão oficial ou oficioso de propaganda, teoria que não deve ser confundida como servilismo ou alinhamento automático a Moscou. Furos de protusão alinhados e equidistantes, com 30 mm de perfeito diâmetro, não surgem na superfície de alumínio da fuselagem em ataques de foguetes ou em choques contra o solo.

Pintura nova

Como historiador, a questão de fundo aplicada a Zuesse – cui bono? – mira a independência na busca de sobrevida para a verdade, primeira vítima das guerras, sempre alvejada primeiro por quem planeja deflagrá-las. Mesmo com enfoque anti-hegemônico e supraoficial, Zuesse não traiu essa pista fundamental para defesa de sua reputação, na sua análise. Ele omitiu, por exemplo, de cogitar a tese de um possível engano ter ocorrido em ataque planejado contra o avião de Putin. Mas o diversionismo de humor duvidoso estava passando dos limites naquela lista, resvalando para uma forma delirante de cinismo. Eis que outra matéria da imprensa corporativa ocidental na mesma toada foi linkada: “Gangue de hackers russos rouba mais de um bilhão de senhas“, em que a única fonte da informação – de que a tal gangue é da Rússia – era um ucraniano que fala russo e está nos EUA ganhando dólares, cobrando para dizer se a senha de quem lhe paga está entre as “roubadas”.

Uma eloquente “voz de Cassandra” sobre as consequências desse desvario tem sido o ex-assessor presidencial para economia conhecido como pai da “Reaganomics”, Paul Craig Roberts. Escrevendo recentemente sobre essa forma delirante de cinismo, ele sentencia que os meios de comunicação corporativos no ocidente têm provado de duas, uma: ou que formam um bando de ignorantes e incompetentes, ou são um bordel que vende guerra por dinheiro. Jogam repetidamente a culpa na Rússia pela queda do avião da Malásia sem nunca apresentar provas, enquanto Washington retém tranquilamente as evidências de que Kiev foi o responsável. O propósito aí não é buscar a verdade, mas demonizar a Rússia, como escancaram as mais recentes notícias falsas desovadas. Dentre essas, Roberts destaca a de que uma coluna de tanques russos teria cruzado a fronteira da Ucrânia e sido destruída em poucos minutos por forças militares da Ucrânia, e a de que o comboio de caminhões russos com ajuda humanitária à população cercada em Dombass contém uma força de invasão oculta. 

Repórteres britânicos fabricaram essa história ou a receberam pronta de alguma agência que trabalha para construir uma narrativa de guerra. A BBC sensacionalizou a história sem investigar. A imprensa alemã, incluindo o Die Welt, destacou-a sem nenhuma preocupação com a completa ausência de evidências. A agência de notícias Reuters, também sem nenhuma investigação, espalhou-a pelo mundo. A CNN estaria transmitido diuturnamente essa história que, por várias razões, não faz o menor sentido. Primeiro porque o governo russo deixou claro que seu objetivo lá é acalmar a situação. Quando outros antigos territórios russos que fazem parte da atual Ucrânia seguiram o exemplo da Crimeia, votando sua independência e pedindo a reunificação com a Rússia, o presidente Putin se recusou. Para sublinhar sua de-escalada, ele pediu ao Parlamento russo que rescindisse sua autoridade para intervir militarmente na Ucrânia em nome das antigas províncias russas. À medida que o governo russo salienta a legalidade e o Estado de Direito, os governos de Washington e da União Europeia fazem o oposto, escalando as provocações.

Depois, se o governo russo decidisse invadir a Ucrânia, não iria enviar um pequeno grupo armado sem a proteção de cobertura aérea e forças especiais. Mobilizaria um front capaz de arregaçar as forças ucranianas, que são na maioria milícias semiprivadas organizadas pelos nazistas locais. A “guerra” duraria algumas horas, como na Geórgia, após o que a Ucrânia estaria nas mãos da Rússia, onde esteve durante centenas de anos antes da dissolução da União Soviética. Mas nenhuma imagem satelital da formação desse front acompanha no ocidente essa demonização histérica. Por último, o jornalismo independente descobriu que o governo fantoche da Ucrânia recentemente comprou, a preço de sucata, na Hungria, velhos tanques de guerra fabricados na Rússia que estavam encostados, iguaizinhos aos que aparecem destroçados nas únicas imagens que ancoram essa histeria, sem corpos ou sangue espalhados mas com pintura “russa” novinha nos cascos. Enquanto a Casa Branca disfarça dizendo que não pode confirmar a história, continua acusando a Rússia como se a palhaçada fosse fato concreto.

Revolução interna

Noutro artigo, Roberts comenta uma edição da revista The Economist que circulou em julho cuja capa traz o rosto de Putin numa teia de aranha e título “uma teia de mentiras”. Sem qualquer evidência para apoiar as ferozes acusações e demandas, a revista pede o fim do “apaziguamento” ocidental com a Rússia, e a mais dura ação possível contra Putin. Propaganda “em nível de esgoto”, cujo único propósito é conduzir o mundo à guerra. As três mais influentes revistas em circulação nos EUA, Grã-Bretanha e Alemanha – Time, The Economist e Der Spiegel – publicaram reportagens de capa cuja característica mais marcante é a de serem praticamente idênticas. A ubíqua repetição constante de mentiras deslavadas vai difundindo-as como verdades, ou fatos concretos como querem alguns, para muita gente incauta. Foi assim que a mesma elite em Washington e a mesma ”mídia no ocidente martelaram o mesmo tipo de mentiras para justificar as guerras de Washington no Iraque (armas de destruição em massa), Afeganistão (Taliban, al Qaeda), Síria (armas químicas), Líbia (várias acusações ridículas) e o extermínio com drones no Paquistão, Iêmen e Somália. As elites que mandam no ocidente não são apenas corruptas, elas estão loucas, ao acharem que podem ganhar uma guerra nuclear contra a Rússia e a China. A cidade sobre a colina, a luz para o mundo, o país indispensável e excepcional tornou-se para Roberts a casa de mentiras de Satanás, onde a verdade é proibida e guerra é o fim do jogo. 

Contudo, ao me queixar desse desvario, tive que enfrentar a questão posta: quem mesmo estaria sendo o cego ideológico naquela lista? Logo, um quinto participante tenta mais uma linha de moderação: se tiver de escolher entre ditaduras mundiais, da China, Rússia, Brasil, Reino Unido, Françaa, Japão ou EUA, ele se posicionaria ao lado dos EUA e do Brasil, pelo critério “realista”. Fui então levado a refletir sobre minhas crenças e cegueira do que é “real”. Meu posicionamento carecia de explicação, pois parecia estar sendo confundido com defesa ingênua ou deliberada do socialismo ou do comunismo. Minha cegueira ideológica tem origem na crença em Jesus Cristo como Senhor e Salvador, felizmente uma crença perfeitamente refutável, como convém aos cientistas. É a única crença religiosa que inclui teste definitivo de validade: se suas profecias, que estão em 28% da Bíblia, não se cumprirem precisamente e na totalidade, então ela terá sido uma farsa completa. Se for uma farsa, quem nela crê só terá perdido o orgulho humano; se não for, terá ganho na única esperança que restará ao fim desse teste final. 

Estudando essas profecias junto com as ciências do meu ofício, vim a crer que todas as atuais ditaduras no mundo, disfarçadas ou não, serão destruídas ou subjugadas pela que há de vir. Numa síntese hegeliana das que estão hoje plenas ou latentes, ela surgirá do conflito entre estas, na guerra mundial que está para começar. Ou, começar pra valer. O capitalismo pós-industrial, com a instrumentação tecnológica a que chegamos, levou o liberalismo econômico ao fim da linha como ideologia viável e politicamente eficaz, enquanto segue elevando a eficácia política e a viabilidade do fascismo como estratégia de sobrevivência para o poder. A síntese hegeliana que é planejada e executada pelas elites satanistas que controlam as finanças do planeta, põe então em rota de colisão, como tese e antítese, as filhas gêmeas do antiliberalismo econômico, que são o fascismo e o comunismo. 

Esse plano está sendo executado à risca, com implosão controlada do último bastião do liberalismo econômico, da maior potência econômica e militar que o mundo já conheceu, os Estados Unidos e seus satélites na União Europeia (UE) e OTAN. Essa implosão entrou em fase crucial com a eleição de Barack Obama, cuja tarefa principal é destruir o marco liberal das constituições dos EUA e (indiretamente) o da UE, para implantar um regime transitório fascista cujo principal desafio será “gerenciar” o estouro das bolhas financeiras e a derrocada do dólar como reserva de valor e moeda dominante no comércio global, e que será teleguiado à implosão por agentes comunistas infiltrados. Nas linhas de comando, Obama recebe ordens de Valerie Jarrett, que por sua vez recebe ordens do Partido Comunista dos EUA, que por sua vez recebe ordens de comitês centrais da cabal satânica, aos quais também estão subordinados Vladimir Putin, na Rússia, e algumas famílias de banqueiros chineses. O auge desta implosão requer uma revolução interna sangrenta nos EUA, cujos destroços deixarão a nação irreconhecível como aquele bastião.

Horizonte intelectual

Nos capítulos 38 e 39 de seu livro, o profeta Ezequiel diz a Gog e aos povos de Magog que numa guerra de conquista eles serão trazidos aos montes de Israel, onde os exércitos de sua aliança serão destruídos sobrenaturalmente. Os aliados de Magog nessa frustrada tentativa de invasão serão Elam (Irã), Phut (Líbia), Cush (Etiópia), Gomer e Togarmah (Turquia), e a limpeza do campo de batalha levará sete anos. Esta talvez seja a segunda das nove guerras profetizadas para o fim dos tempos, sendo a da batalha de Armagedon, em Apocalipse 16, a oitava, e a guerra das nações vizinhas para aniquilar Israel, em Salmos 83, a primeira. Essa primeira talvez inclua a destruição de Damasco, profetizada em Isaías 17, e suceda o desastre ambiental ou ataque contra Elam (sul do Irã, onde se localiza a central nuclear de Natanz), profetizado em Jeremias 49:34-39.

Gog é o título da potestade com ascendência sobre a terra de Magog, nome hebraico do povo que habitava o sul da atual Rússia desde 1000 a.C. Na profecia de Ezequiel, a alegoria para descrever como Gog e Magog serão atraídos à guerra é com azóis nos queixos:

“…e te farei voltar, e porei anzóis nos teus queixos, e te levarei a ti, com todo o seu exército, …” Ez 38:4

“…e te farei voltear, e te porei seis anzóis, e te farei subir das bandas do norte, e te trarei aos montes de Israel.” Ez 39:2 (A.R.C. 2009)

Ainda não sabemos quando irá começar essa fase da História que a Bíblia chama de fim dos tempos, referindo-se aos tempos de dispensação da Graça, nem a ordem exata em que os eventos profetizados se sucederão, mas os sinais de que se aproximam vão ficando mais nítidos a cada dia que passa. Essa demonização cínica e delirante no front psicológico, atualmente pressionando a Rússia contra a parede geopolítica por exemplo, bem cabe na alegoria dos anzóis que a fisgarão nos queixos, para ser arrastada à escalada cinética dessas guerras finais. E os sinais de que tal escalada será devastadora estão não só nos detalhes profetizados, há mais de 2.500 anos, sobre como será a limpeza daquele campo de batalha (em Ez 39:8-16), mas também no alcance global da destruição mútua entre os principais protagonistas, como revelado em Ez 39:6Basta observar que a palavra “ilhas” em hebraico se referia também a terras existentes além do mar Mediterrâneo, das quais Tarsis (Grã-Bretanha), por exemplo, já era conhecida, e detalhes sobre tal devastação profetizados em outras passagens, como em Zc 14:12, por exemplo.

“…e enviarei fogo sobre Magog e entre os que habitam seguros nas ilhas; e saberão que eu sou o Senhor.” Ez 39:6 (A.R.C. 2009)

Meu posicionamento aqui tem o propósito de um testemunho cristão, e o sentido de um apelo: para que os leitores e estudiosos das artes militares que ainda creem na viabilidade incondicional do liberalismo econômico não se deixem levar por tal crença, pois serão eventualmente traídos, quer por regimes fascistas, quer por regimes comunistas, que se infiltram e se camuflam nas farsas democráticas contemporâneas mas que hoje, através de táticas goebellianas, onde lhes convém são praticamente irreconhecíveis como tal. Os membros da claque satânica conhecida por Comissão Europeia, senhores da atual guerra econômica por exemplo, não são eleitos; e as sanções não valem para as maiores corporações multinacionais. Para os que alcançam o horizonte intelectual desses tempos, como o cientista político John Mearsheimer, professor e especialista em segurança internacional na Universidade de Chicago, é como se o liberalismo econômico tivesse enlouquecido. Para os que creem nessas profecias, a esperança não está, nem pode estar, em nenhum poder ou inteligência material coletiva; está no Reino que Jesus Cristo irá pessoalmente implantar na terra após aquele período que ele chamou, em Mateus 24, de Grande Tribulação. A cegueira minha é esta que, como disse o apóstolo Paulo na primeira carta aos Coríntios de 1 a 3, é loucura para os que não creem. E bendita a esperança para os que creem no Evangelho do Cristo.

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Pedro Antônio Dourado de Rezende é matemático, professor de Ciência da Computação na Universidade de Brasília, Coordenador do Programa de Extensão em Criptografia e Segurança Computacional da UnB, Conselheiro do Instituto Brasileiro de Direito e Política de Informática, ex-conselheiro da Free Software Foundation América Latina, ex-representante da sociedade civil no Comitê Gestor da Infraestrutura de Chaves Públicas brasileira (www.cic.unb.br/docentes/pedro/sd.php)