Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O conto do horário premiado

Cerca de 30 milhões de pessoas estão vendo o horário eleitoral na TV aberta, informa o Ibope. Mas quase metade diz que vê “sem nenhum interesse”, um terço diz que tem “um pouco” de interesse, e só 20%, cerca de seis milhões de eleitores, entre uma garfada e outra, estão prestando alguma atenção às pirotecnias e armadilhas publicitárias dos filmes que custam fortunas e são os maiores gastos das campanhas.

Mas, além das maiores despesas, os filmes para TV são sempre as maiores esperanças das campanhas, “vocês vão ver quando entrar o horário eleitoral, vamos poder mostrar o que fizemos” ou “com o horário eleitoral vão me conhecer melhor e saber minhas propostas de mudanças”.

A essas alturas, talvez os estrategistas dilmistas estejam questionando o tempo, dinheiro e cargos que gastaram para conseguir 12 minutos no horário eleitoral. Sem falar no que custa produzir esses 12 minutos por dia, embora dinheiro não seja o problema da campanha. Tudo isso só para reiterar a esses seis milhões, nas faixas de menor escolaridade e renda, que o Bolsa Família vai continuar, que Dilma é sua pastora e nada lhes faltará?

Moeda de troca

Não é muito caro para chover no molhado? Não estão pagando cada vez mais e fazendo maiores bandalhas por um tempo que vale cada vez menos?

Será que só os spots de 30 segundos, que são vistos por todos os segmentos sociais durante a programação, serão capazes de decidir o jogo e justificar seu preço? Há controvérsias. Além dos 60 milhões que assistem à TV por assinatura, todo mundo está ligado na internet, as redes sociais são incontroláveis. Será que vale a pena pagar tropas digitais para virarem dia e noite trolando ofensas, difamações e slogans nas redes e pregando para convertidos? Todos já sabem: nem tudo que cai na rede é pixel.

Se Marina for ao segundo turno com dois minutos de TV, produzidos com alguns trocados, ou se vencer a eleição, esse formato do horário eleitoral gratuito, que virou moeda de troca dos partidos ao custo de 700 milhões de reais ao contribuinte, estará com os minutos contados na reforma eleitoral que a sociedade está exigindo.

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Nelson Motta é colunista do Globo