Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A globalização em disputa

O processo de globalização, com as novas tecnologias da informação, não somente modifica a forma do jornalismo impresso mundial, mas cria uma nova forma de tratar dos assuntos, considerando sua seleção e enfoque, que passa a ganhar novas dimensões e valor para as notícias (qual seria o valor-notícia nos tempos atuais?). O Brasil ganha acentuada importância neste cenário político e econômico nos fluxos informativos, considerando sua potencial liderança na América Latina, com uma triangulação entre Europa/Estados Unidos, Brasil e região (avaliando a rivalidade entre os países que acentuam as diferenças de modelos, com Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina de um lado; Peru, Chile e Colômbia de outro). Nesta relação estão as instituições e representações políticas globais. O jornalismo brasileiro ganha importância nacional e regional, com grande expressividade para os negócios internacionais e imprescindível para a opinião pública.

Um fenômeno que vem sendo observado por pesquisadores latino-americanos: cada vez mais, o jornalismo impresso (especificamente) é mais acessível a milhares de pessoas, a custo cada vez mais em conta, diferentemente do que ocorria nos tempos do papel, que viajava de caminhão e ônibus, a noite inteira, para chegar às portas de seus leitores. Hoje, mais vale a audiência do que exatamente o retorno da vendagem por unidade, que sempre foi uma realidade do jornalismo, mas com modificações em tempos contemporâneos. Os custos do jornalismo na pós-modernidade podem ser avaliados como aquele que ganha espaço na preservação da ordem global, o qual cada vez mais passa pelas regiões, uma espécie de periferia do sistema, com base nos centros de proliferação da economia global. A publicidade está na ordem do discurso pragmático jornalístico, numa perspectiva além-fronteiras.

Importante observar o papel das instituições que ganham cada vez mais importância neste cenário de informação, que preservando modelo social, com formação de representação política e alterações culturais. Cada vez mais a academia forma intelectuais que se apresentam nas mídias com vozes, organizadas a partir de determinadas referências do estado do bem-estar social. Isso evidentemente espalhado pelo mundo, e, sobretudo, na América Latina, cuja população está sempre em movimento e contestadora de uma hegemonia econômica dos grandes centros. Muitas vezes são projetos externos, na visão moderna global, ambiciosos de destituir governos, alterar comportamentos de consumo e enraizar costumes pouco cristalizados nas culturas locais. Uma disputa que passa também pelas mídias brasileiras e ganha grande importância sistêmica. Portanto, academia e jornalismo vão se tornando porta-vozes de uma determinada ordem institucional, numa escala cada vez maior. Neste meio, devem ser consideradas as diversas ONGs espalhadas pelo mundo.

Mediador privilegiado

Como análise possível, o jornalismo caminha para efetivar sua marca de confiança, cujo retorno está efetivamente no maior índice de audiência, qualificada, capaz de difundir conhecimento e credibilidade, diferenciando quem pode falar com representatividade ou não; ou seja, a divisão das fontes das narrativas credíveis e não credíveis (heróis e anti-heróis). Os recursos para manutenção dos grandes jornais, nesta perspectiva não necessariamente deve ser observado como poder aquisitivo de seu leitor, mas a relação neste mundo em disputa, com reflexos inexoráveis nas trocas econômicas no superlativo. Necessário observar a linha de pensamento que ordenam determinados grupos de jornais e revistas, cuja premissa passa pelas lógicas econômicas como a visão inovadora de uma sociedade do século 21, sem cogitar os grandes problemas que surgem diariamente.

Uma realidade de conflitos se forma provocada pela globalização econômica, de maneira natural e inevitável. Neste sentido, as guerras nas políticas internas separando grupos populacionais, tornam-se uma constante, como se efetiva na Ucrânia, Escócia e mesmo na Venezuela. A premissa é a do modelo a ser estabelecido, na perspectiva do mais moderno, que significa mais produção, mais educação, tecnologia. Pouco embate nas diferenças sociais, alterações culturais, com marginalização. Efeitos causados por considerar que homens e mulheres ressentem de mudanças na sociedade, territorialidade e modelo da economia. Neste sentido, a comunicação de ideias, ou seja, o mediador passa a não ser um simples mensageiro, mas o condutor de uma ordem social, que começa antes mesmo do texto jornalístico, passando por sua mediação, com consenso de uma disputa determinada previamente.

Paradoxalmente, assim sendo, o jornalismo ganha cada vez mais importância, se considerando que é neste espaço público, que se efetiva o debate, mais complexo e importante, de modo que a sociedade por si só não consegue observar os fenômenos, cada vez mais efêmeros no tempo, que não para. Pode parecer que não há mudanças, pois o jornalismo sempre esteve na ordem do dia da população, mas agora, como nunca visto, é o mediador privilegiado, sem substituto, por ora. Exigindo meticulosamente entender sua mensagem proposta em consenso e entrar nas disputas de ideias, na ordem social, neste ciclo descrito. Esta matriz narrativa, que os grandes jornais fazem uso, estaria no princípio desta disputa, que se modifica, num processo recorrente e diário.

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Antonio Sebastião Silva é jornalista, mestre pela PUC-SP, doutorando UnB e professor da UFMT (Campus Araguaia)