Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Dilma diz que imprensa distorceu seu discurso na ONU

A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, passou mais de duas horas, nesta sexta-feira, com oito blogueiros simpáticos ao governo do PT e criticou duramente a imprensa. Além de dizer que setores da mídia fazem oposição ao Palácio do Planalto, Dilma afirmou que o noticiário distorceu seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Na abertura da entrevista, transmitida ao vivo pelas canais de comunicação da campanha, a presidente defendeu a regulação econômica dos meios de comunicação.

Provocada pelos blogueiros, Dilma afirmou ainda que mudará de postura num eventual segundo mandato e passará a se contrapor ao noticiário:

– É uma situação no Brasil… Por isso, eu cheguei a conclusão, na minha campanha, que a verdade vai vencer a mentira. Eu tenho tentado. Agradeço àqueles que me ajudam. Acredito que terá de haver um embate mais sistemático – afirmou Dilma, quando foi interrompida por um dos entrevistadores, cobrando mais respostas do governo.

E concluiu:

– Vou ter de dar mais respostas. Não pode ser tão bem comportada, me levaram para outro caminho que eu não queria.

Para Dilma, o palanque eleitoral permite um diálogo direto com a população. Segundo ela, o cargo de presidente não abre esse canal com a sociedade.

– Tem um detalhe interessante nessa história de eleição. Na eleição, você tem um palanque direto, que é seu, não é filtrado. Veja, eu fiz um discurso na ONU. O meu discurso na ONU foi integralmente, mas integralmente, distorcido. Eu, com o cargo de presidente, o meu palanque não faz. Isso é uma realidade – afirmou.

Dilma disse que setores da oposição fazem oposição ao governo e pregam “o quanto pior melhor”. Mas, para a presidente, não é só no Brasil que a imprensa assume o papel de oposição ao governo.

– O que temos de ver é que tem no Brasil uma forma de fazer oposição que é uma forma que tem de ser denunciada: que é a forma do quanto pior melhor. Tem uma parte da imprensa que é oposição.

O que não posso deixar de reconhecer é que a oposição também faz – disse.

A presidente defendeu ainda regulação econômica dos meios de comunicação, mas disse que isso não significa controle de conteúdo. Segundo Dilma, a Constituição proíbe a concentração da propriedade dos veículos de imprensa.

– Regular qualquer segmento tem uma base, que é a base econômica. Concentração de poder econômico dificilmente leva a relações democráticas e leva a relações assimétricas, tanto assimétricas de poder, assimétricas de formação e assimétricas de prepotência, em qualquer área. Não há porque a comunicação ser diferente – afirmou.

Segundo ela, a liberdade de expressão é uma conquista da sociedade brasileira, e a internet ampliou esse direito.

– No Brasil muitas vezes tenta se confundir regulação econômica com controle do conteúdo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Controle de conteúdo é de país ditatorial, não é de país democrático – argumentou.

A presidente disse que a regulação dos meios de comunicação será colocada em pauta em um eventual segundo mandato. E essa proposta, segundo Dilma, “nada tem de bolivariano nisso”. A presidente defendeu a regionalização da produção e do conteúdo e a diversidade cultural.

– Mas eu acredito que esses é um dos temas do meu segundo mandato – disse.

Na entrevista, a presidente ainda tratou de saúde, de educação e do projeto do trem de alta velocidade, além de defender a Petrobras. Para Dilma, há pessoas “mal intencionadas” que querem atingir a Petrobras, para enfraquecer e atender interesses privados internacionais.

– Há coisas irreversíveis. Ninguém desmonta uma empresa que é a sexta do mundo – afirmou.

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Luiza Damé, do Globo