Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Disse, não disse

Na sexta passada (19/9), a presidente Dilma afirmou que “o papel da imprensa não é de investigar, e sim de divulgar informações”. A imprensa tomou nota e obedeceu. Ouviu a fala da presidente, dispensou-se de investigá-la e divulgou sua declaração. Aliás, nem haveria o que investigar, já que foi uma declaração para vários jornalistas ao mesmo tempo, e no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Como todos os jornais publicaram a mesma frase, supõe-se que foi exatamente o que a presidente falou e disse.

Dois dias depois, no entanto, Dilma acusou a imprensa de ter feito “uma confusão danada” com a sua declaração. Disse que não disse o que disse, mas que, ao contrário, a imprensa deve investigar, sim, “para informar e até para fornecer prova”. E foi além: “O jornalismo investigativo pode até fornecer elementos. Agora, quem faz a prova é a investigação oficial. [Sem ela,] você não consegue condenar ninguém”.

Interesse próprio

É verdade. Se, mesmo com a investigação oficial, não se consegue condenar ninguém, imagine sem. Mas foi refrescante ouvir de Dilma que ela autoriza a imprensa a investigar –até para evitar outras “confusões danadas” quando se trata de divulgar o que ela diz e, ao ser alertada para as gafes que comete, desdiz. Como isso é frequente, o aconselhável seria que a imprensa, ao ouvir suas declarações, fosse logo investigar para saber se ela declarou ou não o que declarou.

Aliás, há pouco, no Rio, num encontro com artistas em apoio a Dilma, o ex-presidente Lula também roçou o assunto. Disse que não aceitaria que se escrevesse uma biografia sua em vida, porque “seria impossível se dizer as verdades”.

O que Lula quis dizer foi que, em vida, nunca autorizaria uma biografia sua. Ora, que besteira. Não lhe faltariam autores para escrever apenas o que fosse de seu interesse.

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Ruy Castro é colunista da Folha de S.Paulo