Em 5 de outubro, o dia “D” das eleições, a notícia que estampou capas dos principais jornais do país foi a que pesquisas de intenção de voto indicavam a superação de Aécio Neves (PSDB) sobre Marina Silva (PSB) na corrida presidencial. Pela primeira vez o candidato tucano estava à frente de Marina, com uma vantagem de cerca de 3%. A apuração da votação do primeiro turno confirmou as previsões das sondagens de voto, só que com uma diferença de mais 10% dos votos de Aécio sobre Marina.
É curioso. Há menos de um mês pesquisas análogas mostravam Marina com aproximadamente 35% das intenções de voto, inclusive ameaçando a candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). Enquanto isso, Aécio estava estagnado na casa de 20%. Embora as notícias sobre as últimas sondagens de voto declarassem vantagem de Aécio, na verdade ele e Marina estavam tecnicamente empatados. Afinal, 3% está dentro da margem de erro. Sendo assim, as pesquisas de intenção de voto e o modo como elas foram divulgadas pela imprensa teriam influenciado eleitores às vésperas das eleições?
Não obstante seja difícil comprovar, sondagens de intenção de voto podem orientar de alguma forma a tomada de decisão do eleitor. Bem assim, o modo midiático como essas pesquisas são tratadas pode impactar na formação de opinião do eleitorado. Não é à toa que esses instrumentos fazem parte da trama eleitoral, porquanto emitem sinalizações de poder das campanhas e dos candidatos. Diante disso, pesquisas e reportagens apresentando a vantagem de Aécio sobre Marina teriam contribuído para selar a escolha de eleitores em dúvida.
Demarcando posições
Observa-se que, no cenário nacional, desenhou-se uma polarização esdrúxula. De um lado o PT, buscando manter o seu poderio. De outro, vários candidatos lutando contra o PT. Aécio e Marina representavam as candidaturas mais forte do movimento anti-PT. Do mesmo modo se estabeleceram dois grandes nichos de eleitores: os favoráveis e contrários ao PT. Neste contexto, parcela do eleitorado ficou apreensiva e aguardando eventos que lhe ajudassem na escolha do voto útil capaz de desbancar o PT. Com efeito, muitos votos foram decididos para Aécio ou Marina justamente no dia do pleito eleitoral.
Nesse jogo, parcela significativa do eleitorado, exatamente 33,55% apostou em Aécio como concorrente ao Planalto no segundo turno das eleições. Essa soma está acima das previsões dos institutos de pesquisa, os quais davam para ele média de 25% das intenções de voto. No entanto, os institutos de pesquisa não erram. Provavelmente as últimas pesquisas de intenção de voto fizeram com que os eleitores indecisos e os estratégicos pendessem para o lado de Aécio. Ademais, a imprensa também contribuiu para esse resultado à medida que noticiou massivamente a vantagem de Aécio sobre Marina, embora eles tivessem empatados.
Num país com mais de 140 milhões de votantes e de eleições regulares, as pesquisas de intenção de voto têm se mostrado parte da disputa eleitoral. Porém, há muito do comportamento do eleitor que dificilmente é captado por essas sondagens. Nesse espaço a mídia assume papel de destaque, porquanto os noticiários políticos têm capacidade de mexer com o imaginário do eleitorado. Em linhas gerais, o manejo desses dois mecanismos impacta relativamente no processo eleitoral.
Pesquisas de intenção de voto mostram um retrato do passado. Todavia, a forma como elas são veiculadas pela imprensa afeta o presente das eleições. Assim, para o segundo turno da corrida presidencial e de alguns governos estaduais, novamente institutos de pesquisa e imprensa estarão demarcando posições de candidatos e influenciando eleitores. Neste contexto, o eleitor não decide o seu voto sozinho.
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Alexandre Pereira da Rocha é cientista político, doutor em Ciências Sociais pela UnB