É correta a maneira como são feitas as pesquisas eleitorais no Brasil?
SIM
Não existe uma só eleição em que os trabalhos dos institutos de pesquisas não sejam questionados. Isso ocorre porque as pessoas, em geral, procuram nas pesquisas eleitorais o que elas não podem dar: o resultado das eleições.
As pesquisas indicam uma tendência, uma intenção de voto, não uma decisão de voto, que só ocorre quando o eleitor está diante da urna eletrônica. Refletem uma realidade que já aconteceu, não o futuro. Tecnicamente, é um diagnóstico, não um prognóstico.
A metodologia das pesquisas utilizada pelo Datafolha ou pelo Ibope, os dois principais institutos do país, está mais do que provada e aprovada. Funciona com excelentes índices de acerto. É só examinar as séries históricas à disposição na internet. Isso não quer dizer que elas sempre tenham acertado os resultados finais, o que é impossível.
As pesquisas de opinião exploram o mundo social revelando como ele funciona e descobrindo as conexões causais. As causas do comportamento social são perfeitamente mensuráveis.
Os institutos não podem impedir que durante o decorrer das campanhas políticas os “marquetólogos” utilizem os seus dados, eventualmente favoráveis a seus candidatos, para tentar convencer o eleitor que a eleição já está resolvida, tentando fomentar o clima de “já ganhou”.
Nem que os responsáveis pelas arrecadações das contribuições utilizem os levantamentos para solicitar mais recursos. Isso faz parte do jogo. Depois de divulgados, os dados são de domínio público e cada um pode utilizá-los para atingir os seus objetivos.
Recurso indispensável
Para as campanhas políticas, as pesquisas são um formidável instrumento se forem utilizadas corretamente para balizar uma estratégia e manter governantes e sociedade antenados com a opinião pública, inclusive alertando sobre certos desvios pouco democráticos.
Foi o que ocorreu no Peru em 2000, quando Alberto Fujimori buscava a reeleição. A vitória de Fujimori no primeiro turno desmentia as pesquisas de boca de urna, que davam pequena vantagem ao candidato de oposição, Alejandro Toledo.
A discrepância foi de 18 pontos percentuais, uma margem de erro que levaria à falência qualquer instituto de pesquisa no Brasil. Aqui, embora tenham havido desencontros entre a boca de urna e os resultados finais, nunca se chegou a uma fração desse resultado absurdo.
No caso da eleição peruana, a mão da fraude foi parada na última hora, graças às pesquisas de boca de urna. Fujimori estava com 49,9% dos votos válidos quando cedeu ao ultimato dos EUA, provocado pela ONG peruana Transparência, que tinha o apoio dos observadores da Organização dos Estados Americanos.
O Departamento de Estado americano declarou que, se não houvesse um segundo turno nas eleições presidenciais peruanas, teria dificuldades em considerar legítimo o novo mandato de Fujimori.
Para se ter ideia da trapaça que estava sendo cometida, todo o colégio eleitoral peruano na época era de 9,2 milhões de votos e, quando se deu a denúncia da ONG, o número de sufrágios contados já havia ultrapassado os 10,2 milhões. Os votos dos fantasmas e dos mortos estavam a serviço do poder de plantão, como ocorria entre nós em passado não muito longínquo.
Feitas, lidas e interpretadas corretamente, as pesquisas são um instrumento indispensável em qualquer democracia moderna.
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Ney Figueiredo, 76, consultor político, foi membro do Conselho Superior de Pesquisa de Opinião Pública da Unicamp e diretor do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação. É autor de “Diálogos com o Poder” (ed. Cultura)