O nível de agressão visto no debate presidencial desta quinta (16) é uma estratégia política deliberada das campanhas de Aécio Neves (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT). Trata-se apenas de retórica quando ambos falam em elevar o nível das discussões.
É que a esta altura da eleição, com os dois empatados, os cânones do marketing político oferecem duas opções principais.
A primeira é ter uma proposta de governo realmente muito atraente e inovadora para tentar pescar votos no eleitorado do adversário. Aécio precisa convencer parte dos dilmistas a votar nele. E Dilma tem de atrair aecistas.Não é saída fácil, sobretudo porque muitos brasileiros já conhecem em linhas gerais como se comportam no poder o PT e o PSDB.
Mas sobram eleitores que declaram voto num nome sem ainda estarem muito convictos. Nesse bioma dos “quase indecisos” surge a outra opção do marketing: tentar desossar o concorrente ao máximo.
Essa estratégia pode até não levar Dilma a ganhar eleitores de Aécio ou vice-versa. Só que a enxurrada de acusações tende a causar o desalento em algum aecista ou dilmista pouco convicto. O objetivo de PT e PSDB agora é incentivar parte dos eleitores adversários a pensar “acho que não vou votar em ninguém”.
Detalhes pessoais
Pode parecer uma estratégia reducionista, mas é o que basta. Neste momento, quem consegue fazer um eleitor desistir de votar no rival já obtém uma vitória. Ainda que esse brasileiro só decida votar nulo.
Daí Aécio classificar Dilma de mentirosa e incompetente. Citar a Petrobras. Mencionar os baixos investimentos na área de segurança. E trazer também ao debate um caso pessoal: o do irmão da presidente que um dia teve um emprego público em Minas Gerais.
No caso da petista, as acusações ao tucano foram ainda mais pessoais. Para muitos, talvez Dilma tenha ultrapassado o aceitável num debate presidencial, mas a tática foi meticulosamente estudada pelo seu marketing: resta cerca de uma semana de campanha e é preciso usar ataques fáceis de serem entendidos.
Dilma tangenciou e perguntou sobre pessoas que abusam de álcool e drogas. Trouxe para a mídia de massa (a TV) o episódio em que Aécio foi barrado há alguns anos por uma blitz policial no Rio e se recusou a fazer o teste do bafômetro. O tucano estava treinado. Admitiu o erro e disse ter ficado arrependido.
Para não restar dúvidas, ao final do debate, o presidente do PT, Rui Falcão, foi explícito em entrevista ao UOL: “Todo mundo sabe que ele [Aécio] estava dirigindo embriagado”.
Até dia 26 será assim. A mando do marketing, os brasileiros saberão cada vez mais detalhes das vidas pessoais de Dilma e Aécio.
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Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo