Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Ressaca eleitoral’ e misturas pouco recomendáveis

Sob o título “Em busca da verdade”, Veja tentou desfazer a sua mais recente imersão no jornalismo marrom às vésperas do segundo turno. Na edição seguinte (2398, com data de capa de 5/11/2014), na “Carta ao Leitor”, o semanário reviu suscintamente e tentou encerrar o episódio em que acusou a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula de saberem o que se passava na Petrobras.

A única prova apresentada para validar o libelo do doleiro-delator Alberto Youssef e justificar a publicação de um trecho está na frase “seu advogado em momento algum negou esse fato”.

Sofisma canhestro, pífio, mal-intencionado: o advogado está terminantemente proibido de negar, confirmar ou comentar o depoimento do cliente porque o caso corre protegido pelo sigilo. A pretendida busca da verdade anunciada pela direção do semanário é, portanto, enganosa, arrogante. Não resiste a uma apuração decente.

Infrações midiáticas

A publicação de um trecho da delação configura-se como difamação, tentativa espúria de influir no resultado de uma eleição. Pela sua gravidade não pode ficar à espera da conclusão das investigações sobre as malfeitorias da Petrobras porque envolve não apenas a credibilidade de Veja, mas da imprensa que acolheu um texto ainda em estado de calúnia.

A ombudsman/ouvidora da Folha de S.Paulo Vera Magalhães Martins revelou em sua última coluna (domingo, 2/11) que questionou a direção da Redação e foi informada de que a informação de Veja fora checada e confirmada por duas fontes, como se esta lacônica informação numérica fosse suficiente para validar uma acusação de tamanha gravidade (ver “Apuração por telefone sem fio”).

A Folha tem uma ouvidora e leitores aguerridos que, juntos, são capazes de manter a questão do desempenho da imprensa na pauta de discussões e angústias cívicas. Mas e O Globo, TV Globo, Globonews, Estado de S.Paulo, Zero Hora, que ainda não alcançaram esse estágio de transparência? Vão contentar-se em manter seus leitores, telespectadores e assinantes alheados de um questionamento que em sociedades desenvolvidas já estaria aceso?

E a legião de colunistas e opinionistas que emprestam seus ilustres nomes para avalizar o pseudopluralismo da chamada grande imprensa? Com a exceção de Janio de Freitas, na Folha, e alguns bravos blogueiros independentes, passados dez dias da votação a tal “ressaca eleitoral” ainda não incluiu as infrações midiáticas cometidas nesta temporada. Nem as outras que provocaram o súbito questionamento do instituto da reeleição, ao contrário do que aconteceu em 1998 e 2006.

Ressacas não tratadas podem produzir efeitos perversos.

 

Ostracismo e estalo de José Sarney

Publicado no alto da nobilíssima Página Três da Folha de S.Paulo, três dias depois do fim da mais acirrada disputa eleitoral desde 1985, o mea-culpa/convocação assinado pelo ex-presidente da República foi totalmente ignorado pela imprensa (ver aqui). Nem a Folha, que durante tantos anos paparicou o ex-vice-rei do Brasil, dedicou-lhe alguma atenção. Deveria. Ali tem coisa (ver “O estalo de Sarney”).