Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

À sombra de uma Terceira Guerra Mundial?

Por que o jornalismo sucumbiu tão completamente à propaganda? Por que censura e distorção são a prática padrão? Por que a BBC é, tão frequentemente, porta voz dos poderosos mais rapaces? Por que o New York Times e o Washington Post mentem diariamente aos seus leitores-consumidores?

Por que não se ensina os jovens jornalistas a compreender as agendas dos veículos e a se contrapor a elas, denunciando a distância que separa os altos objetivos declarados e a realidade da “objetividade” mais falsa? E por que não compreendem que a essência de praticamente tudo que costumamos chamar de “imprensa dominante” nunca é informação, mas é só e sempre, poder?

Essas são perguntas que clamam por respostas urgentes. O mundo está diante do risco de grande guerra, talvez guerra nuclear – com os EUA claramente decididos a isolar e provocar a Rússia e provavelmente, em breve, também a China. Essa verdade está sendo invertida, apresentada de cabeça para baixo por jornalistas – entre os quais, é claro, também os que divulgaram como se fossem notícias, as mentiras que levaram ao banho de sangue no Iraque em 2003.

Vivemos tempos tão perigosos e tão distorcidos, para a percepção pública, que a propaganda deixou de ser, como Edward Bernays a chamou, “um governo invisível”. Ela é governo. Governa diretamente, sem medo de ser contraditada, e seu principal objetivo é nos conquistar: nosso sentido de mundo, nossa capacidade de separar mentiras e verdade.

A era da informação é, na verdade, uma era da mídia. A mídia produz guerra; a mídia censura; a mídia demoniza quem queira; a mídia vinga-se; a mídia afasta a atenção dos eleitores do que a imprensa não quer que seja sabido – a mídia é uma linha de montagem surreal de clichês de rendição e pressupostos mentirosos.

Esse poder para criar uma nova “realidade” foi construído ao longo de muito tempo. Há 45 anos, um livro intitulado The Greening of America fez furor. Na capa, lia-se: “Há uma revolução em marcha. Não será como as revoluções passadas. Dessa vez, a revolução nascerá com o indivíduo.”

Faxineiros do jornalismo

Eu trabalhava como correspondente nos EUA e lembro bem como, da noite para o dia, o autor – Charles Reich, um jovem aluno de Yale – recebeu status de guru. A mensagem era que a ação política e o trabalho de informar a verdade haviam fracassado, e só a “cultura” e a introspecção poderiam mudar o mundo.

Em poucos anos, movido pelas forças do lucro, o culto do “eu-mesmismo” já atropelara mortalmente nosso senso de ação conjunta, de justiça social e de internacionalismo. Classe, gênero e raça foram separados. Se era individualista e pessoal… era “político”. E imprensa, já então chamada “mídia”, era a mensagem.

Ao fim Guerra Fria, a fabricação de novas “ameaças” completou o serviço de desorientação política para todos que, vinte anos antes, ainda teriam constituído uma oposição veemente.

Em 2003, filmei uma entrevista em Washington com Charles Lewis, respeitado jornalista investigativo norte-americano. Discutimos a invasão ao Iraque, acontecida meses antes. Perguntei-lhe: “E se a imprensa mais livre do mundo tivesse denunciado as mentiras de George Bush e Donald Rumsfeld e investigado tudo que eles diziam, em vez de pôr em circulação tudo que, como em seguida se viu, não passava de propaganda a mais nua e crua?”

Lewis respondeu que se nós jornalistas tivéssemos feito o que era nosso trabalho e nosso dever “haveria boa, muito boa probabilidade de que os EUA não tivessem feito guerra ao Iraque.”

É conclusão estarrecedora, mas apoiada por outros jornalistas aos quais fiz a mesma pergunta. Dan Rather, ex-CBS, deu-me a mesma resposta. David Rose do Observer e consagrados jornalistas e produtores na BBC, que pediram para que seus nomes não fossem divulgados, disseram a mesma coisa.

Em outras palavras: se os jornalistas tivessem feito jornalismo, se tivessem perguntado e investigado, em vez de só repetir e amplificar a propaganda que recebiam pronta, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças não teriam morrido; milhões não teriam perdido as próprias casas; e a guerra sectária entre sunitas e xiitas não teria sido insuflada; e talvez nem existisse o famigerado Estado Islâmico.

Ainda hoje, apesar dos milhões que tomaram as ruas em protestos, a maioria das populações nos países ocidentais absolutamente ainda não tem nem ideia da escala gigante do crime que os governos ocidentais cometeram no Iraque. Menos gente ainda sabe que, nos 12 anos antes da invasão, os governos de EUA e Grã-Bretanha puseram em movimento um holocausto – negando à população civil iraquiana os meios mínimos para a sobrevivência.

Essa são as palavras do principal funcionário britânico responsável por sanções impostas ao Iraque nos anos 1990 – um cerco medieval que provocou a morte de meio milhão de crianças com menos de cinco anos, como a Unicef relatou. O nome do funcionário é Carne Ross. No Ministério de Relações Exteriores em Londres, ficou conhecido como “Mr. Iraq”. Hoje, ocupa-se de contar, afinal, a verdade, sobre como o governo britânico mentia e os jornalistas acorriam, lépidos, sempre dispostos a divulgar o mais possível toda e qualquer mentira que lhes chegasse aos ouvidos. “Alimentávamos os jornalistas com factoides que os serviços inteligência nos passavam, depois de ‘aprovados’” – disse-me ele. – “Ou os mantínhamos absolutamente longe de qualquer fato.”

O principal sentinela, durante aquele período sombrio de informação falsificada, foi Denis Halliday. Então secretário-geral assistente da ONU e alto funcionário da ONU no Iraque, Halliday renunciou ao cargo e à carreira, para não ter de implementar políticas que ele descreveu como “genocidas”. Halliday estima que as sanções impostas por EUA e Grã-Bretanha ao Iraque mataram mais de um milhão de iraquianos.

O que então aconteceu a Halliday é muito instrutivo. Foi apagado do mundo. Ou foi convertido em agente do mal. No programa “Newsnight”, da BBC, o apresentador Jeremy Paxman berrou-lhe: “Você não é defensor de Saddam Hussein?” Recentemente, oGuardian descreveu essa cena como um dos “momentos memoráveis” da carreira de Paxman. Semana passada, Paxman assinou contrato de 1 milhão de libras, para escrever um livro.

Os faxineiros da supressão do jornalismo fizeram bem feito o seu trabalho imundo. Considerem os efeitos. Em 2013, pesquisa da ComRes descobriu que a maioria da população britânica acreditava que haviam morrido no Iraque “menos de 10 mil pessoas” – fração ínfima da verdade. O rastro de sangue que vai do Iraque a Londres havia sido esfregado a golpes de mídia, até quase sumir.

Papel decisivo

Rupert Murdoch é conhecido como o chefão da “máfia midiática”, e ninguém deve duvidar do estarrecedor poder de seus jornais – são 127, com circulação somada de 40 milhões de exemplares, mais a rede Fox. Mas a influência nefasta do império de Murdoch não é maior nem mais nefasta que a influência do que se conhece como “a mídia mais ampla”.

A propaganda mais efetiva não se encontra nem no Sun nem no Fox News de Murdoch – mas nos jornais e televisões ditos “sérios”, acobertados por um halo de jornalismo liberal e supostamente “civilizado”.

Quando o New York Times publicou a notícia inventada segundo a qual Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, todos acreditaram, porque o veículo não era o canal Fox News de Murdoch: era o New York Times.

O mesmo vale para o Washington Post e o Guardian, jornais que, ambos, tiveram função criticamente decisiva no condicionamento dos seus leitores, até que aceitassem uma nova e perigosa guerra fria. Todos esses veículos da imprensa liberal falsearam o noticiário dos eventos na Ucrânia, apresentado como se a Rússia tivesse cometido algum crime – quando, na verdade, aconteceu ali um golpe fascista liderado pelo EUA, ajudado pela Alemanha e pela OTAN.

A inversão da verdade e do fato é tão generalizada que já nem se discutem, nos EUA, os movimentos de intimidação e provocação militar que Washington realiza contra a Rússia, nem se ouve qualquer oposição a eles. Não se ouve notícia alguma, todas suprimidas e censuradas por trás de uma campanha de geração de medo social, do tipo sob o qual cresci, durante a primeira guerra fria.

Mais uma vez, o império do mal vem nos pegar, liderado por um novo Stalin ou, perversamente, por novo Hitler. Escolha seu judas e pode malhá-lo até a morte.

A ocultação dos fatos reais sobre a Ucrânia é um dos mais completos blecautes de notícias de que me recordo em toda a minha vida. A maior concentração de militares ocidentais no Cáucaso e no leste da Europa, desde o final da 2ª Guerra Mundial, é escondida. A ajuda secreta que Washington deu a Kiev e às suas brigadas neonazistas responsáveis por crimes de guerra contra a população do leste da Ucrânia foi apagada do mundo. Todas as provas que desmentem a propaganda segundo a qual a Rússia teria sido responsável por abater em pleno voo um avião civil malaio com 300 passageiros foram apagadas do mundo.

E, mais uma vez, quem censura é a imprensa supostamente liberal. Sem que se apresente um único fato ou evidência, um jornalista “identificou” um líder pró-Rússia na Ucrânia como o homem que, pessoalmente, teria derrubado o avião. Esse homem, escreveu o tal jornalista, é conhecido como O Demônio. Sujeito assustador, que apavorou o jornalista. Pronto. Está tudo investigado e comprovado.

Muitos, na mídia ocidental, trabalharam duro para apresentar a população etnicamente russa étnicos que vive na Ucrânia como outsider, forasteira em seu próprio país — nunca como ucranianos que desejam ser integrados à Federação Russa, como cidadãos ucranianos em luta de resistência, diante de um golpe orquestrado contra um governo que eles elegeram.

O que o presidente da Rússia tenha a dizer não importa; é o vilão da pantomima que se pode malhar à vontade, sem consequências. Um general norte-americanos que dirige a OTAN e é perfeita reencarnação do Dr. Strangelove, o “Dr. Fantástico”. O tal generalPhilip Breedlove reclama todos os dias de invasões russas, sem um fiapo de comprovação. É a personificação do general Jack D. Ripper, de Stanley Kubrick.

Quarenta mil russos estariam reunidos na fronteira, fortemente armados, disse o Dr. Fantástico — digo, o general Breedlove. Pois foi o que bastou para alimentar o “noticiário” do New York Times, do Washington Post e do Observer – esse último, depois de ter-se destacado pelo empenho com que publicou, como se fosse informação, as mentiras e delírios que serviram de “base” para a invasão ao Iraque ordenada por Blair – como revelou um ex-repórter, David Rose.

Há quase que o “prazer espiritual” de uma reunião de classe. Os batedores-de-tambor do Washington Post são exatamente os mesmos redatores de editoriais para os quais a existência das armas de destruição em massa de Saddam Houssein seria “fato comprovado”.

“Se você se pergunta” – escreveu Robert Parry – “como é possível que o mundo tenha chegado às portas da terceira guerra mundial, do mesmo modo como chegou às portas da primeira guerra mundial há um século, tudo que tem de fazer é observar a loucura que tomou contra de virtualmente toda a estrutura político-informacional nos EUA, sobre a Ucrânia. Uma falsa narrativa de bons contra maus tomou conta de tudo desde o início. E, com o tempo, tornou-se impenetrável a qualquer fato ou informação racionalmente produzidos.”

Parry, o jornalista que investigou e expôs todo o caso Irã-”contras”, no governo Reagan, é um dos poucos profissionais que investiga o papel crucialmente decisivo desempenhado pela mídia no que o ministro de Relações Exteriores da Rússia chamou de “jogo das galinhas assustadas” [que correm cacarejando alto, antes até de saberem o que realmente está acontecendo]. Mas será mesmo jogo? No momento em que escrevo esse texto, o Congresso dos EUA está votando a Resolução n. 758 que, em resumo, ordena: “vamos nos preparar para a guerra contra a Rússia.”

Censura por omissão

No século 19, o escritor Alexander Herzen descreveu o liberalismo secular como “a última religião, embora sua igreja não seja do outro mundo, mas deste.” Hoje, esse direito divino é muito mais violento e perigoso que qualquer coisa que o mundo muçulmano produza, embora seu principal triunfo seja, talvez, a ilusão da informação livre e aberta.

Nos noticiários, países inteiros desaparecem. A Arábia Saudita, fonte do extremismo e do terror apoiado pelo ocidente, não é assunto – exceto quando reduz o preço do petróleo, e é então apresentada praticamente como associação de filantropia universal. O Iêmen sofreu 12 anos sob ataques de drones norte-americanos. Quem soube? Quem se incomoda?

Em 2009, a Universidade do Oeste da Inglaterra [orig. University of the West of England] publicou os resultados de um estudo de dez anos sobre a cobertura que a BBC dera à Venezuela. Das 304 matérias levadas ao ar, só três mencionavam qualquer das políticas socialmente mais importantes introduzidas pelo governo de Hugo Chávez. O maior programa de alfabetização em massa (que erradicou o analfabetismo na Venezuela) da história da humanidade recebeu duas linhas de comentário.

Na Europa e nos EUA, milhões de leitores e de telespectadores não sabem praticamente nada sobre as mudanças dramáticas, de melhoria na qualidade de vida que foram implantadas na América Latina, muitas delas inspiradas em Chávez. Como na BBC, também as matérias publicadas no New York Times, no Washington Post, no Guardian e no resto de toda a “respeitável” imprensa ‘séria’ no ocidente, tudo foi sempre redigido e distribuído de má fé. Zombaram de Chávez até em seu leito de morte. E fico a pensar: como se explica isso, nas escolas de jornalismo?

Por que milhões de pessoas na Grã-Bretanha aceitam e deixam-se convencer de que esse castigo coletivo chamado “austeridade” seria necessário?! Logo depois do crash econômico em 2008, o que se viu exposto foi um sistema apodrecido. Por um átimo de segundo os bancos foram “noticiados” como escroques, com dívidas para com o público, que haviam assaltado e traído.

Mas em apenas poucos meses – exceto uma poucas pedras lançadas contra “bônus” corporativos exagerados, pagos aos executivos – a mensagem já mudara completamente. As caricaturas e as críticas contra banqueiros-bandidos desapareceram da midia. E começou o tempo de glorificar algo chamado “austeridade” – para a desgraça de milhões de pessoas comuns. Houve algum dia tunga mais ousada que essa?

Hoje, muitas das bases e fundamentos da vida civilizada na Grã-Bretanha estão sendo desmanteladas, para pagar dívida fraudulenta, dívida de escroques. Os cortes de “austeridade” parecem chegar a 83 bilhões de libras. É quase exatamente o total de impostos sonegados por aqueles mesmos bancos e imprensa escroques, como a Amazon britânica e o jornal britânico de Murdoch, News UK. E os bancos dos escroques estão recebendo subsídio anual de 100 bilhões de libras, em avais, garantias e seguros grátis – dinheiro suficiente para financiar toda a Saúde Pública Nacional.

A crise econômica é pura propaganda. Hoje, a Grã-Bretanha, os EUA, grande parte da Europa, Canadá e Austrália são governados por políticos extremistas. Quem fala pela maioria? Quem está construindo a narrativa da maioria? Quem oferece informação confiável? Quem organiza e preserva registros corretos de fatos reais? Não é para isso que existem os jornalistas?

Em 1977, Carl Bernstein, apoiado na justa fama que adquiriu em Watergate, revelou que mais de 400 jornalistas e executivos da mídia trabalhavam para a CIA. A lista incluía jornalistas do New York TimesTime e das redes de televisão. Em 1991, Richard Norton Taylor, do Guardian, revelou números semelhantes, sobre seu país.

Hoje já nada disso é necessário. Duvido muito que alguém tenha tido de pagar ao Washington Post e a muitos outros veículos para que se pusessem a acusar Edward Snowden de ajudar terroristas. Duvido que alguém precise pagar os que rotineiramente ofendem Julian Assange – embora, sim, haja muitas recompensas.

Para mim, é perfeitamente claro que a principal razão pela qual Assange atraiu tanta ira, violência e inveja é que o WikiLeaks pôs a nu toda uma elite política corrupta que é mantida à tona e no poder exclusivamente por jornalistas e jornalismos. Ao inaugurar uma extraordinária era de abertura e transparência, Assange fez inimigos mortais, porque iluminar o papel dos cães de guarda da mídia e envergonhá-los. Assange tornou-se o arqui-inimigo, um alvo preferencial — mas, simultaneamente, galinha dos ovos de outro. Assinaram-se contratos lucrativos para livros e para filmes hollywoodianos, e carreiras chegaram aos píncaros da glória, nas costas de WikiLeaks e seu criador. Muita gente ganhou muito dinheiro, enquanto o WikiLeaks lutava para não morrer.

Nada disso foi mencionado em Estocolmo, dia 1ª/12, quando o editor do Guardian, Alan Rusbridger, partilhou com Edward Snowden o “Right Livelihood Award”, conhecido como o Prêmio Nobel da Paz alternativo. O mais chocante daquele evento foi que Assange e o WikiLeaks foram apagados do mundo. Como se não tivessem existido. Como se fossem não-pessoas. Ninguém falou em defesa do criador, do pioneiro absoluto do movimento de soar o alarme, de avisar do perigo mortal que se esconde na manipulação do noticiário pela imprensa. O homem que deu de presente ao Guardian um dos maiores furos de toda a história. E o mais importante de tudo: foram Assange e sua equipe de WikiLeaks quem, de fato – e brilhantemente – resgataram Edward Snowden em Hong Kong e o puseram em total segurança [em Moscou, onde hoje vive e trabalha]. Nem uma palavra.

O que tornou ainda mais gritante, irônica e desgraçada aquela censura por omissão, foi que a tal cerimônia realizava-se no Parlamento da Suécia – parlamento e autoridades cujo vergonhoso silêncio no caso construído contra Assange colaborou para um dos maiores golpes jamais assestados contra a justiça em Estocolmo.

“Quando a verdade é substituída pelo silêncio” – disse o dissidente soviético Yevtushenko – “o silêncio torna-se mentira.”

Silêncio e covardia

Esse tipo de silêncio mentira tem de ser quebrado pelos jornalistas. Que todos olhemos nossa própria cara no espelho. Temos de chamar às falas a imprensa submissa ao poder e ao dinheiro, e a psicose que mais uma vez ameaça arrastar o mundo à guerra.

No século 18, Edmund Burke descreveu o papel da imprensa como um Quarto Poder que fiscalizaria os poderosos. Não sei sequer se alguma imprensa algum dia fez tal coisa. Mas sei, com certeza absoluta, que, hoje, nenhuma faz. Acho que precisamos de um Quinto Estado: jornalismo que monitore, que desconstrua e que enfrente a propaganda e que ensine os mais jovens a defender os mais fracos e mais pobres, não os mais ricos e mais poderosos.

Para mim, jornalismo tem de ser a insurreição do saber subjugado.

Estamos diante do centenário da 1ª Guerra Mundial. Na época os jornalistas foram recompensados e prestigiados por seu silêncio e covardia. No auge do banho de sangue, o primeiro-ministro britânico David Lloyd George confidenciou a C.P. Scott, editor do Manchester Guardian: “Se as pessoas conhecessem a verdade, a guerra acabaria amanhã cedo. Mas não conhecem nem podem conhecer.”

Ainda não conhecem. Mas, com certeza, já é hora de conhecerem.

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John Pilger teve sua carreira como repórter iniciada em 1958, e ao longo dos anos tornou-se famoso pelos livros e documentários que escreveu ou produziu. Especializou-se nas áreas de jornalismo investigativo e direitos humanos.