Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O gênero forte

Em 2014, para um documentário na faculdade, captei o depoimento peculiar de uma jornalista bastante experiente na área de comunicação de massa. Ao falar sobre sua trajetória, revelou um detalhe que, certamente, é compartilhado por outras mulheres: “No início, meu pai não me deixou fazer jornalismo, pois achava que isso não era atividade de moça direita.” Somente quando conquistada a independência, ela conseguiu seguir seu sonho. É preciso dizer mais alguma coisa?

A sociedade patriarcal já não mais existe. Nem por isso os preconceitos sumiram do mapa. O jornalismo, contudo, está democratizando gradativamente essa questão de gêneros. Hoje, alguns dos profissionais mais competentes do mercado pertencem ao sexo feminino. Não por acaso. As mulheres são detalhistas, estrategistas. Fazem seu trabalho com esmero único. Ensinam muito aos homens. Em inúmeros casos, coordenam grandes equipes, mostrando força e vigor para dar vazão a extenuantes empreitadas em comunicação.

De acordo com uma pesquisa feita pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) no ano de 2012, há uma feminização do mercado. Os jornalistas brasileiros são majoritariamente mulheres brancas, solteiras, com até 30 anos. Além disso, o percentual total de mulheres trabalhando constitui 64%, contra apenas 36% de homens. O estudo foi desenvolvido por meio de enquetes feitas a 2.731 profissionais de todas as unidades da federação e do exterior.

Preconceitos velados

Em suma, mulher não é modelo de avental, cabelos presos e sorriso contagiante que fica à porta de casa esperando o marido chegar de um dia exaustivo de trabalho. Hoje ela apresenta-se agente do seu próprio destino e, em muitos casos, agrega renda familiar inclusive maior do que a do homem. Embora a presença decisiva na sociedade pós-moderna, a discussão sobre sua condição ainda é insípida. Ignoram-se constrangimentos velados, mas muito presentes. Muito há para evoluir nessa questão.

Já conheci lamentáveis casos de trabalho em que empresas deixaram de contratar funcionárias entre 30 e 40 anos por considerarem este o período decisivo de gestação. Tais episódios demonstram alguns gargalos do mercado – motivados pela ganância do lucro e movidos pelo preconceito. Ainda, atos de arrogância masculina em razão de superioridade física, procurando tornar o medo um instrumento impositivo de vontades. Nossa sociedade é machista, inegavelmente. Falta educação.

Vivemos na era das liberdades, aquela que não mais condiz com a segregação de qualquer natureza. A data, 8 de março, é um marco, uma memória para que as pessoas lembrem que todos os dias devem ser da mulher. Não significa que os outros 364 são do homem, como muitos afirmam. Que o jornalismo seja feito, cada vez mais, por elas. Que o público possa sempre dispor da sensibilidade única que lhes é inata.

Obrigado pelo rotineiro carinho e incomparável sabedoria, mulheres. O Dia Internacional já passou, mas todos os holofotes continuam visando vocês.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo