Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Informação, um direito de todos

O debate sobre o sistema de cotas raciais, espécie do gênero e ações afirmativas está morno de uns tempos para cá. Após uma sucessão de decisões favoráveis, de conselhos universitários de várias academias, nos últimos 10 anos, temos a aplicação em mais de 80 universidades públicas com um grande sucesso. Em apoio à autonomia universitária, o Judiciário, quando provocado, tem entendido majoritariamente pela constitucionalidade das cotas raciais, todos aguardando o arremate final do STF, que julgará em breve ações contrárias. Pois bem, este não é um artigo para adentrar nos argumentos de um lado e outro. A internet é campo fértil para quem procura ler algo a respeito e em seguida escolher o que seguir. Para provocar os alheios, ressalto ser hoje mais fácil defender o sistema. Digo isso ante os resultados práticos e positivos tornados públicos desde 2003.

Assim, precisamos dar um passo a mais. Agora, o debate deve voltar-se às suas consequências. Consequência de tudo aquilo pelo que lutamos e tornamos realidade, a inclusão racial. Fomos testemunhas de uma luta secular do Movimento Negro para adentrar na academia e formar assim lideranças, as quais darão sua contribuição, tantas vezes adiada. Entretanto, não podemos julgar todo este vitorioso processo por um grupo de jovens negros e negras que concluíram as primeiras turmas. O STF dará a palavra final para que outras universidades saiam de seu imobilismo excludente. A realidade destes jovens formados servirá de prova (mais uma) quando da análise dos votos dos ministros. Esta realidade deve ser trazida a público. Nossa imprensa deve sair a campo para trazer os efeitos dos primeiros vitoriosos. Infelizmente, a linha editorial de nossos principais veículos de informação é tradicionalmente contrária ao sistema. Neste caso, os leitores devem provocar os veículos de informação exigindo os dados, os quais foram amplamente contestados quando na fase de previsões catastróficas. Tragam-nos a prova do propagado fracasso ou admitam o erro. Infelizmente, admitir o erro é algo por demais difícil. O leitor observa e este Observatório também.

Resistência se dilui na consciência

No século passado, tentou-se sem sucesso propagar uma ideia baseada no seguinte preceito: “Ao branco a razão, ao negro a emoção”. Um jogo de palavras defendido pela academia, no campo das Ciências Sociais. Felizmente, não vigorou a unanimidade esperada. Aceitar este preceito seria creditar ao branco a razão, o mundo da academia, a formação da massa pensante, enfim, o universalismo das decisões. De outro lado, ao negro, este se sujeitaria ao específico. Algo como o “seu devido lugar”. O Movimento Negro forçou e rompeu esta barreira. Daí a forte resistência branca. A academia nasceu para ser universal, não apenas da cultura branca, mas de todos. Por isso o choque provocado por esta mudança aqui no Brasil.

Felizmente a resistência branca se dilui ante um mar de consciência. Consciência de um mundo verdadeiramente justo para todos. Focos de reação poderão aparecer aqui, ali e acolá, porém não interferirão na direção única da história.

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[Francisco Antero Mendes Andrade é servidor público, São Paulo, SP]