É possível imaginar que a imprensa tenha uma agenda. Afinal, seus praticantes trabalham com periodicidades regulares, para mídias que preenchem expectativas de diferentes conteúdos para milhões de pessoas.
São, em geral, empresas, com programas de trabalho razoavelmente estabelecidos e é parte integral do processo de produção a rotina da pauta de cada edição.
Mas também é possível imaginar que a imprensa não tenha uma agenda. Vive alerta, à espera de notícias que, por definição, possam influenciar de infinitas maneiras as vidas de inumeráveis grupos humanos. Nossa agenda, no fundo, é a reunião de pauta. O que borbulha é o que nos mobiliza.
É possível imaginar que o governo tenha uma agenda. Afinal ele representa o interesse do povo, do qual, como diz a Constituição Federal, todo o poder emana. Organizar-se no tempo para exercer essa emanação de poder é perfeitamente compreensível.
Mas também é possível imaginar que o governo, qualquer governo, não tenha propriamente uma agenda. Move-se em meio a crises, angustiado entre grandes sonhos e mofinas realidades. Sonha com uma agenda, mas o que tem mesmo são problemas. Com grande freqüência, começa com uma agenda e depois, na melhor das hipóteses, tem estratégias para lidar com problemas que o assediam de todas as direções possíveis. Na melhor das hipóteses, sob estas condições, foge para a frente. ‘A política é a arte de acelerar o inevitável’ , já dizia Talleyrand, o patriarca dos diplomatas.
Além disso, quem é a imprensa? A televisão, os jornais, as revistas, o rádio e, cada vez mais, a internet? Consolidou-se em grandes organizações e ao mesmo tempo fragmentou-se em dezenas de meios e infinitos formatos.
Inversamente, quem é governo? Quem o protagoniza, nos três poderes e suas radiculares ramificações hierárquicas? A que nível geográfico, em uma Federação que tenta manter coeso um semi-continente?
Explicitar a dificuldade do escopo desta análise não implica recusa à sua compreensão. Explicá-la é um primeiro movimento para mostrar como a questão é complexa. Não obstante, vale a pena tentar.
A agenda da imprensa
Se estamos falando da imprensa, tratamos de seus praticantes, e não necessariamente da chamada indústria editorial. Tratamos, portanto, do exercício profissional, e não do negócio. Referimo-nos à satisfação dos interesses e preferências dos cidadãos, e não necessariamente de audiências e mercados.
É sobre os valores da profissão que devemos nos debruçar em primeiro lugar, e não (ou só depois, ou em outro foro) sobre BNDES ou regulação da mídia, por exemplo. Estes, creio, têm a ver com o acesso a mercados, a concentração ou fragmentação de audiências, e não necessariamente sobre o processo de produção editorial e seus valores.
Esses valores encontram fundamento na aspiração política, que a sociedade brasileira possui, pela liberdade de expressão e pelo direito à informação. Este é um fato reconhecido como um princípio constitucional. Esse valor não se encontra perdido na atmosfera, rondando a mecânica celeste. Está aqui, conosco, como produto social que condiciona nossa vida comum. É só por isso que é tão importante.
Em conseqüência, ponderar a respeito da agenda da imprensa é também sondar os valores que a informam na articulação dessa agenda. Porque, dependendo de como o ofício seja exercido, a agenda se moverá para um lado ou para outro. Ela é necessariamente um alvo móvel.
Por que isso se dá assim? Porque, de um jeito ou de outro, representamos as inquietações, sonhos e aspirações de nossos leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Imaginamos que sabemos o que eles querem. Em geral, medimos mal o pouco que sabemos deles. E, no entanto, achamos que sabemos muito sobre eles, porque confiamos em que, juntos, precisam conhecer informações que nós podemos prover. Informações públicas, de interesse público e de interesse do público.
Prestamos, portanto, um serviço público. Sob este aspecto, somos servidores públicos, embora nem sempre servidores do público (quando, por exemplo, nos vemos obrigados a noticiar e perseverar na cobertura de temas impopulares). E a métrica para verificar se nossa representação é bem-feita se dá pelo mercado. Vende-se ou não se vende o conteúdo, e ponto final.
A questão da agenda começa ficar complexa a partir daqui. E isso porque há maneiras divergentes de conceber o método através do qual prestamos esse serviço. Como o método incide sobre muitos aspectos da nossa atividade, mas centralmente sobre a métrica, vale a pena nos debruçarmos sobre ele em primeiro lugar.
Afinal, como exercemos nossa profissão? Ouvimos as partes para assegurar o direito de defesa a quem está sendo acusado ou fazemos afirmações a respeito de pessoas, empresas, instituições, fiados em que sabemos o rumo que as coisas (assim mesmo, as coisas, qualquer coisa) devem tomar?
Se já sabemos o rumo, não precisamos nos dar ao trabalho de verificar nada. Já sabemos que o Estado pesa muito (ou há pouco Estado), que o único remédio para a violência urbana é a repressão (ou a inclusão social), que o técnico de um grande time de futebol deve sair (ou deve ficar) e praticamente qualquer outro assunto que mobilize a atenção do ser humano. Tomamos nossa subjetividade como a coisa mais objetiva do mundo, uma realidade empiricamente dada. Somos arrogantes.
No fundo, nossas convicções dispensam a verificação dos fatos quando pensamos assim. Ou melhor: precisamos apenas dos fatos que confirmem nossas convicções. Agir assim é mover-se pela convicção, na melhor das hipóteses, a da boa-fé (na pior, a da má-fé, não vale a pena perder tempo), de que o ser humano tem a condição de compreensão infinita do conhecimento.
É um ponto de vista dogmático, no sentido de que a trajetória humana nos conduziu das cavernas e das árvores para as culminâncias do conhecimento da vida e do universo. O conhecimento, nesta hipótese, é totalmente possível. Representa a esperança de que você sabe, ou pode saber tudo, e tudo oferecer, bem mastigado, ao seu consumidor. Você sabe o caminho, você guia. Com alguma freqüência você, repórter, editor, dono de jornal, se torna um déspota esclarecido.
Código de trânsito
Se, inversamente, você desconfia do que sabe, vai procurar mais. E se, desconfiado, oferece sua inquietação ao público, submetendo a ele tudo que achou, a ele dá a possibilidade de que julgue por si mesmo.
Há duas premissas, aqui: a primeira é a de que, embora o conhecimento possa avançar, não pode abarcar tudo. É uma espécie de ceticismo temperado pela recusa à inexorabilidade da ignorância.
A segunda é a de que, embora o conhecimento total seja impossível, a humanidade avança mediante um penoso processo de verificação em praticamente cada e qualquer área do conhecimento, das ciências às artes, da proveta à filosofia. Então, pergunto eu: e por que não no jornalismo?
Esta é uma grande bifurcação do raciocínio em que estamos envolvidos. Ou você apura, verifica, investiga os fatos, para, em seguida, submetê-los ao público, ou você segmenta, daquilo tudo que acontece, o que julga mais importante para firmar uma convicção – a sua – para o público. Eis o jornalismo da asserção, na feliz expressão de Bill Kovach e Tom Rosenstiel em The Elements of Journalism (Randon House, 2001)
Para ambos, algumas regras do jornalismo de verificação, que defendem ardorosamente, deveriam ser sagradas – como por exemplo:
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Nunca adicione nada que não deveria estar na história**
Nunca engane seu público**
Seja transparente com seus métodos e motivos**
Confie em seu próprio trabalho de investigação**
Humildade. Duvide da história.Como sabemos, nem sempre é assim. Por isso, sei que trato da grave questão do uso e abuso de poder. Como definir o que é um e o que é outro? Como evitar o abuso? É possível coibi-lo? Como?
Esta é, quem sabe, a mais grave das questões que afligem nosso exercício profissional. Um advogado, por exemplo, ao obter seu registro na OAB, adere a um código de ética sancionado por uma longa história e boas práticas consolidadas por um grande número de praticantes ao longo de muito tempo. Vale o mesmo para médicos, inúmeras outras profissões liberais e mesmo em uma atividade conexa à nossa, o Conar, que estabeleceu, há muitos anos, princípios de auto-regulamentação publicitária, que funcionam muito bem.
Em nossa profissão não temos um instrumento como esse. Não há um código, nem mesmo um manual, que, por ter sido feito pelo praticantes da profissão, possa ter uma utilização comum a todos. Princípios de apuração jornalística variam enormemente, às vezes dentro de uma mesma grande editora. Em uma, por exemplo, você ouve as partes, assegura direito de defesa a quem está sendo acusado e publica a declaração do acusado juntamente com a acusação que lhe fazem. Em outra, sai a acusação e só depois, em outra edição, vem a defesa, quando vem.
É como se vivêssemos em uma cidade com semáforos mas sem código de trânsito. Você pára quando está vermelho por prudência, pelo hábito ou o que for, porque não é sancionado se não parar. Naturalmente, se atropelar alguém, responde pelo crime, mas não há sanção pelo não uso de um código de trânsito que, em todo caso, não existe. Ou, quando existe, vigora para pequenas comunidades, sem o benefício do uso comum a todos.
Interesse público
No exercício da nossa profissão, só podemos cometer três crimes, todos contra a honra alheia, que são a injúria, a difamação e a calúnia. Matar ou roubar alguém, ainda que seja dentro de uma Redação, não tem nada a ver com a liberdade de imprensa, porque é um crime contra a vida, ou a integridade ou o patrimônio de alguém.
E como não temos formas de verificação prévia a respeito de se estamos praticando procedimentos jornalísticos geralmente aceitos, ficamos em uma espécie de terra de ninguém.
Saídas para isso existem. Uma delas, que me atrai muito, é a do Instituto dos Repórteres Investigativos. Fundado nos Estados Unidos há 30 anos, ele procura articular as melhores práticas de verificação jornalística de seus associados. Observe-se que é uma associação de profissionais, não de editoras. São jornalistas, não donos de empresas jornalísticas ou reguladores de qualquer espécie.
Defendem, entre outros, o princípio de que os jornalistas devem evitar:
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Fingir ser outro que não ele mesmo**
Obter informações de forma sub-reptícia**
Entrevista emboscada, aquela de última hora**
Exposição do comportamento privado de figuras públicas**
Fontes não identificadasA regra de ouro para aferir se um jornalista está ou não tendo a conduta correta no curso de uma investigação jornalística, é fazer a seguinte pergunta: ‘E se fosse com você?’ Ou seja: se utilizassem, para saber coisas a seu respeito, jornalista, os mesmos métodos que você está utilizando nesta apuração jornalística, você passaria no teste da integridade? Se a resposta for sim, vá em frente. Se for não, pare, pense e reflita sobre o tipo de jornalismo que está praticando.
Mas, em qualquer hipótese, a agenda da imprensa não é a agenda do governo. A primeira investiga a segunda, explora-a, pode até convergir sobre a outra, mas tem sua própria identidade. Isenta ou dogmática, independente ou prepotente, raramente será subserviente ao governo. Quando chega a sê-lo, com freqüência ainda maior é abandonada pelo público, porque sua razão de ser, na circularidade final deste raciocínio, é o público. É o que a imprensa interpreta ser o interesse público.
Há muitos problemas na própria definição do que seja este exercício de interpretação, e quem o faz, quem o controla em nome de quem, mas não é, nem pode ser o governo o autor dessa interpretação do que a imprensa julga ser o interesse público.
A imprensa procura atender ao interesse do leitor
A agenda do governo
O governo legítimo, sancionado por eleições e demais rituais democráticos (concurso para juízes e servidores, por exemplo) efetivamente representa o povo. Será tanto melhor quanto melhor fizer essa representação. E com a autoridade derivada do voto popular, considera-se a instância legítima para essa representação.
Em conseqüência, define sua agenda sobre como fará essa representação e procura segui-la, com maior ou menor grau de sucesso. Esse é seu desafio, com freqüência seu grande dilema e, às vezes, com a distância entre promessa e realidade, sua maior dor de cabeça.
De qualquer maneira, é bom que tenha uma agenda e trate de segui-la. As carências do país assim o demandam. A superação da multissecular disparidade na distribuição de renda entre ricos e pobres o exigem. A inserção do país no mundo torna inevitável a constituição de uma agenda, às vezes controversa, ou mesmo francamente contraditória, mas ainda assim inevitavelmente necessária.
Por conta de suas imensas responsabilidades o governo julga, com freqüência, que tem a precedência na definição do que devam ser as prioridades para todas as demais instituições. Às vezes é assim, como quando, por exemplo, o país se encontra em situação de grave calamidade ou guerra externa. Fora dessas situações limítrofes, o governo tem sua dose de protagonismo, mas não tem como abusar dele.
Com alguma freqüência o governo é tentado a achar que a comunicação com seus representados não está sendo feita adequadamente pela imprensa. O raciocínio parte de uma premissa falsa, que é a de que a imprensa aí está para comunicar a agenda do governo.
Apesar disso, quando conclui que não consegue se comunicar adequadamente cai, muitas vezes, na tentação de se comunicar com a sociedade por conta própria, ao largo da imprensa.
Parece-me que, às vezes, este governo cai nessa tentação. Racionam-se as entrevistas do presidente, investe-se em campanhas intensas de comunicação (vide o aniversário dos 50 anos da Petrobras) e cuida de fazer com que os propósitos do governo, suas agências, autarquias e empresas públicas falem diretamente ao povo.
Há algo de errado nisso?
A meu ver, não, porque é um direito que qualquer governante e qualquer governo têm, o de se assegurar que as mensagens-chave que querem passar estejam chegando aos públicos-alvos da maneira como seus emissores as desejam recebidas.
O problema existe quando se imagina que a comunicação será feita preferencialmente dessa maneira – ou, indo mais longe, que a imprensa, em conseqüência desse tratamento, ficará contida e inofensiva. É uma tentação, ainda mais se levarmos em conta as mazelas do exercício profissional citadas acima, combinadas, aqui sim, com as fragilidades atuais da indústria editorial.
Se você está no governo e acha que a imprensa só reage à demanda do público, claramente você fica com a sensação de que é impossível que a agenda da imprensa combine com a sua. Isso porque, sob esta ótica, a imprensa reage a uma demanda do mercado, enquanto o governo trata de satisfazer ao interesse da Nação.
Pois é aí que está o busílis: o governo atende ao interesse nacional, enquanto a imprensa atende ao interesse do leitor.
Uma imprensa que se preocupe majoritariamente com o interesse nacional poderá estar descuidando do interesse do leitor. Recentemente o jornal The New York Times publicou uma nota informando que tinha feito uma verificação do teor e qualidade de toda a cobertura que fizera da invasão norte-americana do Iraque, e descobriu que, em diversas ocasiões, deixara de lado a acuidade jornalística, aceitando como boas afirmações feitas seja por iraquianos descontentes com Saddam Hussein, seja por autoridades norte-americanas envolvidas até a medula na intensificação e aprofundamento da guerra [veja, abaixo, remissões para matérias do OI sobre o mea-culpa do NYT].
Eis aí um caso em que o assumido patriotismo de um governo, que interpreta à sua maneira o interesse nacional, é tomado como credível por um grande jornal e, anos depois, vem este jornal e admite que errou. O jornal fica mal, mas admite que errou e toca a vida em frente. Já o governo fica, como decidiu ficar, atolado em uma guerra a cada dia mais inexplicável.
Concordar em discordar
O tema é amplo e profundo, e excederia em muito a ambição deste singelo texto. Mas um ponto que vale a pena destacar é o de que não há uma regra formal para definir qual é o ponto ótimo de equilíbrio nas relações entre imprensa e governo – outra maneira de confrontar suas respectivas agendas. Ambos vivem em uma espécie de amor de porco-espinho, onde não dá nem para ficar muito longe nem para encostar demais.
O que me parece é que avançamos muito no exercício da liberdade. Não há uma sequer, das muitas previstas nos incisos do artigo 5º da Constituição, de que não estejamos usufruindo integralmente. Se um marciano descesse à Terra, chegasse ao Brasil e perguntasse: ‘Vocês têm democracia aí?’ – a resposta seria dificílima, porque, do ponto de vista das liberdades, temos todas, e as exercemos sofregamente.
Agora, se o marciano olhar sob o ponto de vista das instituições, aí a coisa muda muito de figura. E isso porque no exercício açodado das liberdades obtidas nos últimos 20 anos, cada pessoa, autoridade ou instituição procurou ocupar todos os espaços. Em conseqüência, construímos uma autêntica contradição em termos: temos liberdades, mas elas trombam e a conseqüência é que nossa democracia se torna uma espécie de exercício de intolerância cotidiana.
Diz a Constituição que vivemos em uma Federação, com três poderes independentes e harmônicos. Ora, no quesito independência estamos ótimos. Já no quesito harmonia deixamos muito a desejar.
A verdadeira tarefa de institucionalização da democracia brasileira está em construir o aperfeiçoamento das instituições civis. No caso da imprensa, isso significa obter o progressivo estabelecimento de padrões de exercício profissional que garantam ao leitor que os jornalistas não praticarão abusos durante o processo de investigação e edição de matérias polêmicas. E isso não pode ser feito a despeito dos jornalistas, ou contra eles, ou por cima deles, nem pelo governo, nem pelas empresas, nem por outras instituições. Esta é uma tarefa de jornalistas. Ainda por fazer, é certo, mas só eles podem fazê-la.
Não me refiro, aqui, à questão da regulação da atividade, seja por conta da concentração da mídia, seja pelas disparidades regionais na distribuição da informação. Este é um tema que merece debate e, eventualmente, uma agência para tratar do assunto. É um outro mundo, uma outra dimensão que envolve a discussão, que ainda está por começar, sobre como garantir a liberdade de expressão em empresas jornalísticas muito grandes, muito profissionalizadas, mas nas quais não seja franqueada aos controladores a possibilidade de abusar do imenso e crescente poder que têm – inclusive sobre os jornalistas.
Mas a definição de normas de conduta na verificação jornalística é um tema que não dispensa os jornalistas de um compromisso categórico e responsabilidades correspondentes a esse compromisso.
Do ponto de vista do governo, creio que se trata de manter abertos os canais de comunicação com a opinião pública. Ele tem a obrigação de trabalhar pelo interesse público, mas não tem como interferir sobre a definição do que a imprensa julga ser o interesse público, a não ser pelos tais canais de comunicação, limpos e abertos. Impor isso conduz, inevitavelmente, ao vexame de comunicação e, não raro, ao desastre político.
É temerário imaginar que a comunicação do governo com a Nação possa ser feita sem a mediação da imprensa. E isso se dá não por conta da imprensa, mas sim por causa da Nação. Esta aprendeu a confiar na imprensa que tem. Seus melhores veículos ainda são cheios de imperfeições e defeitos. Mas são também, não obstante, combativos, talentosos, inspirados e inspiradores e auxiliaram muito o Brasil a retornar ao regime democrático.
A quem acha que tudo isto se refere a um país distante, que ficou definitivamente para trás, lembro o precavido provérbio segundo o qual, na vida, a conclusão é prólogo. A Nação dá todos os sinais de apreço à imprensa, mesmo defeituosa, que tem.
Apesar da crise que vive, a imprensa é um fator de identidade e unidade nacional. Antonio Gramsci, o militante antifascista e editor italiano, dizia que ‘a imprensa não é a água que passa pelo cano, e sim o cano por onde passa a água’. É isso que somos: um belo e antigo encanamento, meio enferrujado aqui, meio entupido acolá, mas procuramos fazer com que a água chegue. Reinventar a roda, ir buscar água na fonte, de caneca, é uma outra opção mas,definitivamente, não é uma boa idéia.
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Jornalista, diretor secretário editorial e de relações Institucionais da Editora Abril