Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A ausência de uma cultura de paz

“Vários especialistas acreditam que a veiculação de mensagens violentas contribui para tornar o mundo mais feroz. Apesar disso, há educadores pesquisando seriamente formas pela qual a mídia poderia se transformar em um instrumento de paz” (WEIL, 1990, p. 47)

Vemos que o caos e o cosmos da mídia não estão em trabalho, em desenvolvimento. Precisamos chegar a um estado de transdisciplinaridade plena, em que sejam incentivadas – infinitamente – a criatividade e a arte. Enquanto a mídia não for vista como portadora, entre outros elementos, do inconsciente, todo o trabalho midiático vai estar incompleto. Para tanto, a cultura de paz precisa irromper. “Cabe advertir o leitor de que a educação holística para a paz não pode se limitar à sala de aula; ela é uma aprendizagem na qual se deve estimular o autodidatismo”(WEIL, 1990, p. 40).

Enquanto a cultura de paz não estiver totalmente cimentada no currículo escolar público, nada vai mudar, visto que as outras instituições sociais não resolvem tudo sozinhas. Sabe-se de escolas do ensino básico que têm hortas e muitas atividades artísticas. Tudo isso canaliza a energia construtiva.

Precisamos pensar na “base”, na infância

Tudo tem forças do inconsciente, inclusive as instituições. Ou pensamos em uma vida à luz da terapia e do trabalho das forças inconscientes, ou abrimos margem para os monstros interiores agirem cada vez mais. “`Ausência de violência e de guerra´ ou `estado de harmonia e fraternidade´ podem ser classificados como partes de uma só categoria, que diz respeito às relações entre os homens. Chama-se a isso `ecologia social´” (WEIL, 1990, p. 27).

Se o sujeito não canaliza o construtivo, o destrutivo automaticamente toma posse e opera desgraças porque o destrutivo tem o ímpeto de sair das profundezas.

“Escolas, jornais, televisão, cinema, teatro, informática e todos os veículos mais modernos seriam convidados a participar dessa reeducação das sociedades, com o objetivo de mudar efetivamente o plano das atividades coletivas. Esse é também um dos focos de ação da Unesco” (WEIL, 1990, p. 27).

Os ciclos se repetem. E o caso do Rio – entre milhões de outros e com outrem – é prova cabal. “Assim, não pode haver verdadeira paz no plano pessoal, quando se sabe que reinam a miséria e a violência no plano social ou que a natureza nos ameaça com a destruição, porque nós a devastamos”(WEIL, 1990, p. 30).

Para fatos como o do Rio, precisamos pensar na “base”, na infância. Se o sujeito retém determinadas emoções – cedo ou tarde –, aquilo tudo explode. Tudo o que não é resolvido na base se torna, inclusive, algo repetitivo, o que abre margem para espelhamentos. Espelhamentos que podem influenciar o surgimento de casos similares, tais como os dos pais que jogam crianças pela janela.

Remediar é mais barato do que prevenir

“A paz como um estado de harmonia interior, resultado de uma visão não fragmentada do saber. É uma tese de natureza espiritual, ligada às grandes tradições da humanidade, como aos recentes trabalhos da psicologia transpessoal. Caracteriza-se por ser inseparável do amor altruísta e desinteressado” (WEIL, 1990, p. 29).

Para evitar o fato lamentável do Rio, era preciso tudo: melhor educação, acompanhamento psicológico, atividades terapêuticas escolares, artes, filosofia, poesia, melhor condição econômica, oportunidades e atividades amplas de participação. “Dividimos arbitrariamente o mundo em territórios, pelos quais matamos e morremos” (WEIL, 1990, p. 20).

“E isso implica – e nós queremos que implique! – que a mesma `camada´ fundamental do inconsciente é o próprio universo. O sol, a lua e as estrelas, as montanhas, as nuvens e as águas, e até os automóveis, os aviões, e os trens, são, efetivamente, parte do `conteúdo´ do nosso inconsciente básico” (WILBER, 2007, p. 120).

O Brasil é repleto de dejetos de uma mentalidade de que remediar é mais barato do que prevenir. Mas os fatos mostram o contrário, cada vez mais. E no caso da escola pública do Rio não é diferente.

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Jornalista, Campinas, SP