A má vontade midiática com o funcionalismo público nunca foi exatamente uma novidade, mas o Jornal da Band do último dia 27/06 conseguiu se superar em seu cotidiano esforço de demonização destes trabalhadores. O jornal perdeu alguns bons minutos a criticar o ponto facultativo decretado para boa parte dos funcionários federais e de outras esferas por conta do jogo Brasil x Gana, pela Copa do Mundo. Os repórteres foram a hospitais públicos e agências do INSS com visível empenho em ecoar eventuais transtornos de pacientes e segurados, relacionando-os com a paralisação. Evidente exagero, mesmo que o tratamento tendencioso para com os servidores já seja regra na grande imprensa.
Os amigos leitores hão de concordar que é de uma cara-de-pau sem tamanho querer creditar todo o calvário vivido pelos usuários do INSS a uma tarde de futebol. Nem de longe foi mencionada a escassez crônica de funcionários, fruto da resistência do governo em efetuar contratações para não comprometer o ajuste fiscal palaciano. Tampouco se falou no arrocho salarial e na retirada paulatina de direitos a que são submetidos os trabalhadores do órgão, o que, volta e meia, os lança em longas greves.
Mensagem subliminar
Também não preciso dizer o quanto foram majorados os transtornos denunciados. Desculpem a soberba, mas falo isso com a autoridade de quem tem conhecimento de causa. Eu trabalho em um banco público que, obedecendo a uma determinação do Banco Central, reabriu suas portas meia hora depois do encerramento da partida. Para nada. Tirando-se dois ou três gatos pingados, o movimento foi pífio, praticamente inexistente. Jamais justificaria a reabertura. Não é absurdo imaginar que um posto do INSS tivesse procura igualmente desprezível. A verdade é que se esses órgãos oferecessem condições de trabalho e remuneração minimamente viáveis e tivessem a quantidade de funcionários necessária ao seu funcionamento, a demanda não seria tão grande nos dias normais e qualquer repartição poderia cerrar tranqüilamente as portas nos dias de jogo do Brasil.
O fato é que essas reportagens não têm outro objetivo fora a apologia descarada da diminuição do papel do Estado na vida nacional para que nela reinem absolutos os ditames do mercado. Além disso, elas têm o defeito adicional de minar qualquer solidariedade de classe por parte dos trabalhadores da iniciativa privada em relação aos funcionários públicos, dificultando a sua união na luta por interesses comuns. A mentirosa mensagem subliminar é que os funcionários públicos são um bando de inúteis, imprestáveis, e que é deles toda a responsabilidade pela falência do atendimento nos órgãos públicos.
Sinceramente, eu gostava mais quando a Bandeirantes vangloriava-se de ser ‘o Canal do Esporte’.
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Funcionário da Caixa Econômica Federal