Como o sindicato, os jornalistas, portais de notícias especializados em comunicação e as faculdades de Jornalismo interpretam as constantes demissões de jornalistas das redações? Geralmente, as notas de imprensa indicam apenas a quantidade de profissionais demitidos, quantos anos se dedicaram à empresa e, algumas vezes, destacam os prêmios conquistados pelos repórteres ao longo dos anos. Junto a essas notas estão as justificativas da empresa de comunicação, que são, desde o corte de gastos motivado pela diminuição da publicidade, a crise financeira, a reestruturação da empresa e o remanejamento de funções. No meio das acusações e apontamentos em ambos os lados, fica difícil saber quem está certo ou errado, quem mente ou fala a verdade.
Enquanto discutem se o jornal e as revistas impressas irão acabar, com afirmações de que os jovens não leem impressos, só querem saber de internet, ou através das negativas absurdas que cheguei a ouvir pessoalmente de um proprietário de jornal: “Jornal impresso não vai acabar porque as bibliotecas e as prefeituras precisam dos jornais para fazer arquivo dos editais que são publicados neles e das histórias que acontecem na cidade” (A frase foi exatamente essa!)
As empresas continuam cortando gasto e investimento, sejam elas através da demissão dos jornalistas mais experientes, e por isso, com os maiores salários, e enchendo a redação de estagiários que recebem pouco mais de um salário mínimo, mas após dois anos de contrato são dispensados e substituídos por outros estagiários.
Pensando desse jeito, a mentalidade executiva dos “patrões” parece ser: “Não sei o que fazer para aumentar o lucro, então vamos mandar embora os funcionários que ganham bastante, explorar os que ficarem e enquanto for possível vamos extrair o máximo de lucro que essa empresa puder nos dar.”
Discussão
Até agora temos três partes interessadas, uma delas são os sindicatos, portais/revistas e as faculdades criticando as demissões e afirmando que tais atitudes são motivadas exclusivamente pelo lucro da empresa. Do outro lado, a empresa, sempre cautelosa, responde por meio de nota de assessoria que a culpa é da migração da publicidade para a internet. E por último estão os jornalistas, empregados ou desempregados, perdidos e amedrontados quanto ao futuro incerto. Principalmente por terem ficado muitos anos próximos ao poder, e serem bajulados por eles, os jornalistas esqueceram que, apesar da enorme importância do seu trabalho, eles são operários da notícia e não aprenderam a agir sem ter uma empresa mostrando o caminho.
Analisando primeiramente o lado da empresa podemos concordar com drástica diminuição de leitores dos jornais e revistas impressas, que ainda é a única capaz de sustentar uma redação do tamanho atual (talvez não mais), além da migração da publicidade para a internet, onde as inúmeras possibilidades de veiculação de publicidade diminuíram os custos para as agências e empresas, fazendo da internet ponto estratégico.
Mas para rebater essas desculpas das empresas, os representantes contrários às demissões alegam que os “patrões” deveriam investir na formação do jornalista, ao invés de demiti-lo, e aumentar a presença na internet. Outra afirmação é que os donos das empresas pensam apenas nos lucros, mas sempre foi esse o pensamento da empresa e qualquer discussão para reverter os pensamentos dos empresários é perda de tempo. Não estou dizendo que é inútil lutar pelos direitos, pelo aumento de salário, ou os sindicatos tentarem impedir as demissões e exploração dos profissionais que continuam no emprego, isso sempre foi feito e deve continuar, o errado é pensar que essa é a solução definitiva para a profissão e esquecer que devemos nos reinventar como profissionais e buscar novos modelos de negócios, sem esquecer as características e a ética do que é ser jornalista.
Solução
Agora vamos para a solução, talvez não a exata, mas o caminho. Os jornalistas, esses mesmos jornalistas perdidos e amedrontados que eu citei no início do texto, precisam aprender a pensar “fora da caixa”, discutirem e se organizarem.
Infelizmente no Brasil são poucas as revistas ou instituições que discutem seriamente novos caminhos para a profissão. Das que eu conheço, temos a revista de jornalismo da faculdade ESPM, o Observatório da Imprensa, alguns livros, a maioria são traduções, e há também as grandes empresas jornalísticas tradicionais que correm atrás das repostas para seu negócio, mas compartilham muito pouco dos seus conhecimentos.
Mas o que realmente falta para o jornalismo no Brasil são instituições como a Columbia Journalism Review, a Nieman Foundation, de Harvard, e principalmente a Knight Foundation, que financiam projetos inovadores no jornalismo, mesmo aqueles projetos sem grande expectativa lucro, mas que importante para uma profissão considerada como a “vigia da democracia”. Como por exemplo, o The Local News Lab, financiado pela Knight Fundation, um projeto voltado para encontrar sustentabilidade para o jornalismo das pequenas redações, além de estudarem maneiras de como engajar a comunidade com o jornalismo.
Outro obstáculo é o pensamento acomodado que é semeado nas faculdades de jornalismo, onde a grande maioria dos estudantes ainda acredita que para ter sucesso após a formação é preciso conseguir um estágio, pegar o diploma, entrar em uma empresa legal, ir subindo de cargo ou indo para outras empresas maiores até chegar as grandes mídias ou no cargo dos sonhos. Isso vale tanto para as empresas jornalísticas, quanto para as assessorias de comunicação.
Esses estudantes deveriam ser motivados a pensar diferente, deveriam ser influenciados por professores que abram sua mente para novas possibilidades. E talvez eles mesmos possam encontrar o caminho ainda não descoberto, o modelo de negócio inovador, ou adaptar o modelo tradicional e torná-lo economicamente sustentável no meio digital. É extremamente necessário entender que não é mais preciso esperar que uma empresa encontre a solução.
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Fernando do Carmo é estudante de Jornalismo