Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A caixa-preta dos fichas-sujas

Os chamados jornais de circulação nacional voltam a destacar a campanha contra a candidatura de políticos com problemas na Justiça. Nas edições de quinta-feira (29/7), tanto o Globo quanto o Estado de S.Paulo e a Folha dedicam mais de uma página cada um à cobertura das ações da Justiça Eleitoral e dos ativistas pelo combate à corrupção.


O Globo destaca o caso do Maranhão, onde o Tribunal Regional Eleitoral parece não ter tomado conhecimento da nova lei que pretende moralizar minimamente as eleições e está concedendo licença a candidatos que haviam sido impugnados pelo Ministério Público Eleitoral. ‘Na contramão da Ficha Limpa’, diz o título da reportagem, anunciando como a nova legislação vem sendo interpretada na terra de José Sarney. No entendimento do presidente do TRE maranhense, a lei não pode ser aplicada a casos passados, o que torna inócua sua validade nas eleições deste ano.


Os jornais observam que, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral não julgar os recursos daqueles que tiveram a candidatura impugnada, continuarão ocorrendo divergências nos Estados.


No Rio de Janeiro também ocorreu uma decisão contraditória: o ex-governador Anthony Garotinho, que havia desistido de disputar o governo do estado, teve reconhecida sua inscrição como candidato a deputado federal.


O Globo e o Estadão também destacam casos diferentes, como os dos TREs de Minas Gerais, Santa Catarina, Ceará e Espírito Santo, que estão cumprindo liminarmente a lei da Ficha Limpa.


Pauta essencial


Os políticos que têm seu registro impugnado podem recorrer a instâncias superiores, e o mero esforço para levar adiante suas candidaturas nos tribunais deve ser um fator importante para fazer muitos deles desistirem da eleição.


Os jornais não se estendem na análise da possibilidade de que candidatos honestos venham a ser prejudicados por perseguição política em seus Estados. O noticiário por enquanto se concentra no esforço de alguns setores da Justiça Eleitoral e de ativistas do movimento contra a corrupção para fazer a lei pegar. Nesse sentido, é essencial que os jornais sigam informando os eleitores sobre o andamento dos processos.


Mandado de prisão


Todos os jornais destacam o pedido de impugnação da candidatura do deputado federal Paulo Maluf, que tenta a reeleição. Maluf, uma espécie de ícone dos fichas-sujas no imaginário popular, já inspirou até mesmo um verbo relacionado a práticas pouco honestas na política – o verbo ‘malufar’.


Seu trânsito pelos meandros da Justiça chega a constituir uma peça de folclore da política nacional. Atualmente, o ex-governador de São Paulo tem que defender sua candidatura na Justiça Eleitoral, impugnada porque ele foi condenado pelo Tribunal de Justiça por superfaturamento na compra de frangos quando prefeito da capital paulista.


A peça de impugnação apresentada pela Procuradoria Regional Eleitoral, reproduzida pela imprensa, não poderia ser mais explícita: o texto lembra que Maluf ‘se encontra numa espécie de prisão em território brasileiro’, por causa de mandado expedido contra ele pela Interpol. Caso deixe o Brasil, pode ser preso em mais de uma centena de países que integram o sistema da Interpol, diz o pedido de impugnação.


Segundo a Procuradoria, Maluf tenta omitir da Justiça Eleitoral o processo no qual é réu em Nova York, por ‘conspiração com o objetivo de roubar dinheiro da cidade de São Paulo…’, segundo diz o documento.


Mais transparência


Além do noticiário sobre Paulo Maluf, sempre um prato cheio para a imprensa quando se trata de desvios de conduta na política, os jornais também abrem espaço para a criação de um site na internet, de iniciativa de organizações não-governamentais, para cadastrar candidatos que não têm problemas com a lei. O lançamento do site foi informado a todos os partidos, que podem registrar ali os nomes de seus candidatos e se comprometer com a transparência na gestão dos recursos de campanha.


Com destaque na Folha de S.Paulo, a notícia sobre essa iniciativa cria um embaraço para muitos partidos e para empresas que fazem doações em campanhas eleitorais.


A intenção da iniciativa é estimular esses doadores a rejeitar candidatos suspeitos e obrigar todos eles a prestarem contas da vida privada se quiserem entrar na vida pública.


Vamos ver quantos deles vão querer abrir as suas caixas-pretas.