A culpa é da chuva. Esta foi a explicação para o desastre ambiental em Miraí (MG) e também para o desabamento na obra da Linha 4 do metrô, em São Paulo.
A desculpa é válida, mas também é válido perguntar: há quanto tempo chove no mundo? O dilúvio bíblico aconteceu por acaso ontem? Enchentes no verão são novidade?
No Japão, a freqüência dos terremotos exigiu a adoção de severos padrões de segurança para enfrentar a intensidade e a repetição dos tremores. O homem apreendeu a conviver com a natureza em todas as partes do mundo. Menos no Brasil, onde cada verão parece ser o primeiro e cada catástrofe é apresentada como inédita.
Índices comparativos
Enchentes, desabamentos ou deslizamentos são fenômenos regulares, anuais, recorrentes, impossível desconhecê-los. A culpa foi da chuva, justificam-se as autoridades ou concessionárias, e a imprensa resigna-se com a desculpa. Mas a função da imprensa não é resignar-se com declarações esfarrapadas. Para reagir à engabelação rotineira, a imprensa precisa estar habilitada.
Convém reparar que no sábado (13/1) as vozes mais indignadas contra a conversa mole do excesso de chuvas foram do deputado ambientalista Fernando Gabeira na Folha de S.Paulo e do jornalista-ambientalista André Trigueiro, na rádio CBN [ver remissões abaixo]. Na sexta-feira (12), no mesmo dia em que a cratera se abriu na Marginal Pinheiros, Washington Novais, o decano dos jornalistas-ambientais, fazia o seu alerta semanal no Estado de S.Paulo contra o nosso descaso diante da temporada de chuvas [remissão abaixo].
E o resto da imprensa? Alguém lembrou de comparar o índice pluviométrico deste verão com o do ano anterior? Dá muito trabalho. A culpa foi da chuva, enterremos os mortos e estamos conversados.