Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cobertura contra a impunidade

O País dos Bacharéis está adorando a discussão sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de tirar do xilindró os magistrados enredados pela Operação Hurricane, da Polícia Federal.


Melhor discutir firulas jurídicas do que passar uma borracha sobre uma das mais graves denúncias já aparecidas contra figuras da cúpula do Judiciário. Esta é uma oportunidade que a mídia não pode desperdiçar.


O sonhado equilíbrio entre os poderes, base do modelo republicano e democrático, será plenamente alcançado quando a noção de isonomia deixar o terreno da abstração para transformar-se em realidade.


Não cabe à mídia dar pareceres sobre a legitimidade da decisão do ministro Cezar Peluso, do STF. Os juristas que se entendam. O que se pede da imprensa é um mínimo de determinação de modo a manter o assunto em pauta até o seu encaminhamento final.


Quando os meritíssimos perceberem que também eles estão sujeitos ao escrutínio da sociedade começará a derrocada da impunidade. Em todas as instâncias e níveis.


Enfrentamento seletivo


Legislativo, Executivo, Ministério Público e a própria imprensa já foram colocados sob suspeição. O Judiciário conseguiu sempre pairar inatingível e invulnerável – o que era péssimo para todos, principalmente para o próprio Judiciário. Desta vez há fortes indícios de que a toga encolheu, esgarçou e já não tem condições de encobrir as mazelas dos que a envergam.


A imprensa nunca escondeu que prefere enfrentar o Legislativo e até mesmo o todo-poderoso Executivo. No Estado de Direito nenhum deles pode ameaçá-la. Exceto o Judiciário. A imprensa é capaz de enfrentar a onipotência de governantes e a leniência dos legisladores, mas não costuma animar-se diante da arrogância de juízes.


A não ser que um conjunto de circunstâncias excepcionais – nelas incluídas a frustração da sociedade – estimule a exposição de suas deficiências. O momento pode ser este.