Como não ficar preso à televisão? Como não desgrudar os olhos de cada ação, imagem, desdobramento do caso? Nos últimos dias, a cobertura dos telejornais sobre a invasão policial à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão tem sido impactante e, ao mesmo tempo, emocionante. Se não vivesse neste planeta, diria que se tratava de uma megaprodução cinematográfica. Tanques de guerra, armas, muitas armas, presos fugindo, policiais armados, população acuada, palavras de ordem… Ledo engano.
Sabemos que o telejornalismo se utiliza de toda uma plasticidade que, muitas vezes, lhe confere sensacionalismo e espetacularização da notícia. Mas o fato é que a cobertura – mesmo com o tom da espetacularização – desta vez tem um grande diferencial. As imagens captadas da realidade, enquadradas pelos cinegrafistas e editadas pelas emissoras, não fazem parte do pacote da banalidade de violência que estamos acostumados a assistir. São imagens há muito tempo sonhadas, nas quais a polícia defende o cidadão, prende o bandido e garante a liberdade da sociedade.
São imagens que, no corte seco, sem edição e sonoplastia, nos sensibilizam, como a da mãe e do pai que entregam seus respectivos filhos à polícia ou a dos policiais que – num ato simbólico – hasteiam a bandeira do Brasil no alto do morro. São imagens em que polícia, políticos e população estão unidos em favor de um dia seguinte mais justo e humano. São imagens a que gostamos de assistir, pois nos dão um sentimento de esperança, de que há luz no final do túnel, de que a paz pode ser tangível, ou que pelo menos possamos avançar em sua direção.
Um happy end todo dia
Alguns dirão que posso estar sendo demasiadamente ingênuo no sentido de acreditar que por trás das coberturas televisivas não haja tipo algum de parcialidade. De que a TV de certa forma vem trabalhando muito em favor da política de segurança do Estado e, consequentemente, da polícia e do governo. Pode até ser. Mas prefiro não acreditar nisso. As emissoras vêm trabalhando – com ou sem intencionalidade – a auto-estima da população e da polícia. Vêm, por meio de matérias, mostrando a importância da parceria. Vêm, por meio de reportagens, resgatando a confiança entre os dois lados. Como e por que isso tudo começou? Por que só agora? Foi por causa do trabalho da polícia? Ou da cooperação da população? Ou de uma ação/intenção da mídia? Difícil de explicar.
Bem, o fato é que toda a cobertura chama a atenção do telespectador. E ao final de cada edição do dia, ou parte dela, ficamos com a positiva sensação de que as coisas estão mudando, de que podemos confiar em nossa polícia e que dias melhores virão tanto para quem mora nas comunidades como no asfalto. Fico pensando que bom seria que os telejornais fossem como os filmes, com este happy end todo dia e ponto final.
Campanha de combate às drogas
Não é de hoje que a programação de TV, principalmente com seus filmes e novelas, gera polêmicos debates em torno do seu impacto sobre a violência nas cidades. Mas o que dizer dos telejornais, que – jornalísticos como são – devem ter, única e exclusivamente, compromisso com a informação? Por ora, diria que os telejornais estão dando um show nas novelas de Manoel Carlos, tão conhecido pelos cariocas por trazer à tona os conflitos do dia-a-dia da cidade para o cotidiano de seus personagens. Um exemplo? A cena dos personagens Téo e Fernanda, vítimas de bala perdida, no trânsito do Leblon, em Mulheres Apaixonadas, exibida, acreditem, em 2003. Uma crítica ferrenha à criminalidade do Rio de Janeiro, há sete anos.
Longe da ficção, mas próxima do desejo de contribuir com uma nova realidade, a informação veiculada nas últimas edições dos telejornais vem carregada de valores éticos, de esperança e de cidadania. Sem dúvida alguma, estamos diante de um estudo de caso bem interessante para ser pesquisado e analisado. Para terminar: bem que os telejornais também poderiam aproveitar o momento para lançar uma grande campanha de combate ao uso/consumo de drogas. Acho que estamos esquecendo que se existe o tráfico é porque também, na outra ponta, há o consumo, muito consumo. E isso como é que fica?
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Jornalista, professor e especialista em Educação e Mídia