O estresse geralmente não é um bom conselheiro, mas às vezes produz excelentes resultados. Caso deste último fim de semana, em que o cansaço era tamanho que ninguém se importou com coisa alguma.
Os jornais e revistas estavam pesados, mas de publicidade. Os anunciantes contavam com edições sacudidas, trepidantes, mas o investimento não compensou e a rotina saiu ganhando: com a exceção da data nos cabeçalhos, nada lembrava que começamos a derradeira semana da mais disputada, a mais violenta e também a mais degradante campanha eleitoral desde a redemocratização.
Estão todos esgotados, frustrados, irritados com os próprios erros, literalmente sem fôlego, reunindo o que sobrou de energia para a última arrancada. Os dois candidatos, seus marqueteiros, cabos eleitorais, assessores, todos estão no limite. Também os estoques de criatividade.
Primeira década
Se houve caso de candidatos que não sabiam o nome da cidade ou estado onde acabavam de aterrissar, também os repórteres estão baratinados. Nossas redações estão cada vez menores, sem banco de reservas. Esquálidas.
Na semana anterior, em alguns veículos da mídia eletrônica, âncoras foram descansar para enfrentar as tensões desta que será a semana mais comprida do ano: começou no domingo (24/10), não terá o intervalo sabático e só deve acabar – na melhor ou pior das hipóteses – depois do feriadão de Finados.
Quem falou em feriadão? Nunca antes neste país tantos se esforçaram para que o espírito do feriadão não estimulasse a abstenção. Afinal, o voto é obrigatório. Ou era. Também o decoro seria obrigatório, mas caiu em desuso.
Quando forem devidamente examinadas as três eleições presidenciais da primeira década do século 21 talvez seja possível identificar o momento – o ponto de inflexão – em que a democracia deixou de ser um valor para tornar-se formalidade.