Agosto de 2009. Buenos Aires amanhecia triste e o gélido vento do rio de La Plata se fazia sentir. Aquela singela melancolia tinha um forte motivo: a primeira rodada do Torneio Apertura – a primeira divisão do futebol argentino – havia sido cancelada. Pelos cafés da Avenida Corrientes não era possível encontrar vestígios daquela portenha tradição de discutir futebol. A causa, razão ou circunstancia pelo ocorrido, tinha uma sinistra origem: a disputa pelos direitos de transmissão dos jogos do campeonato argentino de futebol.
Uma verdadeira guerra entre o Governo Federal – comandado pelo casal Kirchner – e o grupo midiático mais importante da Argentina – Clarín – que culminou com a estatização das transmissões dos jogos da primeira divisão do futebol local. O episodio serviu para desnudar toda a obscura estrutura, não só do futebol, como de todo um país.
A perda de um de seus negócios mais rentáveis foi o mais duro golpe recebido pelo Grupo Clarín em sua disputa particular contra o casal Kirchner. Julio Humberto Grondona – um dos homens mais ricos e poderosos da Argentina – tornou-se o fiel da balança, mostrando uma vez mais o circulo mafioso por trás do alto escalão do futebol local.
A história de um monopólio
Em 1945 nasce o diário Clarín: o primeiro jornal diário da Argentina em formato tablóide. A história do Clarín se confunde com a biografia de seu fundador: o advogado Roberto Noble, que entre muitas das suas contradições, foi deputado bonaerense por um partido de esquerda, e posteriormente, ministro no governo direitista de Manuel Fresco na Província de Buenos Aires. Em meio a seus anseios políticos surge o diário Clarín, que com uma linguagem simples e direta, conquista o público porteño – como é denominada a população nativa da cidade de Buenos Aires – demarcando sua linha editorial de forma popular, e supostamente, apolítica.
Diante da repressão imposta pelo governo de Juan Domingo Perón contra a imprensa escrita, o Clarín – curiosamente – se vê beneficiado quando o governo expropria os classificados do diário La Prensa, que passam a ser publicados pelo periódico de Roberto Noble. Historiadores de comunicação concordam que este foi o fato determinante para que o Clarín se transformasse no Gran diario argentino – slogan atual do jornal. Como a maioria dos periódicos que ainda perduram, o Clarín soube ser governista quando necessário. Apoiou o governo desarollista – como ficou conhecida a linha econômica adotada durante este período de crescimento argentino – de Arturo Frondizi. Em troca, o mandatário argentino dispôs de um generoso empréstimo para que o Clarín modernizasse o seu maquinário. Foi o começo da estreita relação entre o Clarín e os diferentes governos federais ao longo dos anos.
Em 1969, falece Roberto Noble. Sua esposa, Ernestina Herrera assume a condução do jornal. Nessa época, o peronismo estava proibido no país por ordem da Junta Militar. Contudo, após largas alianças políticas, Juan Domingo Perón acabaria voltando ao poder em 1973. Um ano depois, o mandatário argentino acabou falecendo, deixando o governo nas mãos de sua viúva: Isabelita Perón. Em 1976, a mesma é destituída pela Junta Militar, comandada por Jorge Rafael Videla. Assim, tem inicio a fase mais obscura da história recente do país vizinho, assim como o crescimento eminente do Clarín enquanto a seus negócios.
Ernestina Herrera estreita sua relação com os militares. Nas paginas do jornal, obscuras ações do governo eram ocultadas – ou maquiadas se necessário. Em vista disso, o governo militar cedeu ao Clarín – também ao La Nación – os direitos de participar das ações da empresa Papel Prensa. O governo argentino no inicio dos anos 70, decide criar uma empresa estatal para a produção de papéis com a finalidade de abastecer os principais jornais e revistas do país. Nesta mesma época, o Clarín junto a um conglomerado midiático cria a agência DYN (Diarios e Noticias). Muitos não imaginavam, mas assim nascia o Grupo Clarín e seus múltiplos negócios.
Enquanto Diego Armando Maradona começava sua carreira profissional com a camisa do Argentinos Juniors, Jorge Videla e seus comandados, entregavam crianças – filhas de desaparecidos políticos – nas mãos de famílias que tivessem relações estreitas com membros da Junta Militar. Dessa forma é criada a associação das Abuelas de Plaza de Mayo. A entidade nasce com intuito de buscar através da justiça pela identidade de seus entes desaparecidos durante o governo militar.
As Abuelas de Plaza de Mayo afirmam ter provas de que os filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble seriam um de seus netos. Marcela e Felipe Noble teriam sido entregues aos militares enquanto seus pais biológicos eram torturados, ou como em outros trinta mil casos: assassinados. A entidade pede judicialmente que Marcela e Felipe Noble se submetam a teste de DNA. O processo segue na justiça, mas assim como representa a estreita relação do Clarín com os militares, o caso tornou-se um emblema de um dos acontecimentos mais soturnos da história argentina.
Com a volta da democracia, assume o comando do país a Unión Cívica Radical, sob a batuta de Raúl Alfonsín. Em meio a uma grave crise econômica, que culminou com um dos maiores índices de inflação da história do país vizinho, o Clarín lograva manter-se como o jornal de maior circulação na Argentina, assim como um dos maiores entre todos os países de língua hispânica.
Por culpa da hiperinflação que assolava os solos argentos, Raúl Alfonsín sofre uma serie de pressões e renuncia meses antes de passar a faixa presidencial a Carlos Saúl Menem. A eleição presidencial de 1989 é vencida pelo peronismo, e assim, o ex-governador da Província de La Rioja assumiu o governo em meio a uma grave crise social e econômica. Um das medidas mais drásticas em seu polêmico governo – junto a famosa paridade cambial – foi privatizar uma serie de serviços públicos para combater a hiperinflação.
Para deleite da família Noble, meses após a posse de Carlos Menem, o congresso nacional argentino aprovaria uma mudança no artigo 46 da lei de radiodifusão, que proibia até então que empresas gráficas fossem donas de meios radiofônicos ou televisivos. Foi assim que o Grupo Clarín adquiriu a rádio Mitre e venceu o concurso de licitação pelos direitos do Canal 13 de televisão.
Em 1991, Clarín junto a Torneos y Competencias adquire os direitos para transmitir os jogos da primeira divisão do futebol argentino. Coincidentemente neste ano, o futebol argentino sofre uma seria de modificações estruturais que tinha como finalidade a adequação aos interesses da televisão. Desta forma, os denominados Torneos Cortos dariam inicio a era do espetáculo no futebol argentino. A primeira divisão passaria a ser disputada através de dois torneios anuais: o Apertura no segundo semestre e o Clausura na primeira metade do ano.
Para ratificar a sua aposta pelo negócio futebol, em 1996, o Grupo Clarín cria o primeiro jornal esportivo da Argentina: o diário Olé. Graças ao seu formato tablóide e suas manchetes polemicas e sugestivas, o jornal é um rotundo sucesso, servindo como modelo para a criação do diário Lance! no Brasil.
A televisão a cabo ainda engatinhava na América Latina, quando o Clarín resolveu que era o momento de investir neste promissor mercado. Desta maneira nasce a operadora de televisão a cabo do grupo: a Cablevisión. Em Dezembro de 2007, o Clarín adquire a operadora Multicanal quando Nestor Kirchner rubricou a fusão das duas principais operadoras do país. Foi a última – e contraditória – medida de Kirchner como presidente da república, ato que se arrependeria rotundamente num futuro próximo.
O homem forte da Argentina
A carreira política de Néstor Kirchner tem inicio dentro da Faculdade de direito da cidade de La Plata. Lá conhece a sua futura esposa, Cristina Fernandez. Luis Majul, um dos mais prestigiados jornalistas argentinos publicou El Dueño, livro que conta como Nestor Kirchner se transformou no homem mais poderoso da Argentina.
Nunca em toda a história da Argentina, um presidente teve tanto poder político e econômico como Nestor Kirchner. Nem mesmo Juan Domingo Perón, muito menos Carlos Menem. Kirchner não se contenta em ser parte de um poder transitório. Pelo contrario: pretende ser parte de um poder permanente. De 2003 até agora, tomou por conta própria o patrimônio do estado, distribuiu entre seus amigos o grande negócio das obras públicas. Contribuiu para que um empresário aliado comprasse parte da empresa petrolífera – YPF, que é a empresa mais lucrativa da Argentina. Controlou o caixa do transporte público. Interferiu nos bancos públicos e privados, além de interferir em toda a lógica dos meios de comunicação para golpear ao Clarín e assim controlar parte das informações de todos os argentinos. (MAJUL, 2009, p.17)
Em meio ao convívio acadêmico, Cristina Fernandez e Néstor Kirchner, deram início a militância política dentro da FURN – Federación Universitaria de la Revolución Nacional. O grupo fazia parte de núcleo estudantil da Juventud Peronista. Em 1976, com o golpe de estado aplicado pela Junta Militar, Nestor não teve dúvidas em partir com sua amada para a sua terra natal: a cidade de Rio Gallegos, capital da Provincia de Santa Cruz.
A cidade de La Plata – capital da Província de Buenos Aires – era um local mais do que impróprio para viver em meio a tanta perseguição aos jovens peronistas. Em Rio Gallegos, o casal iniciou uma nova vida dedicando-se ao labor do direito num renomado escritório de advocacia.
Casados, com filhos e muitos imóveis em Rio Gallegos, Cristina e Nestor eram cada vez mais influentes, tanto que em 1981, Kirchner se tornou presidente do instituto previdenciário da Província de Santa Cruz, no sul da Argentina. No setor público, Nestor fez sua base política para chegar a prefeitura de Rio Gallegos. Em 1987, Nestor Kirchner se tornou prefeito da capital da Província de Santa Cruz, em eleição mais do que acirrada. Quatro anos depois se consagrou governador de Santa Cruz, posto que exerceu até tornar-se presidente da República em 2003.
Em seu governo, a província de Santa Cruz cresceu graças a um grande impulso no setor petrolífero – principal atividade econômica da região patagônica da Argentina. Em meio a reformas constitucionais, Kirchner conseguiu extinguir a lei que limitava o número de reeleições em Santa Cruz. Assim, Nestor conseguiu se reeleger em três oportunidades e assim criou a força política necessária para ser um dos principais candidatos peronistas pós-Menem.
Em Dezembro de 2001, em meio a um enorme colapso na economia argentina, o então presidente Fernando De La Rúa renunciou ao cargo. Enquanto o presidente radical deixava a Casa Rosada em um helicóptero, a população argentina, ao ritmo de panelaços, exigia uma solução sob o slogan popular: Que se vayan todos!
Depois de três mandatários negarem assumir a faixa presidencial, o congresso nacional designou Eduardo Duhalde, ex-governador da Província de Buenos Aires, como novo presidente argentino.Em 2003, com medo do regresso de Carlos Menem a Casa Rosada, o eleitorado argentino apostou por Nestor Kirchner e assim Lupo – apelido de infância de Kirchner – assumiu a presidência da republica Argentina.
A relação entre Kirchner e Clarín
A relação entre Nestor Kirchner e os meios de comunicação sempre foram estreitas. A formula do sucesso, o mandatário havia aprendido quando era governador da Província de Santa Cruz. Luis Majul definiu a relação inicial de Kirchner – como presidente da Argentina – com a imprensa da seguinte forma:
Durante os primeiros duzentos dias de sua gestão, havia sido beneficiado, com o que a revista Noticias denominou “oficialitis”: uma forte tendência da maioria dos meios de comunicação, em especial os jornais, em apoiar as decisões oficiais e não criticar nem mesmo os mínimos erros. (MAJUL, 2009, P.117)
O monopólio do Grupo Clarín no ramo das operadoras de televisão a cabo estava consolidado. Com o aval do governo federal o Grupo Clarín – passavam a deter quase 70% do mercado de operadoras de televisão a cabo na Argentina. Mas se Nestor Kirchner, criava tantas facilidades ao Grupo Clarín nos ramo das telecomunicações, como houve a quebra de relações que resultou nessa verdadeira guerra?
O jornalista Luis Majul afirma que Nestor Kirchner criou um vinculo esquizofrênico com o Clarín. Com o passar dos meses a relação criou inúmeras ameaças que o grupo midiático mais poderoso da Argentina – sob a batuta de seu diretor Héctor Magneto – não suportou. Kirchner se sentiu traído quando os inúmeros meios de propriedade do Grupo Clarín exibiam de forma imparcial os desdobramentos da guerra entre o governo federal e o setor rural da Argentina.
O primeiro revés na relação entre Kirchner e Clarín, ocorreu em maio de 2007, quando o jornal de Hernestina Herrera de Noble publicou em primeira mão o escândalo envolvendo funcionários da administração K – como é conhecida a cúpula de Nestor e Cristina Fernandez – com a construtora sueca Skanska. Supostamente, os escandinavos teriam pago propina para realizar obras a serviço do governo federal. O caso ficou conhecido como Skanska, e nele Néstor teve o primeiro sinal que sua relação com a mídia não seria mais um mar de rosas. O título “Corrupción” deixava bem claro que as vistas grossas dos meios de comunicação a seu governo havia terminando.
A relação intima entre o governo e o Clarín era escancarada. Pessoas ligadas a Néstor Kirchner mantinham contato permanente com editores e jornalistas influentes do jornal. A cada noticia que não era de agrado, o mandatário ligava para a redação do jornal pedindo explicações. A pressão era insustentável, e a gota d’água segundo contou Luis Majul em seu livro, foi quando o governo federal colocou jornalistas/espiões dentro da redação do Clarín.
A pessoa da qual as autoridades do Clarín definiram como espião, trabalhava como jornalista dentro de uma das seções mais importantes do jornal matutino. Começaram a suspeitar que o espião emitia informações ao governo quando um dia, Alberto Fernadez – então chefe de gabinete presidencial – ligou para um alto executivo do jornal para queixa-se sobre uma noticia que iria sair na capa da manha seguinte. Os editores se reuniram com urgência. No Clarín sempre houve uma regra: as informações sobre as capas são secretas, apenas Magneto – editor executivo e um dos principais acionistas do jornal – poderia saber. Foi assim que decidiram iniciar uma investigação para saber como havia vazado a informação. Não tiveram que usar tecnologia complexa, nem mesmo contratar uma organização de contra-espionagem, apenas pediram ao departamento de logística, a relação de ligações internas efetuadas rumo a Casa de Governo. (MAJUL, 2009, p.97)
O final de seu mandato se aproximava, e com a eminente vitória nas urnas de Cristina Fernandez, Nestor Kirchner tentou a última cartada para seduzir o Grupo Clarín e deixar para sua esposa um caminho tranqüilo para governar sem a tradicional pressão midiática. Em vista disso, no dia 7 de Dezembro de 2007, o mandatário autorizou a fusão entre Multicanal e Cablevisión – as duas maiores operadoras de televisão a cabo da Argentina – efetuada pelo Grupo Clarín. Antes disso em 2005, Kirchner prorrogou por 10 anos as licenças dos mais influentes meios audiovisuais da Argentina, incluindo a rádio Mitre e o canal 13 de televisão – ambos de propriedade do grupo Clarín.
Kirchner estava rubricando a posição dominante no ramo de televisão a cabo, este que é um dos negócios de comunicação mais rentáveis da Argentina. Para que se entenda bem: mesmo antes da fusão, o negócio de tv a cabo e internet representava para o Grupo Clarín, setenta por cento de todos os seus lucros. (MAJUL, 2009, p. 175)
Logo após passar a faixa presidencial para sua esposa, Nestor Kirchner percebeu que sua tentativa de seduzir os meios de comunicação havia fracassado, e a polemica cobertura midiática do primeiro embate do governo de Cristina Fernandez não o deixava negar.
A batalha contra o campo
No dia 11 de Março de 2008 o governo anunciou um novo pacote de impostos para exportações de grãos. A fim de regular os cofres do Estado com uma maior arrecadação, o ministério da Agricultura estabeleceu um sistema volátil, onde a tributação ficaria estabelecida de acordo aos preços internacionais de cereais e seus derivados. A medida afetava as exportações de trigo, girassol, milho e a soja, produto este que revolucionou a economia agrária da Argentina na última década.
A terceira modificação nas alíquotas dentro do mandato de Cristina Fernandez foi a gota d’água para as entidades rurais da Argentina. A primeira decisão da FFA – Federación Agraria Argentina – foi suspender por 48 horas a comercialização de carnes e grãos. O governo ainda tentou – através de medidas de compensação – evitar a eminente greve disponibilizando o desconto de 20 % no preço de fertilizantes. No entanto, a medida não aliviou a tensão, e os ruralistas intensificavam a greve, fechando estradas e ocasionando um desabastecimento de alimentos nos principais centros urbanos do país.
Com o caos chegando aos supermercados de Buenos Aires, os ruralistas conseguiam cumprir com seu plano de guerra e o governo federal se via diante de uma crise jamais. Nos noticiários ganhava espaço a imagem de Alfredo de Ángeli. O carismático dirigente da FFA – Federacion Agraria Argentina – da Província de Entre Rios, promoveu na imprensa uma intensa discussão enquanto a questão agrária. Com o ideal ruralista sendo defendido por De Ángeli nos principais meios do Grupo Clarín – principalmente na rede TN (Todo Noticia) – fez aumentar o descontentamento de Kirchner enquanto ao Grupo Clarín. Kirchner via na transformação do dirigente ruralista em um popstar midiático como uma traição de seus antigos aliados.
O governo federal defendia a idéia que a greve era absurda, já que o campo argentino havia sido um dos únicos setores do país que havia crescido em meio a crise financeira de 2001 e que o lucro deveria ser repartido entre todos os argentinos. Alfredo de Ángeli ironizou o discurso governista afirmando: “Não somos os novos ricos. Um produtor que tem 15 ou 20 vacas não é um oligarca. O governo enche a boca para dizer que somos um país federal, e na verdade somos um país unitário já que estão levando todas as nossas riquezas para a Capital Federal. Esta é uma história antiga e no último dia 11 de Março nos demos conta da grande traição de Cristina Fernandez para com o interior do país”.
O jornalista Adrián Murano publicou El Agitador, livro que conta a trajetória de Alfredor De Ángeli como líder do sindicato ruralista da cidade de Gualeguaychú. Na obra, Adrián Murano dedica um capítulo para a cobertura jornalística do conflito. Segundo o autor, uma charge publicada pelo diário Clarín ocasionou ainda mais desconforto. O renomado chargista argentino, Hermenegildo Menchi Sábat, teria ironizado o discurso de Cristina Fernandez no dia do trabalho, desenhando-a como dois esparadrapos na boca, como dizendo: cale a boca, presidente.
Para o governo federal, a charge publicada pelo Clarín era o sinal mais claro dos interesses do grupo midiático em relação a batalha com o campo. De acordo a um dossiê elaborado pela cúpula kirchenista, um dos maiores acionistas do Clarín – José Antonio Aranda – seria dono de uma das dez maiores plantações de arroz da Argentina, além de presidir a Asociación Bradfort Argentina. Ali estava a certeza: o Grupo Clarín precisava ser contido pela força do Estado.
Nova lei audiovisual
No dia 21 de Agosto de 2008 – segundo o jornalista Luis Majul – um advogado especialista em direito administrativo entregou a Néstor Kirchner um dossiê anti-Clarín, indicando uma série de ações com intuito de diminuir o poder do grupo midiático mais importante da Argentina. O texto em questão era mais do que claro: a estatização do futebol e uma nova lei audiovisual afetariam o Grupa Clarín de forma vital. Influenciada pelo dossiê foi elaborada a nova lei audiovisual da Argentina, que segundo seu artigo inicial teria o objetivo de promover a desconcentração.
Em meio a todo turbilhão político não podia faltar a polêmica figura de Diego Armando Maradona. O atual treinador do selecionado argentino de futebol apoiou a nova lei audiovisual e a estatização das transmissões de futebol na Argentina. Enquanto a lei era discutida no senado, a seleção nacional corria sérios riscos de ficar de fora da Copa do Mundo de 2010. Maradona era criticado por grande parte de torcedores e jornalistas. O fato causou magoa profunda em Maradona, que afirmava ser vitima de perseguição dos meios de propriedade do grupo Clarín por sua posição pró- Kirchner.
Na última rodada das eliminatórias a seleção argentina necessitava vencer o Uruguai em Montevidéu para garantir o passaporte rumo à África do Sul. Com um solitário gol de Mario Bolatti a Argentina garantiu a classificação para o mundial de futebol. Em pleno gramado do estádio Centenário pode-se ouvir, em alto e bom som, os insultos dos jogadores argentinos dirigidos a imprensa. Todos abraçados e pulando, cantavam:
“Hay que alentar la selección. Hay que alentar hasta la muerte. A Argentina yo lo quiero porque es un sentimiento que lo llevo en el corazón y no importa lo que digan esos putos periodistas, la puta que los parió.”
Na coletiva de imprensa, Diego Maradona outra vez espantou o mundo do futebol, quando destilou todo seu rancor com parte da imprensa argentina afirmando:
“Para os que não acreditaram na classificação, com perdão de todas as damas: chupem, sigam chupando”.
O fato é que no dia 10 de Outubro de 2009, o Senado e a Câmara dos Deputados sancionaram a lei 26.555, e assim promoveram a maior vitória de Cristina Fernandez em curso de seu turbulento governo. A nova lei audiovisual da Argentina substituía a antiga legislação vigente desde os tempos que em a denominada Junta Militar governava o país vizinho.
A lei passava a impedir que empresas privadas do ramo de telecomunicação possuíssem ao mesmo tempo um canal de TV aberta e outro de TV a cabo. Como se o prejuízo fosse pouco, a nova lei determinou que as licenças de todos os meios radiofônicos ou televisivos, que antes duravam vinte anos, passariam a durar apenas dez, podendo ser renovadas a cada dois anos.
A oposição, liderada por Elisa Carrió, denunciava que a nova lei audiovisual era um ato inconstitucional destinado a garantir os interesses políticos do casal Kirchner. Daniel Vila, dono do canal América de televisão afirmou que a nova lei audiovisual era uma maneira de Néstor Kirchner amordaçar a imprensa com a finalidade de garantir sua eleição para presidente da república em 2011.
O dono da bola na Argentina
O futebol tem o sinistro poder de enriquecer certas figuras, fazendo-os personalidades poderosas e influentes. Este é o caso de Julio Humberto Grondona. Sua carreira como dirigente esportivo teve inicio de forma precoce. Vendo suas limitações como atleta, Grondona junto a amigos de Sarandí – bairro de Avellaneda onde cresceu e nasceu – fundou o Arsenal. O time que disputava torneios amadores pelo sul da província de Buenos Aires, agora se tornava profissional e tinha em Julio Grondona, por estão com 25 anos, como um de seus máximos expoentes administrativo.
Cada vez mais influente entre os cartolas locais, Grondona postulou-se para assumir a presidência do seu time de coração: o Club Atlético Independiente. Foi assim, que entre 1976 a 1981 presidiu o clube mais vencedor na história da Copa Libertadores da América.
Durante o mundial de 1978, o dito manda-chuva foi também secretario de finanças da máxima entidade do futebol argentino, esta que através do auxilio do governo militar organizou aquele mais do que obscuro mundial. Subitamente – um ano depois – Julio Grondona chegava a presidência da AFA – Associación del Fútbol Argentino.
Há mais de 30 anos – após insólitas seis reeleições – podemos dizer que Julio Grondona é o verdadeiro dono do futebol argentino. Leva em seu dedo mindinho, um anel que ao reluzir nos mostra uma irônica frase: Todo Pasa. Desdenha de seus opositores sempre que pode. Certa vez chegou a afirmar: “Os clubes sabem que sou o menos malo entre os dirigentes que sonham dirigir a AFA. Eles me colocaram aqui e não penso ir. Agora se os clubes querem que eu vá embora já é outra coisa”.
Com prestigio após a conquista do Mundial de 1986 Julio Grondona ganhou o respeito por parte do ex-presidente da Fifa – João Havelange – e de seu eminente sucessor – Joseph Blatter. Em 1988, o “dono do futebol argentino” assumiu a vice-presidência da máxima entidade do futebol mundial. Demonstrando o seu poder, Grondona tornou-se também o secretario de finanças da FIFA, tendo entre outras missões negociar os direitos de transmissão dos mundiais de futebol.
Em 1994 surge o primeiro canal esportivo da televisão argentina: Tyc Sports. A emissora é criada através de uma sociedade entre Clarín e Torneos y Competencias. O canal transmitiria as partidas da primeira divisão argentina. Além disso seria parte inerente no sistema de comercialização dos direitos de transmissão adquiridos junto a AFA – Associación del Fútbol Argentino – liderados por Julio Grondona. Assim nasce Trisa – Tele Red Imagen S.A – empresa que dedica a conseguir direitos de transmissão de diversos eventos esportivos espalhados pelo mundo.
Na mesma época nasce Puntogol S.A. A empresa – que no inicio tinha ao grupo Clarín com um de seus acionistas – possuía a outro importante sócio: Hernán Martín Redrardo, atual presidente do Banco Central argentino. Redrado, protagonizou manchetes de todo o país após entrar em choque de colisão com Cristina Kirchner. A mandatária ordenou a sua destituição do cargo público, desencadeando outra importante fissura política.
Julio Grondona herdou de seu pai uma loja de materiais para construção – localizada no bairro de Sarandí – que foi o centro de sustento de sua família. Atualmente, o mandatário da AFA é proprietário de dois postos de abastecimento, assim como de outras duas empresas do ramo de construção. No entanto, seu maior negócio é o futebol. Em meio a falência da ISL – empresa que detinha os direitos de transmitir os jogos da Copa do Mundo e dos demais torneios organizados pela Fifa – Don Julio fundou uma empresa similar na Argentina para comercializar todo o dividendo oriundo da imagem da seleção argentina.
Poderoso e perspicaz, Don Julio ostenta a fama de bom amigo. Foi assim que nasceu a carreira de dirigente esportivo de Julio Comparada – atual presidente do Independiente. Seu pai, muito amigo de Julio Grondona, o aproximou com o manda-chuva da AFA. Além de apadrinhá-lo politicamente, Grondona cedeu para a empresa de seguros da família Comparada – a El Sucro Seguradora – a apólice obrigatória para todos os eventos esportivos da cidade de Buenos Aires, entre eles, os jogos da primeira divisão, organizados pela AFA.
Especialista em relacionar-se com o poder, Julio Grondona deu o veredito final – talvez definitivo – a favor da estatização do futebol argentino.
A estatização
O escritor uruguaio Eduardo Galeano definiu a nova era futebolística como telecracia. Segundo Galeano (2009, p.165) “Hoje em dia, o estádio é um gigantesco estúdio de televisão. Joga-se para a televisão, que oferece a partida em casa. A televisão manda”
No mundo do entretenimento, o futebol é mais do que um negócio. Políticos, empresários e grandes corporações tentam sugar ao máximo os dividendos oriundos da paixão exacerbada movida pelo esporte bretão. O caso argentino não é novo, tampouco inédito, mas não há exemplo melhor para refletir enquanto ao tortuoso destino tomado pelo esporte mais amado do mundo.
O fato é que no dia 11 de Agosto de 2009, o diretor de comunicação da AFA – Associación del Fútbol Argentino – Ernesto Bialo, anunciou a ruptura do contrato que permitia a Torneos y Competencias transmitir o campeonato nacional de futebol.
Julio Grondona já sabia dos interesses do governo federal em dar um revés no grupo Clarín, e conseqüentemente, em seus parceiros no negócio futebol: TYC (Torneos y Competencias) e TSC (Televisón Satelital Codificada). Assim, o mandachuva da máxima entidade do futebol argentino sugeriu ao sindicado dos futebolistas daquele país, que protestassem publicamente contra os atrasos de salários empreendidos pela maioria dos clubes da primeira divisão.
No dia 21 de Julho, Sergio Marchi, então secretário geral da FAA – Futbolistas Argentinos Agremiados – ameaçou taxativamente: “Se não pagam todas a dividas com os jogadores, não começa o Torneio Apertura”. Dias depois, Julio Grondona propôs o aumento do preço do sistema pay-per-view para os principais jogos da rodada, entre eles, os que tivessem a participação dos dois clubes mais populares do país: Boca Juniors e River Plate. Seguindo o exemplo brasileiro – com a Timemania – Grondona deu a idéia de criar um sistema de apostas eletrônicas com o intuito de sanear as dividas dos clubes da primeira divisão.
No dia 3 de Agosto, Torneos y Competencias (TYC) e Televisión Satelital Codificada (TSC) tentaram a ultima cartada para resolver o impasse, oferecendo quarenta milhões de pesos argentinos para que os clubes pagassem as dívidas com seus jogadores e assim, pudesse ter inicio o Torneio Apertura. Já era tarde, pois no mesmo dia, em reunião na residência presidencial, Néstor Kirchner e Julio Grondona acertaram os últimos detalhes da estatização do futebol na Argentina, e o início da nova era nas transmissões de futebol no país vizinho que seria batizada como Fútbol Para Todos.
No acordo entre o governo federal e a AFA ficou estabelecido que o estado pagaria seiscentos milhões de pesos anuais a serem divididos de acordo aos interesses da máxima entidade do futebol argentino. O vice-presidente da Argentina, Julio Cobos, desaprovou o acordo afirmando: “É uma cifra absurda levando em consideração que o Ministério dos Esportes possui um teto de apenas cento e trinta e cinco milhões de pesos para investir em programas sociais e esportes olímpicos”.
Como não poderia deixar de ser, a divisão entre os clubes da primeira divisão foi desigual: Boca Juniors e River Plate, abonaram 30.680.000 de pesos argentinos – cada um – com o novo contrato. Racing Club, Independiente, San Lorenzo e Veléz Sarsfield passaram a receber anualmente 23.100.000 de pesos argentinos, enquanto os restantes clubes que militam na primeira divisão da Argentina embolsaram para seus cofres: 16.897.500 de pesos argentinos na primeira temporada de Fútbol Para Todos.
O fato é que no dia 21 de Agosto de 2009 começou a nova era televisiva do futebol argentina. O torneio Apertura teve início mais do que tumultuado, e todos os jogos as competição – vencida pelo Banfield – foram transmitidas pelo canal 7 – de propriedade estatal. Durante o transcurso das duas primeiras rodadas, o governo permitiu que o Canal 9 e o Canal América transmitissem os jogos – com áudio e vídeo produzido pela própria emissora estatal.
A transmissão de Fútbol Para Todos
Com os direitos de emitir o principal campeonato de futebol do país pelo canal público, o governo federal usou a transmissão para fazer propaganda política. De acordo com o balanço do primeiro campeonato da era Fútbol Para Todos, o governo pagou o equivalente a meio milhão de pesos argentinos para transmitir cada jogo do campeonato. E o que é pior: nenhum dos cinco grandes clubes do país conseguiu 19
chegar até as últimas rodadas com chance de conquistar o título. Assim, o governo arrecadou apenas cento e vinte sete milhões de pesos. Muito aquém da meta governamental que visava lucrar trezentos milhões de pesos, para assim honrar com o compromisso firmado junto a AFA.
No dia 9 de Maior de 2010, o Estudiantes de La Plata recebia o Rosario Central no estádio do Quilmes com a possibilidade de ser campeão nacional com uma rodada de antecedência. Se o conjunto liderado por Juan Sebastián Verón vencesse o time rosarino e o Argentinos Juniors – equipe que ocupava o segundo lugar do campeonato – perdesse em casa frente ao Independiente, o Torneio Clausura de 2010, ou melhor dizendo o Torneio Iveco del Bicentenario Clausura 2010 – como é oficialmente conhecido o campeonato nacional patrocinado pelo estado – ficaria nas mão do clube de La Plata.
Com 10 minutos de jogo surge a primeira propaganda na transmissão do Futbol Para Todos: com um banner ocupando 1/5 da tela, o governo federal informava o término das obras na Ruta Nacional 168, esta que é a estrada federal que liga as províncias de Santa Fé e Paraná. O narrador aguçava a importância da obra afirmando: “Uma obra estratégica para o desenvolvimento do corredor bio- oceânico central. Maior fluidez e segurança nas estradas”.
O seguinte reclame governamental surge aos 23 minutos do primeiro tempo: “Na Argentina jogamos todos. Jogos Nacionais Evita 2010. Informe-se em seu município”. Os jogos Nacionais que levam o nome da ex-primeira dama argentina é uma tradicional – sua primeira edição foi disputada em 1947 – competição amadora patrocinada pelo ministério da Educação, que tem como finalidade promover a prática esportiva em todo território argentino.
Aos 30 minutos, o jogo entre Estudiantes de La Plata e Rosario Central permanecia empatado, quando o terceiro reclame interrompeu a transmissão de forma taxativa: “Obras para todos: Província de Chubut. Autovia Ruta Nacional número 3 ,entre Trelew e Puerto Madryn. 60 quilômetros que permitiram promover as atividades produtivas regionais”.
O jogo seguia empatado, e a pior noticia para os torcedores do Estudiantes de La Plata veio aos 31 minutos quando Juan Sebastián Verón foi expulso após dar uma cotovelada descomunal no lateral direito do Rosario Central. Cinco minutos após a expulsão de Verón, surgiu o quarto comunicado do Governo Federal. O anuncio alertava sobre a chegada do inverno e a necessidade da população em solicitar o serviço público de vacinação.
Aos 38 minutos de jogo surgiu na tela a quinta chamada da transmissão: “Obras para todos. Província de La Pampa. Novo sistema de cloacas. Na cidade de Eduardo Castex finalizamos o novo sistema cloacal que inclui todas as redes domiciliais”.
Aos 42 minutos surge a primeira propaganda comercial na transmissão de Futbol Para Todos .Nela, a Aerolineas Argentinas informava que disponibilizava um maior fluxo de vôos na rota Buenos Aires – Mendoza, onde o tarifa passaria a valer 531 pesos argentinos. A propaganda se encerrava com um chamativo pedido: “Escolha a Aerolineas Argentinas. Convém a todos”. Vale lembrar que em pleno governo krchenista foi aprovada a lei federal 26.466 que resgatava para o Estado argentino uma porção acionaria da principal empresa área do país que havia sido comprada pela espanhola Ibiza, em meio a gama de privatizações impulsionada pelo governo de Carlos Menem.
Antes de acabar a transmissão do primeiro tempo, a ANSES – Administración Nacional de La Seguridad Social – informava que em 2010 o governo federal havia propiciado um aumento de 25% na inscrição de alunos na rede pública de ensino.
Durante o intervalo, um vendaval de propaganda política deu ar da graça. O primeiro reclame contava a história da oficina pública têxtil da cidade de Tres Arroyos, na Província de Buenos Aires. Na propaganda, duas beneficiadas contam suas experiências, demonstrando a eficácia do projeto estatal. No final, a mensagem otimista: “Juntos por uma Argentina em movimento. Parabéns, isto também foi feito por você. Ministério de La Nación”. O intervalo seguia com o anuncio das festas patrocinadas pelo Governo nacional para festejar o Bicentenário da República Argentina, onde foi possível encontrar novo discurso patriótico: “Fomos capazes. Somos capazes”.
Para finalizar o intervalo, o governo federal demonstrava – em outra propaganda patriótica – a eficácia do novo programa de registro geral: “A cada dia entregamos 15.000 novos documentos e em menos de seis meses, um milhão e meio de argentinos já conseguiram adquirir seu DNI – documento nacional de identificação. Para que isso seja possível, abrimos centros de identificação rápida. Que cada argentino tenha seu DNI é uma forma de nos sentir mais argentinos”.
No segundo tempo, as chamadas do governo federal se repetiram, ao passo que o Estudiantes de La Plata se complicava no estádio do Quilmes ao empatar com o Rosario Central em 0 a 0. No final da rodada, o time de Verón perdeu a liderança do Torneio Apertura, já que seu perseguidor – o Argentinos Juniors – venceu nos minutos finais ao Independiente por 4 a 3, e assim, o clube que revelou Diego Armando Maradona, Juan Román Riquelme e Fernando Redondo -entre outros – ficou a uma vitória de voltar a conquistar um título nacional. Fato que não ocorre desde a conquista do Campeonato Nacional de 1985, que pela ironia do destino, tinha como craque absoluto daquela equipe o seu atual treinador: Claudio Borghi.
Considerações finais
Jorge Luis Borges, considerado o maior nome da literatura argentina do último século sempre deixou claro seu ódio pelo futebol. Não é o primeiro intelectual – tampouco o último – em demonstrar desdém para com o esporte mais lindo do mundo. Borges dizia: “O futebol é popular porque a estupidez é popular”.
O notável escritor argentino foi ainda mais além quando afirmou:
“O futebol desperta as piores paixões. Desperta, antes do que qualquer coisa, o pior que há nos tempos modernos que é o nacionalismo referente ao esporte. Estranho que nunca ninguém tenha criticado a Inglaterra por ter criado tantos jogos estúpidos ou esportes puramente físico como é o caso do futebol. Por isso o futebol é um dos maiores crimes praticados pela Inglaterra”.
O exagero incondicional de alguém que indiscutivelmente possuía um intelecto muito além da maioria dos mortais, contrasta com o que pudemos acompanhar no episódio envolvendo a estatização do futebol em seu país natal e do inegável poder que o futebol tem de desmascarar, não somente figuras e instituições ligadas ao esporte, como também desnudar os obscuros meandros de todo um país.
A estatização das transmissões de futebol na Argentina nos explica o motivo da crise financeira, estrutural e técnica vivida pelo futebol do país vizinho. Não é de se estranhar, que entre os oito classificados para as quartas de finais da Copa Libertadores de 2010 – principal competição interclubes do continente – tenha o Estudiantes de La Plata como solitário representante argentino. Não é de se espantar, que os cinco maiores clubes da Argentina vivam uma crise financeira jamais vista e que clubes de menor expressão tenham se apoderado das taças nacionais.
Dentro da verdadeira guerra entre o grupo midiático mais importante da Argentina e o governo federal estava – outra vez – o futebol. Não é preciso ponderar sobre a importância do esporte bretão dentro da cultura argentina. Qualquer turista brasileiro ao chegar a Buenos Aires sente o poder da paixão que o esporte mais lindo do mundo provoca no povo argentino. No entanto, certas figuras – ou instituições – não respeitam a história, o sentimento e a cultura. Como diriam os argentinos: “Que podemos hacer?”
Referências bibliográficas
BORENSTEIN, Ariel. Don Julio Grondona. Buenos Aires, Editora Planeta, 2001.
FABBRI, Alejandro. Histórias Negras del Fútbol Argentino. Buenos Aires, Capital Intelectual, 2008.
FOER, Franklin. Como o Futebol Explica o Mundo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005.
GALEANO, Eduardo. Futebol ao Sol e à Sombra. Porto Alegre, L&PM, 2009.
MAJUL, Luis. El Dueño. Buenos Aires, Editora Planeta, 2010.
MURANO, Adrián. El Agitador. Buenos Aires, Editora Planeta, 2008.
SANTOS, Newton Cesár de Oliveira. Brasil x Argentina: histórias do maior clássico do futebol mundial. São Paulo, Editorial Scortecci, 2009