Está dando resultados a estratégia do presidente Lula para comandar o noticiário e ocupar os espaços na mídia. Tudo muito estudado: os pronunciamientos ocorrem na quarta ou na quinta, alimentam os jornais até o domingo e ainda sobra farta matéria prima para os semanários se divertirem.
Sempre inspirado no senso comum e nos valores do seu eleitorado, o presidente não se importa com a avalanche de críticas que se seguem, interessa-se apenas em não deixar o campo livre para os adversários.
A entrevista concedida ao repórter Kennedy Alencar, da Folha de S.Paulo, publicada na quinta-feira (22/10), teve o mérito de trazer a teologia e os evangelhos para a pauta nacional a fim de comprovar a imperiosa necessidade de coalizões por mais incríveis que pareçam.
Enquanto os analistas mergulham nas sagradas escrituras, Lula deu uma salva de tiros em outra direção. Há meses não comentava nem criticava a mídia, preferia delegar a observação da imprensa aos colegas Hugo Chávez e o casal Kirchner. Porém, provocado pelo entrevistador, o presidente não resistiu e proclamou que a missão da imprensa não é fiscalizar, é informar.
Ele por ele
Curta e grossa, a frase teve enorme repercussão e continuará nos próximos dias, conforme o planejado. Porém, o conceito mais importante ficou esquecido.
Em tom de confissão, Lula pintou um audacioso auto-retrato que merecia ser examinado com muita atenção. Disse ele: ‘Gosto de falar com o povo. Odeio intermediário com o povo. Esse negócio de gente falar por mim, eu não gosto. Por isso falo muito. (Folha, 22/10, pág. A-8).
Lula explicado por Lula é decididamente mais interessante – e mais preocupante – do que Lula visto pela grande mídia.
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