A grande imprensa comemorou com confete e serpentinas o arquivamento do projeto do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). O prematuro carnaval no meio da temporada natalina, impróprio e debochado, merece uma reflexão.
Os jornalistas independentes foram os primeiros adversários – também os mais credenciados e mais legítimos – da desastrada proposta engendrada pela Fenaj e apadrinhada pelo governo federal. Nas colunas onde manifestam-se livremente, seja na mídia impressa, rádio, TV, portais jornalísticos, em entidades como a ABI ou este Observatório, as candentes opiniões do expressivo grupo de veteranos profissionais ofereceu o suporte de credibilidade para a rejeição ao projeto.
Os editoriais das empresas de comunicação ou as posições institucionais do patronato, além de chochas, chegarem tarde e não conseguiram o respaldo da opinião pública porque estavam evidentemente comprometidas com interesses que nem sempre coincidem com os da sociedade.
Ao contrário da voz do dono, as vozes dos profissionais têm validade, são respeitadas, podem até coincidir com o que pensam as empresas que lhes pagam o salário ou pro-labore. Mas são vozes com assinatura, de jornalistas com currículo e, sobretudo, com biografia.
Fecho repentino
O grande debate sobre o CFJ, além da sua intensidade e duração, teve o mérito de revelar um novo emissor de opiniões em matéria de imprensa e liberdade de expressão. Ao tradicional binômio empresas-governo acrescentou-se um terceiro elemento: os jornalistas independentes. Este é um dado que tanto o governo como as empresas precisam levar em conta. Já não estão sozinhos na feira das idéias. Significa que poderemos chegar a uma situação semelhante à americana ou européia, onde o ponto de vista da empresa jornalística vem acompanhado por uma dose de suspeição não muito diferente da que envolve as manobras oficiais.
O patronato tentou capitalizar um triunfo que não foi dele. A única jogada empresarial efetiva foi a da Associação Nacional de Jornais (ANJ) – e não foi das mais dignas: peitou o deputado-empresário Nelson Proença (PPS-RS) para convencê-lo a pedir o arquivamento do projeto do CFJ, inclusive do seu substitutivo.
Jornalistas independentes não se regozijaram com o abrupto encerramento do debate sobre a mídia. Jornalista alimenta-se de controvérsias, empresas jornalísticas preferem apostar nas unanimidades. E no silêncio.