Por neurônios entendemos, obviamente, a razão. A nossa capacidade de raciocinar, de analisar e de tirar conclusões lógicas, pertinentes, que se compatibilizam como os demais conhecimentos. Pois justamente neles, neste tipo de células, que ocorre tal operação, e não no coração, como acreditavam os egípcios e romanos. E que levava nossos índios pré-colombianos a comer o mesmo para adquirir a coragem do guerreiro que suponham nele se alojar. Justamente ela, a capacidade de raciocínio superior, que nos dá a diferença do mundo animal, já que do mineral, não precisa tanto. Qualquer ameba o faz. Mas a racional, que nos torna homens, pessoas, indivíduos por excelência, que afastamos o medo do trovão ou da procela, só nós desenvolvemos até hoje dentro do reino animal. Que enfrentamos a doença com o seu entendimento e não pela espera inútil de salvação milagrosa pela mágica que não chega nunca. A não ser a resignação e a aceitação passiva do que pode ser evitado.
‘O raciocínio é uma operação lógica discursiva e mental. Neste, o intelecto humano utiliza uma ou mais proposições, para concluir, através de mecanismos de comparações e abstrações, quais são os dados que levam às respostas verdadeiras, falsas ou prováveis. Das premissas chegamos a conclusões.
Foi pelo processo do raciocínio que ocorreu o desenvolvimento do método matemático, este considerado instrumento puramente teórico e dedutivo, que prescinde de dados empíricos.
Através da aplicação do raciocínio, as ciências como um todo evoluíram para uma crescente capacidade do intelecto em alavancar o conhecimento. Este é utilizado para isolar questões e desenvolver métodos e resoluções nas mais diversas questões relacionadas à existência e sobrevivência humana.
O raciocínio, um mecanismo da inteligência, gerou a convicção nos humanos de que a razão, unida à imaginação, constitui os instrumentos fundamentais para a compreensão do universo, cuja ordem interna, aliás, tem um caráter racional, portanto, segundo alguns, este processo é a base do racionalismo.
Logo, resumidamente, o raciocínio pode ser considerado também um dos integrantes dos mecanismos dos processos cognitivos superiores da formação de conceitos e da solução de problemas, sendo parte do pensamento’ (Origem do resumo: Wikipédia, a enciclopédia livre).
O símbolo e o que ele representa
‘Fé (do grego pistia e do latim fides) é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém’ (ibidem).
Claramente a fé se opõe a razão de modo primordial, de forma fundamental, num sentido visceral. Quem tem fé se nega levar a razão para analisar a mesma. Por isto a mesma é fundamentalmente irracional. Uma luta constante contra a razão, a negação dos fatos e provas que desmintam o objeto da fé. O crente não chega à conclusão após aprender diversas alegações, mas aceita como verdade apenas por ter sido ensinado aquela fé e, portanto, irracional de se crer (senão, não seria fé).
Todas as formas de raciocínio e de filosofia, quanto mais da ciência, são negadas e abandonadas pelo fiel em sua luta para se manter afastado dos apelas à razão, a verdade que pode ser obtida por ela, para manter aquela fé ensinada.
A fé faz muito mal ao fiel, pois elimina deste a melhor característica que sintetiza o ser humano. A capacidade de pensar, de elaborar uma análise, de chegar a uma conclusão lógica e válida, de desenvolver uma estratégia baseada no conhecimento e não na fantasia e no pensamento mágico.
Segundo o Dr. Phillips Stevens Jr., antropólogo, o pensamento mágico envolve vários elementos, entre os quais uma crença na interconexão de todas as coisas através de forças e poderes que transcendem conexões tanto físicas quanto espirituais. O pensamento mágico investe de poderes e forças especiais muitas coisas que são vistas como símbolos. Segundo Phillips, ‘a grande maioria das pessoas do mundo… crê que existam conexões reais entre o símbolo e aquilo que ele representa, e que um poder real e potencialmente mensurável flui entre eles’. Ele acredita existir uma base neurobiológica para isso, embora o conteúdo específico de qualquer símbolo seja culturalmente determinado. (Não que alguns símbolos não sejam universais, como por exemplo, o ovo.)
Alegações anedóticas
Um dos princípios guias do pensamento mágico é a idéia de que coisas que se parecem com outras são conectadas causalmente de alguma maneira que desafia o teste científico. Outro princípio guia é a crença de que ‘coisas que estiveram em contato físico ou em associação espacial ou temporal com outras coisas retêm uma conexão mesmo após serem separadas’ (Phillips). Pense nos detetives paranormais alegando poder obter informações sobre uma pessoa desaparecida ao tocar um de seus pertences. Ou pense na paranormal de animais que alega poder ler a mente do seu cão olhando para uma foto dele.
Segundo o psicólogo James Alcock, ‘pensamento mágico é interpretar dois eventos que ocorrem próximos como se um tivesse causado o outro, sem qualquer preocupação com o nexo causal. Por exemplo, se você acredita que cruzar os dedos trouxe boa sorte você associou o ato do cruzamento de dedos com o evento favorável subseqüente e imputou um nexo causal entre os dois’. Alcock observa que, devido à nossa conformação neurobiológica, somos propensos ao pensamento mágico e assim o pensamento crítico fica freqüentemente em desvantagem (Dicionário Cético).
O homem de fé foi criado fora da necessidade de pensar e de analisar nos seus anos de escola. Foi erradamente ensinado a confiar em livros apresentados como verdade inquestionável pelo perigo de ofender os pais, os adultos e a um ser vingativo invisível, a acreditar nas pessoas que ensinavam em vez de confiar na análise e na possibilidade de erros que os antepassados pudessem ter perpetuado. Isto que os exemplos são milhares: Apis, Ra, Toth, Anúbis, Bastet, Hathor, Hórus, Khnum, Maet, Zeus, Mercúrio, Thor, Mitra… O que é a coisa mais corriqueira de ocorrer. Mormente com a enormidade de religiões e deuses desaparecidos, acrescenta-se a mesma enormidade de religiões e deuses na atualidade. Assim, insistir no ambiente público com discussão e tentativa de imposição de uma visão religiosa é uma demonstração de irracionalidade e falta de formação cultural adequada. Para tal não só é necessário ignorar a lógica, como a razão, a história, toda a filosofia através dos milênios, para por fim insistir contra o conhecimento científico e a realidade em sua volta com alegações anedóticas.
Santos cegos nas ilusões
Alberto Dines, em 24/3/2009, lembra disto em ‘Reclamar contra a excomunhão é defender o `arbítrio laicista´‘, a respeito do doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, e diretor do master em Jornalismo e da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia, Carlos Alberto Di Franco. Mesmo com a sua paupérrima formação humanística, mesmo aí erra ao ditar conduta contrária a que os jornalistas deveriam tomar na imprensa. Não cabe aos jornalistas seguirem ao rei, ao ditador ou ao governante de plantão. Muito menos seguir uma religião como ‘oficial’ ou mais racional do que as outras alegações fantásticas quando a mesma justamente é apenas mais uma, e já provada ser falsa. Imagine a verdade jornalística mudar em cada bairro conforme a religião predominante, ou em uma nação ser submetida ao clero obscurantista e irracional mais uma vez. E, em outro país, ceder a outro Deus de plantão (ou a deuses). No mínimo o jornalismo deve estar comprometido com a verdade, com a tentativa honesta de chagar o mais próximo da mesma, do que aceitar a escolha de um modo de poder que nos obriga a lutar contra a liberdade, a filosofia e a ciência. Pela sua formação, Di Franco está no seu papel: enganar o leitor para ‘comunicar’ a sua crença. Mas como jornalista é de uma enorme pobreza intelectual e atraso: anacrônico. Parece que não aprendeu a diversidade nos bancos escolares pela qual passou na sua vida.
Em ‘Imprensa ignora primeira santa brasileira‘, o escritor, doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá, onde é coordenador de Letras e de teleaulas de Língua Portuguesa, Deonísio da Silva, em 17/3/2009, no OI, já criticara a imprensa por adotar esta recusa de cair no proselitismo fora de século. Exemplificando nos seu comentário lembra o grande poeta mineiro Murilo Mendes, que em Os discípulos de Emaús escreve: ‘Os artistas pensam que sabem. Os cientistas não sabem que não sabem. Os santos sabem que não sabem.’ Em termos de liberdade literária é valido, afinal, em literatura podem-se criar deuses, santas, dragões e leviatãs. Seres inanimados tomam vida, seres vivos transforma-se em pessoas. Mas em termos de razão não podemos nos levar pelas ilusões por elas criadas para entreter as crianças.. Muito menos seguir ‘santos que sabem que não sabem’. Não é a antítese do saber? Do viver? Seguir santos (!) cegos nas suas ilusões vãs apenas pela nossa capacidade de negar a razão?
Seres iluminados pela crença
No mesmo livro Murilo Mendes escreve: ‘existem cinco elementos: o ar, a terra, a água, o fogo e a pessoa amada’, relata o Deonísio. Como poesia vale, como ciência é um disparate.
Em termos de literatura a Bíblia é, igualmente, um exemplo marcante. Mas em termos de verdade, ela é apenas literatura fantástica, como todos os seus atributos, e nenhum mais. Não se pode tirar dela nada mais do que isto. Não se pode diferenciar da literatura fantástica da época, cuja primeira tentativa de depurar caindo fora ocorre com Heródoto, historiador grego (484 aC-420 aC). A mistura de fatos históricos, com percepções errôneas, e invenções claras a tornam uma narrativa de pouca credibilidade e de menos uso ainda. Mas para uso irracional, ela é possível de ser usada. E de fato o é por algumas das milhares de crenças antagônicas derivados da sua ‘verdade’ de livro velho. Homens antigos falavam mesmo com Deuses, nós, modernos, que perdemos esta capacidade? Homens antigos ignorantes não enganavam o próximo, só os homens de hoje em dia. Como de igual modo e método é feito pelos demais livros ‘revelados’ por literatos de épocas passadas imbuídos dos mesmos sentimentos dos autores mencionados acima. Proselitismo contra a razão em nome de exercer o poder.
Negam-se a conhecer o atual estágio de desenvolvimento filosófico-científico da humanidade para defenderem cegamente inverdades já desmentidas. Lutam para impor a intolerância e o fanatismo cego que reclamam do islã aqui (Veja, ed. 1721 – ‘FUNAMENTALISMO: Fé Cega e Mortal’), pois aqui a intolerância e o atraso são outros: são cristãos. Diferente para cegos, para quem se nega ao uso da razão. O que exigem estes seres iluminados pela crença é que se suspenda totalmente o uso da faculdade racional humana para que suas alegações absurdas passem a ser impostas as crianças e na sociedade em templos de negação da razão, para no futuro produzirem os mesmos males que vemos no oriente, e que o ocidente passou dois mil anos sofrendo.
Ateus não pedem dízimo
A leitora do OI Adriana Turina, São Paulo-SP – Analista de TI, defende que é ‘falta de respeito que ele (eu) demonstra com milhões de pessoas que acreditam em Deus, isso sim é intolerância, o resto é fichinha.’ O que faz sentido com a religião. Sócrates foi condenado por desacreditar os deuses da cidade. (Quem eram eles mesmo? Alguém sabe dizer por quais foram?) Era um desrespeito aos crentes cristão que a maioria fosse politeísta. Para tanto os cristãos eliminaram os mesmos. Não apenas argumentaram. Quem não aceitasse que Jesus não fosse humano era levado a fogueira. Depois foi um desrespeito dizer que a terra era redonda, pois agora a maioria do Deus único achava assim. E eliminavam quem dissesse o contrário. Depois foi a geocentrismo que não se podia ‘desrespeitar’ a maioria. A seguir, de início, os judeus desrespeitavam a maioria, culminando no século 20 com a sua tentativa cristã de produzir a solução final na Alemanha: tentar eliminá-los mais uma vez. Na descoberta da América desrespeitaram a maioria que fazia sacrifícios humanos para os seus deuses. Parece que o respeito pela opinião irracional da maioria não é possível de acatar. Tanto que no islã não se permite a estes, que aqui se consideram a maioria correta para impor o seu Deus homem, de professarem a sua fé ou possuírem seu livro sagrado! A maioria. Ou na Índia dizer que elefante não é Deus.
Já o leitor Darlan Feitosa, Açailândia-MA – administrador, alega que ‘o papel da ciência não é desmascarar a religião, muito menos a religião confrontar a ciência explicando como as coisas funcionam’. Não devemos desrespeitar o irracional por que a maioria prefere negar a racionalidade e se sente ofendido por esta qualidade humana. Pensar, analisar e concluir. Por que a ciência deveria se deter frente a afirmações falsas que visem ou a garantir coisas ou a levar as pessoas a ações inúteis? Por que deveríamos negar a pensar em alguma questão frente à vida e ao futuro? Assim como o leitor defende que a religião é necessária para os ignorantes não se desesperarem. Pois o que funcina para quem tem educação não funcionaria para a ‘massa’! Para que tanto gasto e esforço para ensinar algo falso, em de ensinar os ‘ignorantes’ para deixar de o serem? Isto seria razoável?
Ateus não pedem dízimo, não constroem templos, não prometem vida fácil, salvação de nada, não excomungam ninguém, não santificam nada. Apenas sugerem que se use o cérebro, a razão, o raciocínio. Com menos deuses, crentes e religiões terão menos mortes, e poderemos nos sentar e discutir racionalmente os problemas da humanidade em pé de igualdade como seres humanos completamente iguais.
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Médico, Porto Alegre, RS