Em 2009, o Brasil nem esperou o ziriguidum carnavalesco terminar para que a política começasse a ferver no noticiário. A sucessão presidencial entrou definitivamente na ordem do dia, com a movimentação dos pré-candidatos, entre os quais, pelo menos três se mexem num ritmo mais desenvolto… Ou com mais evolução na Sapucaí, para aproveitar o embalo. No bloco do PT, a bateria aquece o enredo de Dilma Rousseff, enquanto no ninho tucano, não se decidiu se será do governador José Serra ou do governador Aécio Neves a vaga para disputa presidencial.
Diante desse enredo, os observadores da imprensa devem ficar duplamente alertas para a possibilidade de que algum veículo embale nessa ou naquela candidatura, sem que isso fique transparente para seus leitores. Como empresas privadas, os jornais têm todo o direito de manifestar suas preferências. Nos Estados Unidos, tornou-se mesmo uma praxe, como acontece com o New York Times. Entretanto, quando um jornal americano declara seu apoio a um candidato, isso é feito por meio de um editorial, na reta final da campanha, de maneira muitíssimo clara, sem subterfúgios. Assim, busca-se preservar a neutralidade da cobertura e igualdade de condições entre os candidatos.
A cobertura de um episódio recente mostra quanto essa questão é relevante e de atualidade entre nós. No dia 11 de fevereiro, Aécio Neves foi a Brasília, onde teve uma série de reuniões e encontros com políticos, entre eles José Sarney, que acabara de ser eleito para a presidência do Senado. Obviamente, o assunto era notícia – e não meramente uma visita de cortesia entre figuras que ocupam função de destaque na República. Há tucanos que defendem a realização de prévias no PSDB, entre eles Aécio, que também mantém sua antiga agenda de estabelecer pontes e dialogar com outras forças políticas.
Erraram todos ou errou um?
No dia seguinte, o episódio foi tratado como notícia de grande relevância pelos jornais O Estado de S.Paulo, Valor Econômico e O Globo, para ficar apenas nos jornais considerados nacionais, mas não mereceu nenhuma linha na Folha de S.Paulo.
O Estadão, inclusive, deu alto de página ímpar com a foto do governador de Minas e do presidente do Congresso. O título era ‘Aécio também quer antecipar escolha no PSDB’. Também foi alto de página no Valor Econômico: ‘Serra terá que ser o candidato de todo o partido, diz Aécio’. O Globo deu o seguinte título: ‘De olho em 2010, Aécio vai a Sarney’. Acompanhava o seguinte subtítulo: ‘Governador abre espaço para a aliança com senador na sucessão presidencial’. Tanto o Valor quanto O Globo também deram foto do encontro.
Erraram todos os jornais ao dar muita importância a um fato sem importância, ou errou, de novo, a Folha que parece ter pulado o evento na hora de diagramar suas páginas? Além de leitor, sou assinante da Folha de S.Paulo, mesmo não morando no Estado. A cobertura política do jornal não pode cometer essas falhas, uma vez que a Folha não deveria ser de São Paulo, mas de todo o Brasil.
Para quem quiser saber mais:
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Estadão: ‘Aécio também quer antecipar escolha no PSDB‘**
O Globo: ‘De olho em 2010, Aécio vai a Sarney‘**
Valor Econômico: ‘Serra terá que ser o candidato de todo o partido, diz Aécio‘******
Empresário e estudante de Comunicação Social na PUC-Minas, estudante de Direito na Faculdade Milton Campos e secretário nacional de Comunicação da Juventude do PSDB, Belo Horizonte, MG