Os jornais fizeram uma boa cobertura factual do confronto entre policiais ocorrido na quinta-feira (16/10) perto do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo. Ao longo de todo o episódio, os sites jornalísticos mantiveram os leitores informados sobre detalhes da crise, considerada a mais grave envolvendo as forças policiais do estado. No entanto, as edições de sexta-feira pecam pela falta de informações e análises sobre o que está por trás do conflito.
Ao dar destaque à politização da crise, a imprensa dá uma grande volta no problema e desvia a atenção dos leitores de alguns elementos importantes para entender a questão da segurança pública em São Paulo. Para começar, o Estado de S.Paulo chama de ‘grupo’ a multidão de policiais civis que participava da manifestação. Sob qualquer critério, uma massa de 2.500 pessoas não pode ser chamada de ‘grupo’.
A Folha de S.Paulo passa longe de analisar a estratégia da cúpula da Secretaria Segurança Pública que, segundo o Estadão, teria errado ao misturar policiais civis e militares na tentativa de conter a passeata. Mas, o mais importante: os jornais paulistas continuam ignorando a verdadeira situação da segurança no Estado.
Fora dos jornais
A imprensa de São Paulo usa critérios muito diferentes na abordagem da questão da violência, por exemplo, quando se trata de notícias do Rio de Janeiro.
A greve da polícia paulista, que já completa um mês, expõe alguns problemas que a imprensa vem ignorando há muito tempo.
Eles são discutidos abertamente por integrantes das polícias civil e militar em blogs na internet e mostram que no meio da greve está embutida uma reação de parte da força policial contra aquilo que é chamado de ‘banda podre’ da segurança pública.
Pela leitura desses meios alternativos, por exemplo, fica-se conhecendo o caso de um delegado da capital que foi afastado de suas funções por ter descoberto falsificações nas estatísticas de ocorrências policiais na Secretaria de Segurança, ou o caso de um delegado de Santos que sofreu um processo administrativo e perdeu o cargo depois que denunciou um esquema de corrupção na Baixada Santista.
A imprensa presta um bom serviço ao informar o leitor sobre o agravamento das tensões entre as polícias civil e militar, mas a verdadeira guerra não sai nos jornais: ela se dá entre os policiais honestos e aqueles que se associaram ao crime.