Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A inocência de um filósofo experiente

No caderno ‘Mais!’ da edição da Folha de S.Paulo de 27/5/2007, Jürgen Habermas tratou de tema relacionado às modificações que a imprensa sofreu e sugere uma das formas de se resolver estas transformações para que a imprensa cumpra seu objetivo e possa ‘permanecer’ imprensa com qualidade editorial – e para que, sendo on-line, estas qualidades se revigorem.

O erro do filósofo, porém, chega a ser infantil dada a história intelectual do mesmo pois, segundo ele, ‘quando se trata de gás, eletricidade ou água, o Estado tema obrigação de prover as necessidades energéticas da população. Por que não seria igualmente obrigado a prover essa outra espécie de `energia´, sem a qual o próprio Estado democrático pode acabar avariado?’ E vai mais além quando diz: ‘O Estado não comete nenhuma ‘falha sistêmica’ quando intervém em casos específicos para tentar preservar esse bem público que é a imprensa de qualidade.’

Parece que quando indica que o Estado deve ser um ‘mecenas’ da imprensa, Habermas esquece como os regimes totalitários manipularam a opinião pública, subvertendo o povo e instalando a intolerância e a censura tanto de informação quanto de idéias. O filósofo demonstra certa inocência quando propõe o subsídio do Estado para a imprensa – basta comprovar a situação de boa parte dos veículos de imprensa regional que são subsidiados pelo Estado e, portanto, devem ‘conter-se’ quando resolvem criticar quem coloca o ‘pão’ em suas mesas.

Disposição para o diálogo

Além disso, mesmo que o subsídio do Estado fosse viável, como seriam os critérios de mecenato? Todos os veículos de imprensa seriam favorecidos, ou somente os ‘sérios’, nas palavras de Habermas? Quais os veículos ‘sérios’, sendo este um critério altamente subjetivo?

Falta a Habermas um senso crítico mais apurado ao propor ‘soluções’ para a imprensa. Esta, como concorda o próprio sociólogo, tem suma importância na consolidação da democracia e da sociedade moderna, portanto tem funções sociais que deve cumprir de forma imparcial e satisfazer a necessidade de informação, que é imprescindível na validação do Estado.

Portanto não pode estar sujeita a qualquer tipo de coerção; deve ser independente e não pode ser censurada, como acontece atualmente através dos anunciantes. É certo que a imprensa tem de rever seu papel na sociedade e sua forma de sustentação, pois a atual, alicerçada em verbas publicitárias, é responsável pela ‘crise’ mundial que vive o meio com o advento e popularização do efêmero da internet.

Do texto de Habermas, aproveitamos apenas a disposição para o diálogo, extremamente importante para a sociedade e do qual a imprensa sempre foge quando ele visa à reflexão de suas atitudes em relação à ‘liberdade de expressão’, deliberadamente usada em benefício próprio.

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Coordenador de Comunicação, Jundiaí, SP