Foram-se os tempos em que menos de meia dúzia de veículos de comunicação impressos somados a outras poucas unidades de noticiários televisivos eram as únicas fontes de informação de alcance nacional das quais bebiam o leitor/telespectador – mas não por inércia por sua parte em buscar novos afluentes de informação, uma vez que as alternativas que dispunham, além de poucas, não gozavam da popularidade e do apelo equivalentes aos veículos subsidiados pelo poder econômico dos tubarões da nossa comunicação social.
Assim, a informação, inobstante a natural necessidade de ser propalada sob as mais variadas perspectivas e em ambientes animados pelo pluralismo, viu-se até há pouco tempo restrita nas mãos de grandes grupos os quais, por oligopolizarem o mercado, não raro eram inconscientemente alçados pela população como uma espécie de soberanos da verdade; opiniões, artigos, colunas e matérias reproduzidas por tais meios possuíam maiores valor e credibilidade que quaisquer outros de menor notoriedade.
Dessa forma, a classe média brasileira, tradicionalmente a maior consumidora de informação no país, contribuiu, mesmo que de forma involuntária, para a restrição da credibilidade apenas aos maiores meios de comunicação do país, em que pese a informação ser um bem imaterial cuja natureza, por si só, o exige desconcentrado para que melhor cumpra a sua função social: a de informar consoante a verdade, animado por ela e indiferente a interesses escusos de cunho político e, reflexamente, também patrimoniais.
Mais acesso
Nessa esteira, fácil é observar que, em um modelo onde a informação se encontra valorizada pela sociedade apenas se veiculadas por este ou por aquele meio de comunicação, detentores de pomposas fatias do mercado e de absurdo poderio econômico, não há como as notícias chegarem aos seus receptores despidas de interesses que não condizem em sua plenitude com a função social mencionada.
Cientes de sua vasta influência, os grandes meios propalam através de sua programação novos valores e costumes que engendram novos padrões comportamentais absorvidos sem resistência por grande parte dos seus receptores que, por não terem a sua disposição fontes alternativas de informação e acesso à cultura e a uma educação de qualidade, costumam adotar, sem muita reflexão, a conduta e a opinião trazida por novelas, noticiários e programas de auditório cujas audiências costumam atingir níveis estratosféricos em um sinal que alcança até os mais remotos grotões do Brasil.
Todavia, com a popularização da internet, observou-se uma inusitada quebra desse paradigma, adquirindo o acesso à informação o viés multifacetado ínsito à sua natureza: as grandes mídias, tanto a impressa como a televisiva, viram-se confrontadas por novos mananciais informativos cuja credibilidade das matérias por eles trazidas se equiparou ao tradicional prestígio destes meios enquanto tradicionais formadores de opinião. A blogosfera e os sítios de notícias independentes, a título de exemplo, figuram-se como novas alternativas que, não raramente, desconstroem as teses capitaneadas pelos grandes meios de comunicação ao levantarem o véu que esconde suas reais intenções. A pecha de senso comum da qual se costumavam revestir os posicionamentos das maiores emissoras de TV e rádio do País vem gradativamente perdendo o status de única opinião reinante não só entre a classe média, mas entre todas as camadas sociais.
Com a disponibilização do acesso a internet também à população mais carente, seja mediante as lan houses que por seus serviços cobram preços módicos, seja através de iniciativas governamentais e de facilidades de crédito para a aquisição de computadores pessoais, constata-se uma maior aproximação daquilo que o jurista Paulo Bonavides chama de democracia direta, materialmente possível graças aos avanços da tecnologia da comunicação e legitimamente sustentável graças às informações corretas e às aberturas pluralistas do sistema.
Opinião das massas
Uma democracia efetiva só é possível sem os vícios decorrentes do oligopólio informacional. Conferir ao cidadão a possibilidade fazer sua coleta de dados nas mais diversas fontes e de cotejar os posicionamentos de diferentes veículos representa a quebra dos grilhões unidimensionais da opinião outrora impostos pelo oligopólio dos magnatas da comunicação social do Brasil.
O recente surgimento de um contraponto cibernético a tão vetusto poderio ocasionou, simplesmente, em uma maior defesa da população contra estocadas ideológicas e a direcionamentos político-partidários, vez que agora possuem mais alternativas para formar sua opinião com base em distintos pontos de vista. Posicionamentos antes dados como únicos e incontestáveis hoje tem seu teor e sua credibilidade questionados, não sendo acolhidos pelos seus receptores em muitas das vezes. Sinais de avanço na construção de uma sociedade mais plural e mais informada.
Alvissareiro, então, é o fato dos tradicionais meios estarem doravante cada vez mais desprovidos da particular e confortável condição de, sozinhos, formarem a opinião das grandes massas, agora menos propensas às suas ingerências e aos seus eventuais abusos. Só assim, com cidadãos bem informados e livres para pensar, é que atingiremos uma democracia mais próxima do ideal e mais consentânea com os interesses da coletividade.
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Acadêmico de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN