Sócrates (470-399 a.C.) foi condenado à morte por acusações de Meleto por pregar contra o sagrado. Contra os deuses da cidade pervertendo a fé dos jovens. Hoje ninguém sabe que eram estes deuses desrespeitados, mas apenas aquele que se matou para não dar o gosto de seus algozes fazerem isto. Recusou-se a fugir e deixar um testemunho de incoerência com o que pregava.
Hipócrates de Cós (460-377 a.C) entrou para a história da ciência e da medicina por ter negado a causa sobrenatural das doenças e enunciando a possibilidade racional de se descobrir as causas e o seu entendimento, produzindo tratamentos racionais. Negou causas sagradas para os males.
Em 391, atendendo pedido do então patriarca de Alexandria, Teófilo, Teodósio (379-392) autorizou a destruição de todas as instituições não-cristãs existentes no Egito: sinagogas, biblioteca de Alexandria, templo de Serápis e outros monumentos.
A morte de Hipátia (370-415), em 415, é considerada o fim da tradição de Alexandria como centro de saber. A grande biblioteca de Alexandria seria destruída pela turba religiosa e muito pouco do que foi aquele grande centro de saber sobreviveria até os dias de hoje. Não existiria mais tolerância e clima para o pensamento. Uma tragédia humana produzido pelo obscurantismo e o culto ao sagrado.
‘Revelações’ jogadas na fogueira
Todos sabem que Galileu Galilei (1564-1642) foi enquadrado pela Santa Inquisição, sua condenação e subseqüente renúncia à alegação de que a Terra gira em torno do Sol. Além da retratação, o tribunal do Santo Oficio impôs a Galileu a pena de prisão domiciliar perpétua e a repetição, semanal, por três anos, dos sete salmos penitenciais. Ofendera aqueles que se consideravam os guardiões do sagrado.
A influência predominante sobre Giordano Bruno (1548-1600) teria sido a da antiga religião egípcia do culto ao deus Toth, escriba dos deuses, inventor da escrita e patrono de todas as artes e ciências e identificado com o deus grego Hermes Trismegisto (três vezes grande) pelos neoplatônicos. (Além de trino, também subiu aos céus). O cardeal Belarmino (1542-1621) extraiu das obras de Bruno oito heresias; as quatro mais graves são duas teológicas e duas filosóficas – teológicas: (a) negaria a transubstanciação; (b) prioridade ideal e real do Pai e da subordinação do Filho, este originado de um ato da vontade do Pai, que lhe é preexistente; filosóficas: (a) pluralidade dos mundos (os atos divinos devem corresponder à potência infinita de Deus) implicaria também várias encarnações de Cristo um número infinito de vezes… (raciocínio tipicamente escolástico), e (b) alma presente no corpo como o piloto no barco. A 20 de janeiro de 1600, Bruno foi condenado a ser queimado vivo na fogueira.
O dr. Ricardo Camargo, advogado de Porto Alegre, RS, defende, de qualquer sorte, no livro que eu denomino propagandístico, a Bíblia, e que, para ele, merece tanto respeito quanto o Corão, os Vedas, os Upanishads, o Popol Vuh. Esqueceu certamente o Livro dos Espíritos de Alan Kardec, Analectos de Confúcio, Mahabharata, Bhagavad Gita, Upanishad, Shruti,Vedas, Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda, Atharva Veda, Yoga Sutras, Kama Sutra, Bíblia Satânica, Suna, Hadith, Tanakh, Talmud, Mitzvá, Sefer Yetzirah, Tao Te Ching, Kitáb-i-Aqdas, Kitáb-i-Íqán, Palavras Ocultas, Epístola ao Filho do Lobo, Os Sete Vales, Jóias dos Mistérios Divinos, Wicca, bruxaria etc.. Sem deixar de lado o Bule Sagrado e as obras de Emanuel Swedenborg. Não esquecendo os sessenta evangelhos suprimidos e destruídos pelo cristianismo, e as demais ‘revelações’ que foram ‘respeitosamente’ jogadas na fogueira sem cerimônia, ou colocadas no Index Librorum Prohibitorum.
Os desenhistas inteligentes
Os livros sagrados são obras literárias presentes nas crenças cujos autores teriam recebido uma possível revelação divina. Na opinião dos adeptos das respectivas religiões, tais autores eram pessoas iluminadas, que podiam se comunicar com as divindades inspiradoras. São considerados profetas, muitas vezes. Já a das outras, são inspirados pelos demônios ou anticristo, anti-semitas, anti-islãmicos etc., inspirando cruzadas, Jihad e guerras santas e religiosas as mais diversas.
A idéia do sagrado, algo que possa valer mais do que a liberdade e a vida dos seres humanos, nunca foi uma boa conselheira. É um engodo dantesco e deletério. A história da humanidade sempre mostrou que ele é falso e apenas limitado a credulidade passageira. Apenas que quanto mais se luta para mantê-los, mais tempo levam para serem desmascarados como obras humanas. A humanidade sofreu mil anos de trevas por este engodo que, no entanto, destruiu todas as culturas que tivera contato. Já se foram os diversos desenhistas inteligentes, os supremos juízes, os arquitetos da natureza como Zeus, Amon-Rá, Assur, Óðinn, Baal (em hebraico Senhor, Lorde), Astarte, Ishtar, Quetzalcoatl, Huitzilopochtli, Tupã, Manitu, os deuses que inspiraram Stonehenge…
Prosélitos da fé salvadora
Quantos milhões foram mortos, através da história da fé, por desrespeitarem o sagrado? Quantos estão enumerados no antigo testamento mortos por isto? Quantos pereceram no Egito nos seus três mil anos de Amon executados por duvidarem da verdade? Pessoas mortas por duvidarem da eficácia dos sacrifícios humanos e animais? Nestes dois mil anos de cristianismo trucidados por divergirem apenas?
Não tenho dúvidas que o que nos pedem não passa de censura para proteger tais livros de uma análise racional, como facilmente cada qual procede com o dos outros, mas exige que o seu fique a salvo de uma análise da mesma forma e afastada da visão científica. Que suas entranhas forjadas não sejam postas a luz do conhecimento prejudicando grandes negócios. Nada de novo na história dos enganos da humanidade.
Se tivessem existido jornalistas na idade da pedra estaríamos ainda hoje adorando o fogo como sagrado. A imobilidade cultural. Jornalistas teriam contribuído para a evolução do conhecimento ou seriam, pelo contrário, mantenedores do sagrado primitivo e combatentes do desenvolvimento humano como os adeptos do criacionismo hodiernos ou os prosélitos da fé salvadora? A mesma fé que não salvou nenhuma daquelas culturas e povos devastados pelo cristianismo.
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Médico, Porto Alegre, RS