Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A ofensiva contra a mídia

Qual a razão da súbita ofensiva contra a mídia um dia depois da estrondosa vitória do último domingo? Se o presidente reeleito dá provas efetivas da sua disposição de aproximar-se da imprensa, então por que esta sucessão de episódios na direção contrária sugerindo um clima de ameaças ao exercício do jornalismo?


Existem várias hipóteses para explicar a disparidade e o paradoxo. Uma das hipóteses, a mais humana e a mais compreensível, refere-se ao estresse. As equipes do governo e do PT estariam simplesmente esgotadas pela tensão dos últimos dois meses. Neste estado, as reações são exageradas, impensadas, e como há muita gente envolvida, sai tudo pelo avesso, desordenado.


Numa outra linha de raciocínio, estão as hipóteses do tipo conspiratório: de acordo com elas, a intenção de aproximar-se da mídia acompanhada por uma série de trancos seria uma forma de manter a mídia na defensiva, impedida de forçar as investigações a respeito dos desdobramentos do malogrado Dossiê Vedoin.


Papel essencial


Nos próximos dias, em seguida à primeira entrevista coletiva do presidente, as dúvidas talvez possam ser esclarecidas. Enquanto isso é preciso lembrar que esta blitz antimídia com cara de revanche prejudicou a agenda de uma discussão séria a respeito da estrutura da mídia em nosso país.


Ao se desgastarem numa briga em torno dos procedimentos jornalísticos no período eleitoral – no qual nem o governo nem o PT têm razão alguma – queima-se uma preciosa chance de iniciar o debate estrutural sobre mídia e que jamais foi ensaiado.


O feriadão talvez sirva para o repouso dos guerreiros e a sua substituição por estrategistas menos tensos e desgastados. Então ficará claro que a mídia é essencial para levar adiante o projeto de reconciliação nacional. Com os mensageiros assustados a mensagem chega sempre truncada aos destinatários.