Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A patrona do consumo

Atualmente, crianças amadurecem cada vez mais cedo, impulsionadas pela mídia, através de propagandas, desenhos animados, novelas e filmes que incentivam o consumo. São os consumidores precoces que almejam roupas, sapatos, brinquedos, games e outros produtos anunciados aos quatro cantos da televisão, jornais, revistas e internet. Sobretudo a televisão, na qual os pimpolhos, entre um intervalo e outro dos programas infantis, são bombardeados por novas formas de comer, vestir e brincar.

Muitos são os que não acreditam que tanta publicidade afete uma criança a ponto de cometer loucuras, do que apenas pedir a nova boneca incansavelmente para a mamãe ou papai. No entanto, o que era para ser ‘impossível’ se torna real. De acordo com notícia divulgada pelo site Terra nesta quarta-feira (10/9), um menino de cinco anos conseguiu fazer uma façanha:

Terra / Notícias Populares: Sérvio de 5 anos acha e gasta R$ 180 mil do pai

‘Um menino de 5 anos gastou cerca de R$ 180 mil em um shopping center de Belgrado, na Sérvia, após encontrar a quantia guardada em dinheiro no cofre do pai, informa nesta quarta-feira o diário online Ananova. Djodja Markovic reuniu um grupo de amigos e gastou a fortuna em roupas, brinquedos, bicicletas, doces, computadores e jogos eletrônicos. O pai do menino, o empresário sérvio Slobodan Markovic, mantinha o valor guardado em um cofre de sua casa e só percebeu o que aconteceu quando o filho e os amigos retornaram para casa com dezenas de sacolas de compras.’

A arte da sedução

Apesar de não sabermos ao certo o valor de compra de R$ 180 mil na Sérvia, pelo menos se supõe que seja uma quantia considerável, tendo em vista a quantidade de mimos comprados pela criança e seus amiguinhos. De todo modo, além de se pensar em como crianças com idade em torno de cinco anos puderam sair livremente comprando e os lojistas aceitando, mesmo sem a presença de um adulto, o que surpreende é a capacidade precoce de saber o valor do dinheiro. Deve se tratar de uma criança que já está habituada a freqüentar shoppings centers e ganhar mesada, por exemplo. Contudo, não aprendeu a tomar gosto pelo consumismo sozinha.

Pode ter aprendido com os pais, que também podem incentivar certo consumo ou possuem um estilo de vida considerável, assim como também pode ter sido influenciado pelas propagandas. São inúmeros os estudos realizados no ramo da psicologia do consumidor a respeito e, inclusive, não só nas Academias de Jornalismo, mas sobretudo nas de Publicidade e Propaganda, onde se aprende a arte da sedução.

‘Exemplos de moral’

O preocupante no fato que virou notícia é a forma pela qual crianças estão sendo influenciadas à compra, prematuramente. Outro ponto a se analisar é que, não só no que compete ao consumismo, como ao amadurecimento sexual precoce. Por meio de filmes, e principalmente seriados e novelas, crianças e pré-adolescentes trocam as saudáveis e inocentes brincadeiras com bonecas e carrinhos por saídas constantes a shoppings em busca não somente de compras, mas de encontrar um par romântico. Meninas com aproximadamente oito a dez anos de idade já querem saber de namorar, andar de salto e se maquiar, ao invés de brincar e estudar. Aos quatorze, freqüentam matinês ou mentem para entrar em boates durante a noite.

A televisão, meio de comunicação massivo e um dos mais poderosos, é um dos influenciadores nessa roda do consumo e amadurecimento das crianças. Malhação, Gossip Girl e outros entretenimentos são um prato cheio para aliciar os pequenos, transformando-os em mini-adultos. Incutem temas como sexualidade, gravidez e drogas, em um misto de ‘como-se-faz’ e ‘como-não-se-deve-fazer’, para tentar se transformar em ‘exemplos de moral’ na vida dos adolescentes. Todavia, somente os influencia, incita-os a praticar semelhante, pois tal qual na novela, talvez consigam se safar da mesma forma na vida real.

Já diziam muitos que a televisão é a ‘prostituta do lar’, a ‘máquina de fazer doido’. Podemos, ainda, nomeá-la com outra alcunha: a patrona do consumo.

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Estudante de Jornalismo, Faculdade Estácio de Sá, Florianópolis, SC