O governo brasileiro está pleiteando, junto a instituições multilaterais, a concessão da ajuda financeira anunciada na cúpula de Copenhague, em 2009, e confirmada em Cancun, no final do ano passado, para projetos de preservação do patrimônio ambiental.
Como se sabe, foi definido que os países desenvolvidos comporiam um fundo a ser destinado aos emergentes para ações de combate às causas das mudanças climáticas. No Brasil, a ocorrência das eleições empurrou essa questão para o pé da página, mas agora, passada a intensidade dos debates partidários, o tema pode voltar às manchetes.
Acontece que, como ocorreu nas complexas negociações de Copenhague e Cancun, ainda há muitos tópicos a serem esclarecidos. A começar pelo conceito de país emergente, ou país em processo de desenvolvimento.
Para alguns analistas que se manifestaram em torno das cúpulas do clima, o ideal seria que tais países, supostos beneficiários da criação do fundo financeiro, devessem apresentar antes de tudo um plano estratégico de desenvolvimento, ou seja, um compromisso com projetos de desenvolvimento sustentável.
Mas há quem considere, na própria imprensa brasileira, que tal compromisso seria uma armadilha, dada a grande quantidade de temas controversos quanto à questão ambiental, afetando, por exemplo, os projetos de hidrelétricas na Amazônia. E há, também, os nacionalistas de plantão que enxergam em qualquer condicionamento uma intervenção das potências estrangeiras a estuprar a soberania nacional.
Infraestrutura deficiente
Como a imprensa vai abordar essa questão?
Difícil adivinhar, dada a pouca tradição do jornalismo brasileiro quanto à pauta da sustentabilidade. De qualquer maneira, essa seria uma oportunidade para colocar em debate o tipo de desenvolvimento que queremos, quando se inaugura um novo governo.
Além da emergência ambiental, que se manifesta no território brasileiro com características muito específicas, devido ao imenso patrimônio de florestas, rios e outros bens a serem preservados, é preciso colocar sobre a mesa a questão social, velha dívida que temos com uma imensa parte da população.
A despeito dos avanços obtidos nos últimos anos, o Brasil ainda carrega a chaga da pobreza, sempre agravada pelas deficiências de infraestrutura sanitária e agora radicalizada pela epidemia do crack.
A cara da miséria
Como se pode descrever em poucas linhas, há muito mais a se fazer quando se fala em cumprir as metas do milênio e outros compromissos internacionais, sejam referentes ao clima, sejam dirigidos ao problema social.
Uma característica da pauta da sustentabilidade, que poucos veículos da imprensa brasileira já captaram, é que não existe problema isolado: os desafios ambientais e sociais se mesclam à questão da corrupção e da violência, remetem a políticas econômicas e hábitos políticos.
A complexidade da questão do desenvolvimento sustentável não pode ser entendida linearmente e em alguns casos nem mesmo a chamada visão sistêmica dá conta de abordar todo esse universo.
Assumir a missão de fazer crescer a economia de maneira consistente e contínua, cuidando ao mesmo tempo de preservar o patrimônio ambiental para as gerações futuras, reduzindo as desigualdades sociais e fortalecendo as instituições do Estado democrático é tarefa para estadistas, estejam eles no governo de uma nação ou na direção de uma empresa. Da mesma forma, é preciso uma visão de mundo ampla para interpretar essa realidade.
A imprensa brasileira se aproximou do tema basicamente pela porta ambiental. A questão social entra na pauta episodicamente, na divulgação periódica dos indicadores de desenvolvimento humano ou nas crises agudas, como o caso da guerra ao narcotráfico no Rio de Janeiro.
Os bolsões de miséria persistem por todo o país, sacrificando fatias enormes da população que, na maior parte do tempo, permanecem invisíveis para o jornalismo, assim como têm se mantido invisíveis para os organismos do Estado.
Mostrar a cara da miséria é uma das pautas da sustentabilidade.
Observatório na TV
O Observatório da Imprensa na TV apresenta nesta terça-feira (11/1) a reprise do especial ‘Tancredo, os bastidores da tragédia’, exibido originalmente em 6 de abril de 2010. Traz depoimentos emocionantes que ajudam a entender aquela encruzilhada brasileira no caminho da redemocratização.
Às 22h na TV Brasil, em rede nacional. Em São Paulo, Canal 4 da Net e 181 da TVA.