A mídia impressa assumiu o papel de oposição? As denúncias da mídia impressa são infundadas? O governo federal ameaça a democracia?
Estas três questões hoje comandam a disputa eleitoral e estão mais presentes no debate político do que na atuação dos candidatos. É uma perigosa distorção que poderá deixar marcas indeléveis em nosso processo político porque não estão sendo formuladas com a intenção de desarmar os espíritos – ao contrário, só aparecem para exacerbar os ânimos.
Resposta à primeira questão: a mídia impressa assumiu, sim, o papel de oposição, o que não é correto, mas a mídia impressa está reagindo a uma fortíssima e indevida intervenção do chefe do Executivo, o presidente Lula, em favor de seus candidatos.
O presidente Lula joga pesado quando esquece que é presidente de todos os brasileiros e a mídia está reagindo da mesma maneira, jogando pesado e pisoteando seus compromissos com o equilíbrio jornalístico.
Valor das sutilezas
Resposta à pergunta dois: as denúncias da mídia impressa não são infundadas, são geralmente consistentes, tanto assim que o governo reage com uma inédita rapidez para punir e apurar as malfeitorias. A formulação das denúncias, porém, desrespeita todos os postulados do jornalismo ao valorizar suposições, ilações e inferências.
Resposta à pergunta três: a retórica de palanque utilizada pelo presidente Lula constitui uma ameaça à democracia ou à liberdade de expressão? Esta retórica enfezada é imprópria, não há duvidas, mas quando o governo esperneia mas demite quem prevaricou está apenas disfarçando o seu desconforto.
Se a imprensa não consegue perceber nem valorizar estas sutilezas, só lhe resta apelar para a radicalização.
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