Duas perguntas que entrarão para a história das eleições no Brasil: ‘Ele é casado? Ele tem filhos?’. A propaganda de Marta Suplicy, candidata à prefeitura paulistana, questionando a vida pessoal do seu rival, Gilberto Kassab, está há quatro dias em todas as colunas políticas, mundanas e humorísticas. Saiu da internet para os jornais paulistas, destes para os jornais regionais, para o rádio e a TV. Neste fim de semana, estará nas revistas.
O episódio merece ser avaliado sob o ponto de vista estritamente midiático. Não foi deslize, nem gafe da candidata. Foi opção estratégica dos marqueteiros. A intenção era criar um pequeno embaraço para o oponente, pois nesta fase o comando das campanhas evita confrontos de grandes proporções, prefere deixá-los para os últimos dias. Não contaram com a percepção do eleitor-internauta que no segundo turno costuma estar mais atento.
Debate necessário
As duas perguntas fazem parte de um grande disparate. Luiza Erundina não é casada, nem tem filhos e foi eleita pelo PT como prefeita da São Paulo. O jornalista Juca Kfouri comentou na quinta-feira (16/10) com muita graça em seu programa esportivo na CBN que é casado, tem quatro filhos e seria um péssimo prefeito.
A insinuação de que não sendo casado e sem filhos o prefeito Kassab seria homossexual, e homossexuais não podem ser prefeitos, vai na direção contrária do que acontece na Europa: Londres e Paris têm excelentes prefeitos, ambos homossexuais assumidos.
O eleitorado mostrou que está mais preparado do que se supunha. Reagiu, a imprensa captou este movimento, permitiu que o debate prosseguisse aberto e agora a Justiça Eleitoral acolheu as queixas do candidato prejudicado.
Não adianta denunciar o ‘complô da mídia e das elites’. Faltam dez dias, tempo suficiente para um bom debate sobre o futuro da maior cidade brasileira.