O fotógrafo americano Joe O’Donnell, 85 anos, era conhecido como ‘O Fotógrafo Presidencial’. Morto em Nashville em 9/8, sua fama de autor de algumas das mais marcantes imagens da política americana do século 20 foi rapidamente dissolvida. Explica-se: muitas das fotografias atribuídas a O’Donnell, como a que mostra o pequeno John Kennedy Jr. fazendo continência durante a passagem do caixão de seu pai, em 1963, foram na verdade tiradas por outros fotógrafos.
Obituários publicados em jornais por todo o território dos EUA elogiavam a longa carreira do fotógrafo do governo, que teria acompanhado a rotina de diversas administrações e registrado momentos singulares que se tornaram ícones. Os elogios, entretanto, duraram pouco. Fotógrafos aposentados de diversas partes do país, muitos na casa dos 80 anos, reagiram aos obituários sobre O’Donnell com choque e indignação ao ver que um homem de que muitos nunca tinham ouvido falar levava o crédito por fotografias tiradas por eles.
Entrevistas
Não fica claro, afirma Michael Wilson [The New York Times, 15/9/07], por que O’Donnell mentiu sobre a autoria de fotografias. Aparentemente, ele não tinha nenhum ganho financeiro com suas alegações, mas talvez o desejo por reconhecimento tenha falado mais alto. O fotógrafo trabalhava para a United States Information Agency, órgão do governo que realizava programas de mídia, culturais e educacionais no exterior.
Ainda que tivesse testemunhado momentos importantes da História, O’Donnell era desconhecido do grande público. Sua fama veio a partir da década de 90, com entrevistas a emissoras de TV, jornais e estações de rádio em que contava como havia conseguido velhas imagens conhecidas pelos americanos – e muitas, pelo resto do mundo.
Confusão mental
Agora, versões que ele sustentou por décadas passaram a ser questionadas. Muito de sua experiência em viagens continua um mistério, pois é difícil se obter registros antigos de governos passados sobre seus funcionários. Também é complicado buscar a autoria de muitas das fotos famosas, já que, nas décadas de 50 e 60, a maioria das imagens de fotógrafos governamentais não recebia crédito quando publicadas.
A família de O’Donnell afirma que tudo não passou de um mal-entendido. Segundo a viúva e seus filhos, o fotógrafo não assumia a autoria de fotos que não eram suas por ganância ou fraude, mas por confusões em sua cabeça. Ainda que não tivesse sido diagnosticado formalmente com alguma doença mental, a família diz que O’Donnell não estava completamente lúcido em seus últimos anos, e por isso confundia eventos de que havia participado com fotos que havia tirado.
Investigação
A polêmica sobre a autoria das fotos teve início quando os obituários descreveram o importante papel de O’Donnell como autor da imagem do pequeno John John no funeral do presidente assassinado. O verdadeiro autor da foto mostrada nos jornais, Stan Stearns, trabalhava para a United Press International, e se diz ‘muito orgulhoso por ter contribuído com aquela fotografia para a História’. O’Donnell alegou ser autor da foto em entrevista à CNN, em 1999, contando inclusive detalhes de como conseguiu a imagem. Para aumentar a confusão, a fotografia mostrada durante esta entrevista pertencia a outro profissional, Dan Farrell, do Daily News – já que diversos fotógrafos captaram o momento do menino fazendo continência.
As reclamações sobre a foto de John John levaram a uma investigação sobre a carreira de O’Donnell, conduzida por um grupo de fotógrafos aposentados, em sua maioria, e repórteres irritados com as falsas alegações. Descobriu-se que diversas fotografias em uma galeria de arte em Nashville que representava o trabalho de O’Donnell e exibia mais de 80 imagens atribuídas a ele pertencem a outros fotógrafos. Entre elas está uma famosa foto do presidente Kennedy pilotando um iate, reconhecida pelo John F. Kennedy Presidential Library and Museum, em Boston, como de autoria de Robert Knudsen. E a lista só aumenta.