Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A polêmica do Uber

Venho acompanhando algumas matérias em O Globo, sempre no tom da injusta generalização, contra os taxistas do Rio. Há muitos anos mantenho contato direto com esses profissionais do asfalto, conheço de perto as dificuldades e a ingratidão do volante. O que mais causa perplexidade é observar setores da mídia enaltecendo um serviço irregular, como o Uber, e se referindo aos taxistas legalizados como se fossem personagens à margem da lei.

Não é de hoje que existe uma campanha, com objetivos misteriosos, que lança a opinião pública contra os taxistas legalizados. Agora se apoiam no Uber, um serviço pirata, para recarregarem as baterias contra os amarelinhos. Generalizam as críticas e desqualificam os motoristas de táxi para em seguida exaltar o Uber.

Numa coluna publicada em O Globo, na edição de 17/07/2015, o jornalista Pedro Dória se refere aos taxistas como concessionários. A informação é incorreta. O taxista é um permissionário, talvez ele tenha se confundido com a posição dos proprietários das Organizações Globo, que possuem uma concessão pública, como também são concessões as linhas de ônibus. Acredite, há diferenças entre concessão e permissão. Porém, o que realmente distingue o serviço legal de táxi está nas obrigações.

Em nova investida, O Globo publica um editorial na edição de 19/07/2015 para comparar a indignação de taxistas à revolta de operários do século 17 e termina o artigo com uma conclusão digna de Jornada nas Estrelas: resistir é inútil. O taxista regularizado é obrigado a retirar em cartório quatro certidões de nada consta criminal (que não são gratuitas), paga todos os anos a média de quatro taxas de vistoria, imposto de renda, contrata seguro que cubra danos a terceiros, realiza exames psicotécnicos e psicológicos de cinco em cinco anos, exige-se a troca de viatura com seis anos de uso e para os passageiros existem canais oficiais para onde podem encaminhar reclamações, além dos conselhos de ética que são comuns em cooperativas.

Ganância por um mercado delinquente

A luta contra o Uber deve seguir pelas vias judiciais, mas o estarrecedor não é a condenação genérica aos táxis legalizados, mas o apoio de qualquer mídia à pirataria do Uber. O Uber nada mais é do que uma tentativa de exterminar o serviço de táxi, rompendo com todas as regras de fiscalização e segurança que os taxistas cadastrados na SMTR precisam seguir.

Desculpem-me pelo pensamento antiquado, mas considero um desrespeito enxovalhar toda uma categoria que trabalha de sol a sol, enfrentando os perigos e a dureza do asfalto, apenas para exercitar a feroz intenção de destacar uma empresa que pratica oportunismo e irregularidade.

Agora, digam-me, onde podemos ver estatísticas e documentos formais que sustentem tantas críticas genéricas aos taxistas? Onde podemos comprovar que o Uber presta melhor atendimento? Por que alguns jornalistas descrevem os taxistas como profissionais capengas e elevam o Uber a um serviço perfeito? Quantos testes foram feitos em cada uma das modalidades? Ou será que todo o julgamento é feito em cima de palpites e impressões pessoais de quem emite a sentença?

Algo básico no bom jornalismo é ser imparcial para ser justo, é utilizar dados concretos, e não fofocas de comadres. Não, não precisamos falar do Uber. Exaltar o Uber em detrimento dos taxistas legais é o mesmo que aconselharmos o público a comprar mercadorias em contrabandistas, pois é importado e sai mais barato do que ir a uma loja credenciada.

O que testemunhamos no Uber não vai além da sede gananciosa de ocupar um mercado delinquente, somente para abocanhar o lucro livre de obrigações tributárias. E o Globo apoia.

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Alexandre Coslei é jornalista e escritor