Costumo ouvir os discursos dos presidentes da República. Acho importante, instrutivo e uma fonte de informação que não usa porta-voz. Até me acostumei com os do presidente Lula. No início, assustava-me com os erros de português, de sintaxe, de pronúncia. Mas depois comecei a achar irrelevante, pois o conteúdo que busco lá estava, em alto e claro som.
Na quinta-feira (24/7/) não foi diferente. Lá estava o presidente discursando no Planalto, na saída do ministro da Defesa, Waldir Pires, e na posse de Nelson Jobim no Ministério. Mas qual não foi minha surpresa, quando deparei com o presidente amedrontado com os acontecimentos. Sim, amedrontado. Declarou que pediu a Deus, mesmo sabendo que seu pedido nunca iria ser atendido, que o acidente com o avião da TAM, que se espatifou na saída da pista de Congonhas, fosse o último. Ninguém que se preze quer que outro avião caia. Claro que todos pedimos a Deus isso, e tenho certeza que meu pedido tem o mesmo status que um pedido de presidente da República. Mas o que me assustou foi a colocação nas mãos de Deus do fato em questão. Os ‘homens do presidente’, encarregados da área da aviação, devem fazer tudo o que está a seu alcance para brecar o caos aéreo. Rezar somente não é o caso.
Atitudes enérgicas
O caos aéreo teve início quando da queda do avião da Gol, no ano passado, e se estende por cerca de dez meses, sem que nada tenha sido feito até agora. Trata-se de um monte de informações desencontradas, deixando a imprensa atônita, sem saber em quem acreditar, para divulgar. O papel da imprensa é o de bem informar o público, com notícias de feitos e opiniões para que a população tenha tranqüilidade para retornar à vida normal, sabendo que algo está sendo feito e que as coisas logo entrarão nos eixos. Aliás, é obrigação da imprensa. Mas o que divulgar? A quem recorrer?
O governo, as entidades, os órgãos, as empresas envolvidas com a aviação brasileira, têm que preservar o público, informando corretamente o curso das investigações. E o único meio de informar é através da imprensa abastecida de informações e de fatos concretos. Reclamar da imprensa, dizendo que ela pende para este ou aquele lado, nada acrescenta. A falta de informação faz com que os jornalistas busquem outras fontes para montar suas matérias.
O jornalista sabe o que o povo quer saber e é sua obrigação informá-lo. Com certeza, há no Brasil muita gente que procura os jornais diariamente, em busca de informações fidedignas e atualizadas que os abasteçam para tomar decisões para voar de uma cidade para outra.
Não é justo que se peça simplesmente aos passageiros que rezem para que as aeronaves não tenham pane. Há que se tomar atitudes enérgicas e municiar a imprensa de informações corretas para que a população volte a crer que voar no Brasil é seguro. Se não for assim, o caminho de retorno à confiança na aviação brasileira será longo. Coisa para governos futuros. Pois este, infelizmente, parece sucumbir aos diz-que-diz dos gabinetes palacianos.
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Engenheiro, Brasília, DF