As celebrações e as atividades jornalísticas e políticas a propósito do 11 de Setembro não se fazem a propósito de vitória. E se não o fazem, dissociados da visão gloriosa que o Ocidente tem de si mesmo, é por não poderem fazê-lo. O acontecimento de 11 de setembro de 2001 não se completou ainda.
A concepção histórica e social, religiosa e combatente que gerou o ataque vitorioso às torres simbólicas não deu sinais, nestes dez anos seguintes, de que as respostas ocidentais a tenham reduzido à vida vegetativa. Para nem falar em extinção. Está viva, sem sinal de derrota próxima, na geografia hostil às forças norte-americanas e outras que se enredam em mortandade até hoje sem efeito além da mortandade mesma. A par de ser esse enredamento a causa, agravante senão originária, de gastos que têm uma quota alta de responsabilidade na crise do poder e da vida nacional nos Estados Unidos.
Nos dez anos recentes, nada, entre os norte-americanos, pôde desfazer-se por completo das influências decorrentes do 11 de Setembro. O poder policial agigantou-se a ponto de se tornar inconciliável com a democracia. E o medo conferiu-lhe primazia sobre os direitos gerais de cidadania, tornados alcançáveis e vitais desde que enfim abolida a discriminação racial há cerca de 50 anos.
Dor e pasmo
Nada na vida social, política e militar americana voltou à sua natureza depois da derrubada das torres gêmeas. O que Barack Obama prometia era a superação dessas condições, a começar da retirada quase imediata das tropas invasoras do Iraque e do Afeganistão. Desistiu ou fracassou, não faz diferença. Nem os arremedos e promessas de retirada futura têm sequer o mínimo de crédito. A arrogância natural dos norte-americanos, fruto personalizado do seu êxito nacional sobre o planeta, continua a mesma, porém minada por sentimentos de insegurança e por interrogações até aqui insuperáveis. E, pior, sem indícios de se deixarem superar em tempos mais ou menos próximos.
As celebrações nos Estados Unidos e a abundância da rememoração jornalística do 11 de setembro de 2001 ocupam-se da dor e do pasmo de uma derrota que não teve, e não se sabe quando e se terá, o seu reverso.
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[Janio de Freitas é colunista da Folha de S.Paulo]