Na posse da nova diretoria da Associação Nacional de Jornais e na entrega do prêmio Comunique-se, os pólos profissional e empresarial do jornalismo se encontraram na defesa da liberdade. É o que fica para quem ouviu só os trechos dos discursos selecionados para a ampla cobertura dos dois eventos. É o que convém.
Na ANJ, o líder empresarial e convidados mostraram os dentes contra o dragão da escuridão que ameaça a livre imprensa. Encarnado na figura do Conselho Federal de Jornalismo, agride a empresa da informação e a sociedade-mercado, cujos interesses só podem coincidir.
Na premiação, algumas estrelas do maior grupo de comunicação do país abanaram a cauda diante da causa. O jornalismo é uma paixão; regras, normas, controle de qualquer espécie (mesmo a lei da profissão) não combinam com o que os jornalistas têm a oferecer à sociedade-público.
Exceções e não-notícia
À mesa dos donos do negócio, o presidente da República evitou polemizar, e mesmo assim é notícia. Ter assinado a mensagem ao Congresso que cria o CFJ é sua cruz. Conselhos em geral não são bons para os negócios – e só aos incautos parece que aqui o negócio seja informar o povo para que ele possa se governar.
Pois o negócio, para patrões e alguns de seus melhores empregados, é não existir governo. É poder manipular, adaptar, distorcer, ‘comentar’ a informação, nunca contra o lucro da empresa. E empregar a qualquer um que se preste a esse papel. Isso é poder.
Na festa do chão-de-fábrica, estrelas brilham, poderosas. Para o público. Para si mesmas. Para elas, não há mordaça, leis ou conselho, só há público-mercado. Entendem e falam a língua do dono; isso é poder, e poder é tudo.
Existem, claro, as exceções. Que, neste caso, não são notícia.
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Jornalista