Já se escreveu nesta coluna sobre uma espécie de “economia do ódio” que vem contribuindo para a subsistência da imprensa. O lixo despejado nas áreas destinadas aos comentários de leitores –e nas redes sociais, onde se compartilham os textos publicados em jornais e revistas– resulta em audiência para os sites de notícias e, logo, em receita publicitária.
A economia nacional derrete. E o jornalismo enfrenta um período de dúvidas existenciais do qual não sabe com que cara sairá. Como pregar equilíbrio e inteligência num momento em que destempero e estupidez pagam as contas? É pregar no deserto.
Este contexto desfavorável torna ainda mais importante o editorial “Submissão“, publicado por esta Folha no domingo (14). O artigo se contrapõe com firmeza à cruzada obscurantista que o Congresso Nacional está empreendendo. O mesmo fez Bernardo Mello Franco em “Tirania da maioria“, nesta página, na terça (16).
É amargo e fundamental ressaltar, como faz “Submissão”, que o retrocesso promovido pelas seitas lideradas por Eduardo Cunha não se dá à total revelia da população, mas satisfazendo parte expressiva dela.
Chega a ser pedagógico: graças à fraqueza do Executivo, o Congresso levanta as tampas dos nossos esgotos. Fascismos, racismos, intolerâncias religiosas e de classe, desejos genocidas… Elementos que marcam toda a história brasileira e andavam contidos pelo que se acreditava ser um amadurecimento democrático ressurgiram com força.
Se imprensa, forças políticas sérias –não as que, em busca de ganhos imediatos, endossam as vontades de Cunha– e setores da sociedade (mesmo minoritários, pois também têm direito à voz) não reagirem, a serpente sairá do ovo. Foi um pouco sobre isso que se tentou falar neste espaço nos últimos meses.
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Luiz Fernando Vianna, da Folha de S.Paulo