Em meados de dezembro do ano passado, o assunto do momento entre os simpatizantes do governo petista era o lançamento do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Cerca de seis meses após o estrondoso lançamento do livro, que logrou alcançar marcas recordes de vendas, figurando entre os mais vendidos por várias semanas, não vingou a CPI tão falada que apuraria os malfeitos ocorridos na gestão pessedebista do processo que transferiu para mãos privadas a então Companhia Vale do Rio Doce, o sistema de telefonia etc.
Cumpre lembrar que o Partido dos Trabalhadores sempre se capitalizou eleitoralmente da inaptidão do PSDB na hora de justificar a transferência de patrimônio estatal para mãos privadas. Em anos de eleição presidencial, sempre que o assunto veio a baila, o candidato tucano da hora se viu em maus lençóis. Geraldo Alckmin, em 2006, chegou a se fantasiar totalmente de broches, bottons e bonés de estatais, em uma reviravolta completa das diretrizes tucanas. Em tempos de ventos macroeconômicos benfazejos, nos quais a subsistência de capital público em bancos fez toda a diferença, lembrar que houve um governo disposto a se livrar de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal rendeu ótimos dividendos, contribuindo bastante para a derrota de Alckmin e para o segundo malogro de José Serra. Na primeira derrota do segundo, em 2002, a economia ia mal, a despeito de uma empresa do porte da Vale ter dado adeus ao controle direto do Estado em nome de um suposto saneamento financeiro-administrativo do Brasil, que não aconteceu. A má percepção do público eleitor quanto às privatizações, portanto, foi importante fator de aquisição de votos pelo Partido dos Trabalhadores nas três eleições em que este partido se saiu exitoso.
O PIG não é mais o mesmo
Hoje surge novo assunto trepidante, invocando para si todas as atenções de plateia simpática ao atual governo. Não se podem abrir tantas CPIs quanto se entender necessário. Há limites. De modo que chegou-se a ele com o surgimento da publicidade dos fatos a envolverem Carlinhos Cachoeira. Sobrou para a CPI da Privataria, que foi deixada de lado para a implantação da CPI do Cachoeira. Alegam os simpatizantes do governo que esta CPI tem maior poder para trazer dividendos às hostes petistas, já que poderá até mesmo fomentar um eventual debate sobre a regulamentação da mídia, uma vez que há quem sustente que a promiscuidade da revista Veja com o contraventor mencionado deverá ser melhor destrinchada.
Já havia tido notícias desta linha argumentativa ora levantada pela militância petista. Há limites regimentais, de fato, para a implementação de múltiplas CPIs simultâneas. Estou acompanhando o desenrolar dos fatos e não me surpreenderei se daqui a uns dias surgir novo material explosivo, apto para implodir a cachoeira de engodos ora verificada, fazendo a atual CPI virar pizza. Aguardemos.
Não sei se a presidente Dilma Rousseff, após uma entrevista de comadres na Veja e dos paparicos concedidos pela grande mídia, está disposta a topar confusão a essas alturas do campeonato. Dilma não apanha no dito PIG: o alvo é Lula, sempre. Dilma é material diferente, pregam os mass media… Diferentemente de Collor, que apanhou muito e agora tentou uma vingança por via da convocação de um jornalista da revista da editora Abril para depor na CPI do Cachoeira. Dilma não tem do que reclamar da grande imprensa, a verdade é essa.
O dito PIG, Partido da Imprensa Golpista, não é mais o mesmo de antigamente. Não deve haver qualquer interesse do governo em comprar briga com a imprensa a essas alturas do campeonato. A morte da Veja,revista que não leio e da qual não gosto, ainda não passa de mero desejo da nova imprensa que começa a triunfar na internet. A necessária regulamentação da mídia ficará para um outro momento, ao que tudo indica.
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[Lucas Costa é funcionário público, Recife, PE]